Haddad conversará com papa Francisco sobre taxação de super-ricos

Para especialista, 'nos países do G20, onde nasceu isso, só 8% de taxação vem de super-ricos: o rico continua sendo menos taxado, e o pobre, cada vez mais'

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Fernando Haddad em reunião do FMI em Washington em que propôs tributar super-ricos (Foto: G20)
Fernando Haddad em reunião do FMI em Washington em que propôs tributar super-ricos (Foto: G20)

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pretende buscar um apoio de peso na proposta do Brasil de taxar os super-ricos. Nesta terça-feira, ele chega a Roma, onde conversará com o papa Francisco sobre a proposta apresentada pelo Brasil, que ocupa a Presidência do G20 em fevereiro.

Além da audiência com o papa Francisco, Haddad participará da conferência Enfrentando a Crise da Dívida no Sul Global, co-organizada pela Universidade de Columbia e pela Pontifícia Academia de Ciências Sociais, ligada ao Vaticano.

Na audiência com o papa, Haddad apresentará os avanços da presidência brasileira do G20, com destaque para a taxação de grandes fortunas, a luta contra a crise climática, a tragédia climática no Rio Grande do Sul e a crise da dívida dos países do sul global. O ministro também pretende debater uma posição coordenada entre o Brasil e o Vaticano em relação à Cúpula do G7, que ocorrerá em Fasano, na Itália, de 13 a 15 de junho.

Um dos temas prioritários na trilha financeira do G20, a taxação de até 2% dos rendimentos das maiores fortunas do planeta é vista como oportunidade de reduzir a desigualdade social e combater os efeitos das mudanças climáticas. Recentemente, Haddad disse que a proposta está ganhando a adesão de diversos países e que pode entrar como recomendação das reformas propostas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

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Na embaixada brasileira em Roma, Haddad terá reunião bilateral com o ministro da Economia da Espanha, Carlos Cuerpo. No encontro, os dois debaterão oportunidades de cooperação em áreas de interesse mútuo. A Espanha apoia a proposta de taxação dos super-ricos, assim como França, Bélgica, Colômbia e União Africana. Os EUA, no entanto, reconhecem a necessidade de alguma medida de redução da desigualdade global, mas rejeitam, até agora, a proposta.

Para Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, “esse projeto do Haddad é um projeto de longa data; então vale lembrar que desde 2021 se fala em taxar os super-ricos, e em taxar as empresas globais, justamente para tentar de certa forma diminuir a desigualdade, porque se você pegar os países do G20, que é onde nasceu toda essa conversa, somente 8% de taxação vem de super-ricos dos países do G20, enquanto 36% da arrecadação vem de taxação sobre serviços, ou seja é essa taxação que acaba sendo ruim para classe mais pobre. O rico continua sendo menos taxado, e o pobre, cada vez mais taxado, por isso surgiu esse projeto que sempre foi para diminuir a desigualdade de 1% mais rico paga menos do que os 99% mais pobre. A ideia principal é diminuir essa desigualdade só que o mesmo passo não é unânime, e muita gente não confia em fazer essa movimentação, então é uma coisa que a gente tem que acompanhar e entender até onde seria viável para o Brasil, até porque muitos países, incluindo países do G20, não aderem isso, e digamos que caso o Brasil venha a aderir isso, muita gente vai tirar esse dinheiro daqui e colocar em países que não aderem esse imposto global, e isso faz com que o fluxo do dinheiro vá para fora do Brasil, o famoso ‘fly to quality’. Essa é uma uma discussão muito ampla, mesmo sendo voltada para ajudar nessa questão climática global, mas infelizmente, não se tem um plano muito claro para onde iria ser direcionado esse capital, se vai para o fundo amazônia, e quais outros meios poderia acontecer. É algo muito embrionário apesar de se discutir há muito tempo, claro que é um projeto ambicioso, mas muito difícil de ser colocado em prática.”

Já segundo André Colares, sócio da Smart House Investments, “a proposta de taxação internacional dos super-ricos, defendida pelo ministro, apresenta um caminho potencialmente promissor para financiar iniciativas de mitigação das mudanças climáticas e reduzir a desigualdade social. No entanto, a resistência de grandes economias como os EUA, representa um desafio significativo para a implementação eficaz dessa política. O Brasil, posicionado como um ‘laboratório’ global para soluções de desigualdade, pode liderar pelo exemplo, demonstrando como integrar políticas fiscais com sustentabilidade ambiental. A alocação da receita gerada para setores estratégicos como energia renovável e infraestrutura verde pode não apenas promover um desenvolvimento mais sustentável, mas também fortalecer a competitividade econômica do país no cenário global.”

Na conferência sobre a crise da dívida em países pobres, Haddad ressaltará o compromisso do Brasil com a busca de soluções para os desafios econômicos enfrentados por países em desenvolvimento. Segundo o Fundo Monetário Internacional, dos 68 países de menor renda, nove não conseguem pagar a dívida externa e 51 estão com risco moderado ou alto de entrar em moratória.

De acordo com a Organização das Nações Unidas, 19 países em desenvolvimento gastam mais em juros da dívida pública do que com educação e 45 mais do que com a saúde. Conforme a Pontifícia Academia de Ciências Sociais, o problema piorou após a pandemia de Covid-19.

Com informações da Agência Brasil

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Internacional | Dinheiro
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