O hedge cambial é uma forma de proteger eventuais exposições às oscilações bruscas decorrentes de uma determinada moeda que, em geral, ocorrem no dólar – moeda mundialmente aceita nos mercados internacionais, motivo pelo qual muitas empresas recorrem a esta medida.
A operação visa única e exclusivamente proteger o valor das transações em moeda estrangeira e minimizar os riscos, dando maior estabilidade nos resultados das operações envolvendo moedas internacionais, evitando que seus resultados possam vir a impactar de forma significativa suas operações e, por consequência, suas demonstrações financeiras, em especial seu lucro líquido.
Assim, o hedge cambial “protege” o resultado financeiro decorrente de variações significativas da moeda estrangeira, permitindo a estabilização da lucratividade da companhia, principalmente àquelas com exposição significativa em moeda estrangeira.
Importante ressaltar que uma análise aprofundada sobre a real necessidade de se fazer o hedge é extremamente necessária, principalmente sobre os aspectos financeiros e contábeis, uma vez que cada empresa possui suas características e objetivos específicos, o que torna essencial a avaliação individualizada dos riscos e benefícios antes da implementação.
Uma vez aprofundadas essas análises, a conclusão pode ser que seja necessária a realização do hedge, sendo importante ter em mente que, mesmo sendo uma poderosa ferramenta para mitigar o risco cambial, o hedge precisa ser utilizado de forma transparente, responsável e em conformidade com as normas contábeis, sendo necessário seus respectivos registros e adequada apresentação nas demonstrações financeiras das companhias que tomaram esta decisão, a de realizar o hedge.
É fundamental garantir o total cumprimento das normas contábeis, as quais definem os critérios para o reconhecimento, mensuração e divulgação em suas demonstrações financeiras. Não divulgá-las de forma adequada e transparente significa apresentar demonstrações financeiras inadequadas, sem conseguir dar a devida clareza das operações e riscos a que estão sujeitas as empresas que praticaram o hedge, podendo colocar em risco a tomada de decisão de seus usuários e incorrer até mesmo em sanções legais.
A ideia lógica do hedge é impedir que variações cambiais tragam impactos para as empresas envolvidas em operações cambiais, sejam elas ativas ou passivas. Na prática, a ideia é “congelar” o valor do dólar para a empresa em um nível predeterminado, garantindo, assim, previsibilidade no fluxo de caixa. Isso facilita o planejamento financeiro, especialmente para importadores e exportadores. Desta forma, caso a moeda estrangeira tenha oscilações significativas, automaticamente haverá “proteção” contra essa variação, uma vez que as moedas contratadas poderão estar “travadas”, evitando, assim, prejuízos que não são decorrentes do negócio da empresa em si, mas de fatores externos.
Com isso, as decisões estratégicas, como investimentos e expansão, por exemplo, não sofrerão os impactos de eventuais oscilações. Também ficará clara a gestão de risco cambial eficiente, aumentando a confiança de investidores e parceiros, facilitando o acesso a capital e oportunidades de negócios.
Dada sua complexidade, sua realização exige conhecimento especializado, evitando que essa decisão seja ineficaz, pois o erro poderá levar a um custo inesperado e indesejado para a companhia.
Há um leque de opções para se fazer o hedge cambial, cada uma com suas características e vantagens. As opções de câmbio concedem flexibilidade na compra ou venda de moeda estrangeira a um preço predeterminado no futuro, enquanto os futuros garantem a liquidação automática da operação em uma data específica. Já os forwards são contratos personalizados entre duas partes, definindo taxa e data de entrega da moeda.
Há ainda os swaps, que combinam diferentes fluxos de caixa em diferentes moedas, permitindo a troca de taxas de juros e a gestão de riscos complexos. Por fim, as operações com derivativos não padronizados oferecem soluções sob medida para necessidades específicas, como swaps de commodities com componente cambial.
Assim, a melhor escolha dependerá da análise precisa dos riscos, sendo crucial para determinar a melhor estratégia, considerar fatores como volatilidade, exposição ao risco, perfil de risco da empresa e objetivos estratégicos.
Por isso, é importante fazer simulações de cenários e análises que permitam testar diferentes hipóteses e avaliar o impacto do hedge cambial nos resultados da empresa. Importante lembrar que o hedge cambial tem custos. As empresas precisam arcar com o custo dos contratos futuros, que pode ser significativo, especialmente se a operação não se concretizar. Portanto, análises realistas e transparência são os dois fatores primordiais antes de optar por uma operação de hedge.
Precaver sempre será o melhor caminho. Assim, esperar a crise cambial se intensificar para realizar uma operação de hedge pode ser tarde demais. Os custos serão maiores, mas, o mais importante, a eficácia pode ser comprometida, uma vez que a empresa estará mais vulnerável aos impactos negativos da desvalorização da moeda nacional.
Por isso, é fundamental se antecipar aos possíveis riscos e agir com antecedência, monitorando constante e tempestivamente a exposição cambial e suas previsões, analisando seus impactos potenciais para o negócio e, especialmente, buscando orientação profissional para implementar uma estratégia de hedge adequada. Estas são medidas essenciais para diminuir custos e amplificar a eficiência de operações como esta.
Uma atuação baseada em hedge é estratégica. No entanto, como já mencionado, deve ser transparente e ser feita com base em análises aprofundadas, sendo importante ressaltar que o hedge cambial não é uma solução mágica, mas uma ferramenta que, caso utilizada de forma inteligente e preventiva, pode servir como um escudo para a saúde financeira de uma empresa.
Paulo Barbosa é sócio-líder da BDO para instituições financeiras.