Guterres pede novo cessar-fogo e o fim da ‘desumanização’ em Gaza

MSF diz que cerco das autoridades israelenses completa um mês, com esgotamento de suprimentos médicos

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António Guterres (Foto: Eskinder Debebe/ONU)
António Guterres (Foto: Eskinder Debebe/ONU)

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu nesta terça-feira “o fim da desumanização” na Faixa de Gaza e a renovação do cessar-fogo para proteger os civis, garantir a entrega de ajuda humanitária e libertar os reféns mantidos no enclave palestino.

“O caminho atual é um beco sem saída, totalmente intolerável aos olhos do direito internacional e da história, e o risco de que a Cisjordânia ocupada se transforme em outra Gaza torna tudo ainda pior”, disse ele, falando a repórteres em Nova Iorque.

Guterres disse que o cessar-fogo entre as partes acordado em janeiro não apenas “silenciou as armas”, mas também interrompeu os saques em Gaza e pôs fim aos obstáculos à entrega de ajuda. Agora, no entanto, nenhum suprimento está entrando no enclave há “mais de um mês”.

“Com a escassez de ajuda, as comportas do horror se abriram novamente. Gaza é um campo de extermínio, e os civis estão vivendo em um círculo vicioso de morte”, disse ele, acrescentando que Israel tem “obrigações inequívocas” como “potência ocupante” para “garantir o fornecimento” de alimentos e suprimentos médicos para a população de Gaza.

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Guterres disse que as agências da ONU “estão prontas” para fazer seu trabalho, mas os “novos mecanismos de autorização” promovidos por Israel “correm o risco de limitar a ajuda até a última caloria ou grão de farinha”.

“Não participaremos de nenhum acordo que não respeite totalmente os princípios humanitários: humanidade, imparcialidade, independência e neutralidade. O acesso humanitário irrestrito deve ser garantido e os trabalhadores devem ser protegidos de acordo com o direito internacional”, disse ele.

O secretário-geral disse que era essencial “respeitar a inviolabilidade” das instalações da ONU. “Peço novamente uma investigação sobre as mortes do pessoal humanitário, incluindo o pessoal da ONU”, acrescentou.

“Devemos nos manter firmes em nossos princípios fundamentais. Os Estados membros da ONU devem cumprir suas obrigações de acordo com o direito internacional. E deve haver justiça e responsabilidade quando eles não o fizerem.

Suas observações foram feitas depois que ele se reuniu com parentes de reféns mantidos pelo Hamas no dia anterior.

“Condenei o Hamas pelo sequestro brutal e pelo tratamento terrível dado a eles”, disse ele nas mídias sociais, reiterando seu apelo pela libertação dos reféns.

Já a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta que após um mês do cerco imposto pelas autoridades israelenses em Gaza, alguns medicamentos essenciais estão em falta ou se esgotando, deixando os palestinos em risco de perder cuidados de saúde vitais.

“Enquanto as forças israelenses continuam a bombardear a Faixa de Gaza, as pessoas são privadas de itens básicos, incluindo alimentos, água e medicamentos, o que pode levar a um grande número de complicações de saúde e mortes. MSF pedem às autoridades israelenses que cessem imediatamente a punição coletiva dos palestinos, acabem com o cerco desumano a Gaza e assumam suas responsabilidades como potência ocupante para facilitar a entrada de ajuda humanitária em escala suficiente”, diz a entidade.

Há mais de um mês, nenhuma ajuda humanitária ou caminhão comercial entra em Gaza, marcando o período mais longo desde o início da guerra sem que nenhum suprimento tenha entrado na região. Em 2 de março, as autoridades israelenses impuseram um cerco completo a Gaza e, em 9 de março, cortaram a eletricidade necessária para fazer funcionar as usinas de dessalinização de água. Esse bloqueio total de ajuda e eletricidade privou as pessoas da maior parte dos serviços básicos, o que equivale a uma punição coletiva.

“As autoridades israelenses condenaram as pessoas de Gaza a um sofrimento insuportável com seu cerco mortal”, diz Myriam Laaroussi, coordenadora de Emergência dos MSF em Gaza. “Esta imposição deliberada de danos às pessoas é como uma morte lenta, e deve terminar imediatamente.”

O cerco forçou as equipes dos Médicos Sem Fronteiras a começar a racionar medicamentos como analgésicos, fornecer tratamento menos eficaz ou recusar pacientes. As equipes também estão ficando sem suprimentos cirúrgicos, como anestésicos, antibióticos pediátricos e medicamentos para condições crônicas como epilepsia, hipertensão e diabetes. Como resultado do racionamento, nossas equipes em algumas clínicas de atenção primária à saúde são obrigadas a realizar curativos nas pessoas feridas sem fornecer nenhum alívio da dor. Além disso, as equipes de MSF não podem mais doar bolsas de sangue para o hospital de Nasser devido à falta de estoque, ainda que o influxo de pacientes feridos na guerra continue.

“O bloqueio aos suprimentos deixou as equipes de MSF incapazes de fornecer medicamentos para tratar as doenças de pele, somente com pequenas quantidades de loção para aliviar a dor. Condições cutâneas como a sarna requerem tratamento para toda a família, para evitar a propagação e reinfecção, mas sem medicamentos e água limpa isso é impossível.”

Com informações da Europa Press

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