Vivemos tempos instáveis e, ao mesmo tempo, de grandes expectativas sobre o ano que vai se iniciar em poucas semanas. Do exterior vem o anúncio de mais um pacote de estímulos fiscais de US$ 1 trilhão pelo Senado norte-americano e o sinal do presidente J. Biden de que, em aproximadamente 100 dias após 20 de janeiro, a situação sanitária na maior nação do planeta já esteja em vias de resolução. Na mesma linha, a economia asiática, liderada pela China, cresce aceleradamente puxando os preços das matérias-primas alimentares, minerais e energéticas. O petróleo já tangencia 50 dólares por barril.
No Brasil, a partir de junho começou a haver uma inegável melhora da atividade produtiva, com o relaxamento progressivo da quarentena, somado ao efeito concreto da transferência de renda, via CEF, de R$ 320 bilhões de reais – 4,3% do PIB. A cobertura de diversos estímulos monetários, creditícios e fiscais revelou-se decisiva para a preservação da renda real e para a rápida recuperação do comércio, indústria e dos indicadores de confiança empresarial. Entretanto, hotéis, viagens, educação, entretenimento e outros serviços ainda estão mais de 10% abaixo do nível pré-pandemia.
Passada essa nova fase aflitiva de volta das infecções pela Covid e mediante um adequado planejamento de vacinação de massa dos trabalhadores brasileiros, a confiança dos agentes econômicos deverá melhorar. Com isso, o indicador de mobilidade social tende a voltar aos padrões normais para o setor de serviços severamente atingido pela pandemia. Embora estejamos com uma renda per capita 12% menor em relação a 2013, para o ano de 2021 as expectativas são de um incremento do PIB na faixa de 3% – uma cifra razoável.
O país pratica juros reais negativos, e isso acelera a demanda por residências para as famílias detentoras de alguma poupança líquida e acesso ao crédito imobiliário. Em paralelo, o crescimento da China tende a beneficiar a exportação de produtos alimentares e toda cadeia produtiva do agronegócio, enquanto a compra de minério de ferro pelo exterior beneficia o setor metal mecânico. Mas atenção: o início do ano deverá ser de fraca atividade produtiva, face ao fim das volumosas transferências de renda governamentais e o alto desemprego de 20 milhões de trabalhadores.
A política de saúde pública passou a ser também uma peça chave de qualquer política econômica no Brasil e no mundo. Se a vacinação tiver início já em janeiro, a vida tende a voltar à normalidade até o meio do ano. Assim sendo superar a pandemia fortalece o ânimo empresarial por investir, comprar equipamentos e contratar força de trabalho.
Ranulfo Vidigal é economista.
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