O Papa dos Trabalhadores?

Americano Robert Francis Prevost é eleito o 267º papa da Igreja Católica e se chamará Leão XIV; Lula parabeniza

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Cardeal Robert Prevost, Papa Leão XIV, na primeira aparição na sacada da Basílica de São Pedro, no Vaticano
Cardeal Robert Prevost, Papa Leão XIV (foto de Stefano Spaziani, Europa Press)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimentou o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, eleito nesta quinta-feira, no Vaticano, como o 267º papa da Igreja Católica. “Desejo que ele dê continuidade ao legado do papa Francisco, que teve como principais virtudes a busca incessante pela paz e pela justiça social, a defesa do meio ambiente, o diálogo com todos os povos e todas as religiões, e o respeito à diversidade dos seres humanos”, escreveu Lula.

Prevost, que também tem cidadania peruana, onde exerceu boa parte de sua missão sacerdotal, sucede Francisco, falecido em 21 de abril. As atenções se voltam para o rumo do papado. O nome escolhido pelo novo pontífice é Leão XIV.

“O que há em um nome? Quando se trata de um papa – tudo”, analisa Catherine Pepinster, ex-editora da The Tablet, em artigo puyblicado pelo jornal britânico The Guardian. “Se Donald Trump e seu vice-presidente católico convertido, JD Vance, estão prontos para comemorar, então deveriam reconsiderar. O Cardeal Robert Prevost escolheu o nome Leão XIV – e se você é um Leão papal, tende a ser um reformador da extremidade progressista do catolicismo”, prossegue Pepinster.

Leão XIII marcou época com a encíclica de 1891 Rerum Novarum, na qual delineou condições de trabalho seguras e direitos dos trabalhadores a um salário justo e de pertencerem a sindicatos. “Se o Papa Francisco foi o Papa do Povo, então Leão XIV está pronto para ser o Papa dos Trabalhadores”, destacou Pepinster.

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A última mensagem do agora Papa na rede X/Twitter foi a repostagem de um trecho que critica a política de deportações de Trump: “Enquanto Trump e Bukele usam o Oval para criticar a deportação ilícita de um residente americano pelo governo federal (https://bit.ly/3ROMjnP), ele próprio um salvadorenho sem documentos, agora em DC, Aux +Evelio pergunta: “Você não vê o sofrimento? Sua consciência não está perturbada? Como você consegue ficar quieto?”

“Não precisamos de guerras, ódio e intolerância. Precisamos de mais solidariedade e mais humanismo. Precisamos de amor ao próximo, que é a base dos ensinamentos de Cristo. Que o papa Leão XIV nos abençoe e nos inspire na busca permanente pela construção de um mundo melhor e mais justo”, acrescentou o presidente brasileiro, que cumpre agenda internacional em Moscou.

O anúncio de Robert Francis Prevost aconteceu pouco mais de uma hora depois que a fumaça branca surgiu, no início da tarde desta quinta-feira, da chaminé instalada sobre a Capela Sistina, sinalizando que os 133 cardeais reunidos haviam chegado a um consenso.

A escolha do novo papa se deu após a terceira votação do dia e a quarta votação geral, iniciada na quarta-feira. A fumaça branca colocou a multidão reunida na Praça de São Pedro em êxtase.

Segundo o Vaticano, após a aparição de Robert Francis Prevost na janela da Basílica de São Pedro, ele retorna à Capela Sistina, onde inicia-se uma breve cerimônia, introduzida pela saudação do cardeal mais antigo da Ordem dos Bispos.

O cardeal-sacerdote mais antigo lê então uma passagem do Evangelho, que pode ser “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” ou “Apascenta as minhas ovelhas”. O protodiácono, em seguida, oferece uma oração pelo papa recém-eleito.

Logo depois, todos os cardeais eleitores, em ordem de precedência, aproximam-se para saudar o novo pontífice e jurar-lhe obediência. A cerimônia termina com o canto do Te Deum, conduzido pelo próprio papa recém-eleito.

Nos EUA, presidente Donald Trump felicitou o cardeal Robert Prevost por sua eleição como novo papa, uma emoção e uma grande honra que também se estende a todo o país, já que ele é o primeiro americano a ocupar o cargo.

“É uma honra que ele seja o primeiro papa americano”, disse Trump, que espera poder se encontrar com o chamado Leão XVI em um futuro próximo. “Será um momento muito significativo”, enfatizou em uma mensagem em sua conta no Truth Social.

“A paz esteja convosco”. Foi com essas palavras que o recém-eleito papa, iniciou seu primeiro discurso, na janela central da Capela Sistina.

“Ajudem-nos a construir pontes vocês também, com diálogos, com encontro, para sermos um único povo, sempre em paz. Obrigado, papa Francisco”

“Ainda mantemos, nos nossos ouvidos, aquela voz fraca, mas sempre corajosa, do papa Francisco, que abençoava Roma”, disse.

“Permitam-me dar seguimento àquela mesma benção. Deus nos ama, Deus ama a todos e o mal não vai prevalecer. Estamos todos nas mãos de Deus. Juntos, sem medo, de mãos dadas com Deus, que está entre nós, vamos seguir”, completou.

Em seguida, Leão XIV fez um agradecimento a todos os 133 cardeais que participaram do conclave que o elegeu “para ser o sucessor de Pedro e caminhar com vocês, como Igreja unida, sempre em busca da paz e da justiça, buscando trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo, para proclamar o Evangelho e sermos missionários”.

“Sou um filho de santo Agostinho. Sou agostiniano. Santo Agostinho disse: ‘Para vós, sou bispo; convosco, sou cristão’. Neste sentido, podemos todos caminhar juntos, na direção da pátria que Deus não preparou”, disse. “Necessitamos ser, juntos, uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes e diálogos. Que mantém o diálogo sempre aberto, pronta para receber todos que precisam.”

Em meio ao discurso, Leão XIV deixou de falar italiano e falou à multidão reunida na Praça de São Pedro em espanhol, para agradecer à diocese peruana de Chiclayo, onde foi administrador apostólico. “Povo leal e fiel, que acompanha o bispo e o ajuda”, destacou.

De acordo com o Vaticano, Prevot é o primeiro papa agostiniano.

O lema episcopal do novo pontífice é In Illo uno unum (Em um só nós somos um), palavras que Santo Agostinho pronunciou em um sermão, a exposição sobre o Salmo 127, para explicar que, “embora nós, cristãos, sejamos muitos, no único Cristo, somos um”.

Durante a última hospitalização de Francisco, o novo papa presidiu o rosário pela saúde de seu antecessor, no dia 3 de março, na Praça de São Pedro.

Robert Francis Prevost nasceu em 14 de setembro de 1955 em Chicago, no estado norte-americano de Illinois. Ele é filho de Louis Marius Prevost, de ascendência francesa e italiana, e de Mildred Martínez, de ascendência espanhola, e tem dois irmãos, Louis Martín e John Joseph.

Em 1977,Prevost ingressou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho, na província de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Saint Louis. Fez sua primeira profissão em 2 de setembro de 1978 e, em 29 de agosto de 1981, emitiu seus votos solenes.

Estudou na Catholic Theological Union, em Chicago, onde se formou em teologia. Aos 27 anos, foi enviado por seus superiores a Roma para estudar direito canônico na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino. Recebeu sua ordenação sacerdotal em 19 de junho de 1982.

Prevost obteve sua licenciatura em 1984 e, no ano seguinte, foi enviado para trabalhar em missão na cidade de Chulucanas, em Piura, Peru, de 1985 a 1986. Em 1987, concluiu seu doutorado com a tese “O papel do prior local na Ordem de Santo Agostinho”. No mesmo ano, foi eleito diretor de vocações e diretor das missões da província agostiniana Mãe do Bom Conselho de Olympia Fields, Illinois.

Em 1988, foi enviado em missão à Trujillo, também no Peru, como diretor do projeto de formação conjunta para aspirantes agostinianos nos vicariatos de Chulucanas, Iquitos e Apurímac. Lá, atuou como prior da comunidade (1988-1992), diretor de formação (1988-1998) e professor dos que professam (1992-1998).

Também na Arquidiocese de Trujillo, foi vigário judicial (1989-1998) e professor de direito canônico, patrístico e moral no Seminário Maior San Carlos e San Marcelo.

Em 1999, foi eleito prior provincial da Província Agostiniana “Mãe do Bom Conselho” de Chicago, e dois anos e meio depois, no Capítulo Geral Ordinário da Ordem de Santo Agostinho, seus coirmãos o escolheram como prior geral, confirmando-o em 2007 para um segundo mandato.

Em outubro de 2013, retornou à sua província agostiniana, em Chicago, e foi diretor de formação no convento de Santo Agostinho, além de primeiro conselheiro e vigário provincial, cargos que ocupou até que o então papa Francisco o nomeasse, em 3 de novembro de 2014, administrador apostólico da diocese peruana de Chiclayo, elevando-o à dignidade episcopal como bispo titular de Sufar.

Prevost entrou na diocese em 7 de novembro, na presença do núncio apostólico James Patrick Green, que o ordenou bispo pouco mais de um mês depois, em 12 de dezembro. Em 26 de setembro de 2015, foi nomeado bispo de Chiclayo pelo pontífice argentino e, em março de 2018, foi eleito segundo vice-presidente da Conferência Episcopal Peruana, na qual também foi membro do Conselho Econômico e presidente da Comissão de Cultura e Educação.

Em 2019, novamente por decisão de Francisco, foi incluído entre os membros da Congregação para o Clero em 13 de julho de 2019 e, no ano seguinte, entre os membros da Congregação para os Bispos. Em abril de 2020, recebeu a nomeação pontifícia também como administrador apostólico da diocese peruana de Callao.

Em 30 de janeiro de 2023, Francisco chamou Prevost a Roma para atuar como prefeito do Dicastério para os Bispos e Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, promovendo-o a arcebispo. Em setembro do mesmo ano, o tornou cardeal, atribuindo-lhe o diaconato de Santa Mônica.

Prevost tomou posse em 28 de janeiro de 2024 e, como chefe do dicastério, participou das últimas viagens apostólicas de Francisco e da primeira e segunda sessões da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, realizadas em Roma de 4 a 29 de outubro de 2023 e de 2 a 27 de outubro de 2024, respectivamente.

Finalmente, em 6 de fevereiro deste ano, Prevost foi promovido à ordem dos bispos pelo pontífice argentino, obtendo o título de Igreja Suburbicária de Albano.

Matéria atualizada às 16h10, com fala e mais dados sobre o papa, às 17h19, com a declaração de Lula, e às 18h29, para inclusão de análise sobre o futuro papado

Com informações da Agência Brasil e da Europa Press

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