O dólar dá aos Estados Unidos uma vantagem imensa: eles podem imprimir sua própria moeda para pagar dívidas e financiar guerras, algo que nenhum outro país consegue. “Sem essa hegemonia, os Estados Unidos não vão conseguir financiar sua dívida de mais de US$ 30 trilhões”, comenta, em artigo, Emanuel Pessoa, advogado, doutor em Direito Econômico pela USP e professor da China Foreign Affairs University. Uma nova moeda global coloca o dólar em xeque e motiva reação raivosa do presidente eleito Donald Trump.
Os países que compõem o Brics estão avançando, pouco a pouco, em alternativas ao dólar nas trocas comerciais. “Se o dólar cair, o mundo nunca mais seria o mesmo. Mas os países do Brics conseguem mesmo substituir o dólar? É bem difícil”, analisa Pessoa.
Mesmo diante das dificuldades, “essa movimentação é um sinal de que a hegemonia do dólar pode estar sendo questionada como nunca antes. E a ameaça de Trump [de taxar em 100% as importações dos Brics] mostra que a preocupação é real”, reforça o advogado.
A ameaça não deve ser minimizada, mas a experiência mostra que pode ser um tiro no pé. Paul Gallagher, na EIR, relata que a perspectiva de que a taxa de 100% fará com que as empresas que agora produzem no exterior retornem ou se mudem para a América, causando um renascimento da manufatura norte-americana, é, no mínimo, exagerada.
“As tarifas do primeiro mandato de Trump sobre a China, Canadá e Europa foram todas continuadas ou aumentadas pelo governo Biden e, portanto, estiveram em vigor durante a maior parte das duas administrações e não tiveram esse efeito. Do final de 2016, na época da primeira posse de Trump, até o final de 2024, o emprego na indústria nos Estados Unidos cresceu em cerca de 335 mil, ou apenas 3,5 mil empregos na indústria por mês, em média, durante esses anos, de acordo com números não ajustados do Bureau of Labor Statistics. Esses 330 mil são apenas 4% do crescimento – cerca de 8 milhões – na força de trabalho americana durante esses anos”, explica Gallagher.
Empresas que poderiam transferir sua produção para os EUA enfrentarão tarifas sobre os insumos importados necessários para a produção, lembrando que, além de matérias-primas, as cadeias manufatureiras são globais, e, em sua maior parte, estão nos países dos Brics, notadamente, na China.
“Confrontadas com tarifas como essas, elas têm mais probabilidade de transferir suas exportações para outros países (e/ou fazer de outros países bases para suas exportações para a América), como os produtores chineses de bens de capital fizeram em eletrônicos, automóveis, tecnologias de energia etc.; e como a Rússia e a Índia fizeram quando foram bloqueadas do comércio petroquímico com os Estados Unidos e a Europa por sanções”, explica Gallagher.
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