Reajuste das apostas impede queda maior da prévia da inflação

IPCA-15, prévia da inflação de agosto, fica em -0,14%. Com incorporação do Bônus de Itaipu, energia elétrica residencial caiu 4,93% no mês.

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Conta de energia (foto de Marcello Casal Jr, ABr)
Conta de energia (foto de Marcello Casal Jr, ABr)

O reajuste nos jogos de azar provocou o principal impacto na prévia da inflação de agosto (IPCA-15). As apostas tiveram aumento de 11,45%, vigente desde 9 de julho, levando o grupo Despesas Pessoais a uma alta de 1,09%, a maior variação entre os nove grupos que compõem o índice, provocando um impacto de 0,11 ponto percentual na inflação.

A prévia da inflação caiu 0,14% em agosto, após registrar 0,33% em julho. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado hoje pelo IBGE, foi o menor desde setembro de 2022 (-0,37%) e o primeiro negativo desde julho de 2023 (-0,07%). No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,26% e, em 12 meses, 4,95%, abaixo dos 5,30% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em agosto de 2024, o IPCA-15 foi de 0,19%.

A variação e o impacto negativo mais intensos vieram do grupo Habitação (-1,13% e -0,17 pp), devido à queda na energia elétrica residencial (-4,93%), subitem que exerceu o impacto mais intenso no índice (-0,20 pp). Também registraram quedas em agosto Alimentação e Bebidas (-0,53% e -0,12 pp) e Transportes (-0,47% e -0,10 pp), grupos de maior peso no IPCA-15 juntamente com habitação.

A deflação de 0,14% ficou acima da previsão do mercado financeiro (a média era de -0,20%). “Apesar da deflação no mês, a leitura veio pior que o esperado, sobretudo pelos núcleos de serviços mais elevados, o que não sinaliza um quadro tão positivo para a inflação de médio prazo quanto nas divulgações anteriores”, analisa a equipe da corretora Warren.

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“Nossa maior preocupação está nos núcleos. Serviços subjacentes aceleraram 10 pontos-base [0,1 ponto percentual] em relação ao mês anterior (0,55% vs. 0,45%). Na média móvel trimestral, dessazonalizada e anualizada, observou-se aceleração em serviços subjacentes (5,81% vs. 5,37%), serviços intensivos em trabalho (5,57% vs. 5,35%) e serviços diversos (4,91% vs. 4,63%)”, explica a Warren.

“Em suma, a leitura qualitativa do IPCA-15 de agosto foi negativa para nós, com resultados piores do que projetávamos para a inflação de curto prazo. Embora parte do desvio tenha origem em itens voláteis, a piora dos núcleos, componentes fundamentais para a tomada de decisão do Banco Central, levanta sinal de alerta para próximas divulgações”, avisa a corretora.

“Diante disso, revisamos nossas estimativas para o IPCA de agosto, adicionando +5 pontos-base [0,05 pp] em relação ao valor anterior. Agora projetamos deflação de 0,17% no mês [IPCA pleno] e ajustamos nossas expectativas para 2025 para 4,9%, mantendo 2026 em 4,4%”, projeta a Warren.

Pequena empresa comemora

O anúncio da deflação na prévia da inflação de agosto foi celebrado pelo presidente do Sebrae, Décio Lima, que ressaltou que o indicador mostra que o trabalho integrado, coordenado pelo Governo Federal, está no caminho certo.

“Há muitos desafios, considerando a conjuntura econômica internacional, mas a primeira queda da inflação é uma boa notícia que se soma a outras conquistas recentes, como a geração recorde de empregos e a saída do Brasil do Mapa da Fome”, comentou.

A redução da inflação impacta positivamente nos custos de produção dos pequenos negócios, tornando mais acessíveis os preços de matérias-primas, insumos e serviços. “Inflação baixa incentiva o movimento do grande motor da economia brasileira, que são os pequenos negócios. Isso beneficia toda a população brasileira. As micro e pequenas empresas são responsáveis por mais de 97% do total de empresas e por 70% das vagas de emprego formais geradas no país. Se elas crescem, o Brasil cresce junto”, destaca Décio.

Comunicação também teve queda na prévia da inflação de agosto pelo IBGE

O grupo Comunicação registrou queda (-0,17% e -0,01 pp), e os demais grupos tiveram variações e impactos positivos ou nulo: Despesas Pessoais (1,09% e 0,11 pp); Educação (0,78% e 0,05 pp); Saúde e Cuidados Pessoais (0,64% e 0,09 pp); Vestuário (0,17% e 0,01 pp); e Artigos de Residência (0,03% e 0 p.p.).

Habitação saiu de um aumento de 0,98% em julho para uma queda de 1,13% em agosto. O grupo foi influenciado pela energia elétrica, que recuou 4,93% em agosto, em decorrência da incorporação do Bônus de Itaipu, apesar de estar em vigor a bandeira tarifária vermelha patamar 2, que adiciona R$ 7,87 na conta e luz a cada 100 kWh consumidos. Em julho, vigorava a bandeira tarifária vermelha patamar 1.

A energia sofreu, ainda, uma série de reajustes tarifários: 4,25% em Belém (-6,47%), a partir de 07 de agosto; 13,97% em uma das concessionárias em São Paulo (-0,88%), vigente desde 04 de julho; 1,97% em Curitiba (-6,19%), em vigor desde 24 de junho; 14,19% em uma das concessionárias em Porto Alegre (-8,38%), vigente desde 19 de junho; e redução de 2,16% em uma das concessionárias do Rio de Janeiro (-6,49%) a partir de 17 de junho.

Também em habitação, a taxa de água e esgoto (0,29%) contemplou o reajuste de 4,97%, em Salvador (4,64%), vigente desde 18 de julho. O gás encanado (0,17%) teve reajuste de 6,41% nas tarifas em Curitiba (2,99%) a partir de 1º de agosto e a redução de 1,22% no Rio de Janeiro (-0,57%) desde 1º de agosto.

O grupo alimentação e bebidas (-0,53%) mostrou resultado negativo pelo terceiro mês consecutivo, intensificando a queda em relação aos meses de julho (-0,06%) e junho (-0,02%). A alimentação no domicílio recuou 1,02% em agosto, com destaque para as quedas da manga (-20,99%), da batata-inglesa (-18,77%), da cebola (-13,83%), do tomate (-7,71%), do arroz (-3,12%) e das carnes (-0,94%). Já a alimentação fora do domicílio subiu 0,71% em agosto, em virtude das altas no lanche (1,44%), segundo maior impacto positivo no índice (0,03 p.p.), e na refeição (0,40%).

Transportes saiu de 0,67% em julho para -0,47% em agosto. O resultado foi impulsionado pelas quedas nas passagens aéreas (-2,59%.), no automóvel novo (-1,32%) e na gasolina (-1,14%). No grupamento dos combustíveis (-1,18%), também recuaram o óleo diesel (-0,20%), o gás veicular (-0,25%) e o etanol (-1,98%).

Além disso, refletiram-se no resultado a gratuidade concedida aos domingos e feriados no metrô (0,19%) em Brasília (2,80%), e no ônibus urbano (0,49%), em Brasília (2,80%) e Belém (6,68%), além da redução de tarifa aos domingos e feriados em Curitiba (2,94%). Adicionalmente, o táxi (0,63%) incorpora o reajuste médio de 24,53% nas tarifas em Belém (2,46%), a partir de 12 de agosto, e de 12,37% nas tarifas em São Paulo (1,65%), a partir de 11 de agosto.

Pelo lado das altas, o grupo despesas pessoais acelerou de 0,25% em julho para 1,09% em agosto. Destaca-se o reajuste, vigente desde 9 de julho, nos jogos de azar (11,45%), subitem de maior impacto positivo em agosto (0,05 p.p.).

Em saúde e cuidados pessoais, o índice saiu de 0,21% para 0,64% entre julho e agosto. As maiores contribuições vieram dos itens de higiene pessoal (1,07% e 0,04 p.p.) e do plano de saúde (0,51% e 0,02 p.p.), que reflete a incorporação dos reajustes autorizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Já o grupo educação variou 0,78% em agosto com a incorporação de reajustes nos cursos regulares (0,80%), principalmente por conta dos subitens Ensino Superior (1,24%) e Ensino Fundamental (0,68%). A alta dos cursos diversos (0,93%) foi influenciada pelos cursos de idiomas (1,85%).

Regionalmente, São Paulo (0,13%) foi a única área com variação positiva, por conta das altas dos cursos regulares (1,14%) e da higiene pessoal (1,33%). Já o menor resultado ocorreu em Belém (-0,61%), influenciada pela queda nos preços da energia elétrica (-6,47%) e da gasolina (-2,75%).

Com informações Agência de Notícias IBGE

Matéria atualizada às 15h07 para inclusão do reajuste dos jogos de azar e da análise da Warren e às 17h07 para inclusão de comentários do presidente do Sebrae

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