Um livro nos faz viajar sem sair do lugar. Ele nos transporta para mundos mágicos e nos permite viver inúmeras vidas em uma só. E como dizia o mestre Rubem Alves, “um livro é um brinquedo feito com letras. Ler é brincar”. E muitos ainda não compreenderam como toda a vida de um homem pode ser mudada por um único livro. Ler é fundamental para a melhor compreensão de tudo o que nos cerca, para que horizontes sejam descobertos. Aprender palavras, música e arte, da escritora Idalina Andrade Gonçalves, editado pela Parthenon, é um tesouro precioso, recém-lançado, e digna herança para gerações e nações. Nas suas 131 páginas, a autora apresenta uma reflexão sobre determinado processo de alfabetização: o aprendizado com música; assim como o impacto avaliativo e pedagógicos na escola ligados a essa metodologia.
O texto remete à época em que a autora era professora de pintura em porcelana e tinha, em sua turma, duas alunas com dificuldades auditiva e linguística. A música suave, a pintura, os pincéis foram o elemento fundamental na aproximação professora, alunas e o grupo, gerando um encontro profundo, no aprendizado com arte. As notas musicais, de acordo com Idalina, possuem significantes próprios, que podem facilitar o aprendizado, a memorização, a competência e a criatividade que determinará a eficiência e o sucesso à qual se propôs a fazer em sua delicada pesquisa, favorecendo uma nova forma de avaliação por dispor de informações verbais e neurológicas, em sua proposta de avaliação. Idalina reflete que aprender é entender essa relação durante o processo de diferentes sons e letras na alfabetização, que poderá transformar a escrita em conhecimento para o aluno e avaliação, contando sempre com o olhar analítico; a percepção pedagógica do conhecimento do professor, na avaliação escolar.
Para a autora, torna-se difícil reconstituir todos os processos de raciocínio, compreensão, memorização e aprendizagem, a partir do que foi dito ou apresentado ao aluno, portanto, nem todo o trabalho se traduz em condutas observáveis de interpretação.
O texto do livro é saboroso, e escrito com uma metologia que favorece o entendimento das várias questões abordadas, em linguagem simples, mas, ao mesmo tempo, repleta de conteúdo. O leitor vai percebendo, por exemplo, que a linguagem só desabrocha na linguística comunicativa por estar desenvolvida no conhecimento e na natureza básica experimental em sua primeira fase; portanto, trabalhada em contextos escolares e na própria sociedade.
É sabido que uma das funções primordiais da música é o impacto devido à sua natureza estética indefinida, ou simplesmente sonora. Na realidade, a música é o sol que ilumina a mente, com a suas informações tendo como componente a natureza polissêmica, que poderá descobrir áreas do inconsciente, ainda desconhecidas do ser humano, agregando assim o conhecimento, com o pensamento reflexivo, que irá contribuir com os métodos e categorias de avaliação com as quais a experiência é significativa e prazerosa aumentará os novos conhecimentos. Não há ensino sem pesquisa, e pesquisa sem o valor – conhecimento.
O filósofo Edgar Morin é citado na obra, com uma frase lapidar: “A educação deve ser um despertar para a filosofia, a literatura, a música, para as artes. É isso que preenche a vida. Esse é o seu verdadeiro papel.” E a obra de Idalina vai caminhando pelo aprendizado, pelas palavras, pela música e pela arte, despertando curiosidade no leitor mais atento e grandes descobertas. Como escreve o acadêmico Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de Letras, no prefácio que assina, “Idalina é uma aficionada do aprendizado com arte, em um país onde as carências educacionais são bastante acentuadas. Os nossos números, na educação, não são nada amimadores.” Ele ressalta que a autora fez um curso de Musicoterapia e depois dedicou-se à alfabetização com música, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, além do trabalho sobre avaliação-alfabetização.
Niskier concorda com a escritora na chamada Pedagogia Musical, perfilada na tese da autora de que a música pode ajudar, e muito, na valorização do ensino brasileiro, destacando a intensa originalidade desse livro.
O acadêmico diz que, em um dado momento, na altura da página 77, a professora Idalina lembra um pensamento que ele formulou em seu livro Apocalipse pedagógico, de 2007: “O professor não é mais o único detentor do poder… O papel do professor mudou. Além da preocupação com conteúdos, ele tem por obrigação educar cidadãos capazes de pensar, criticar e construir as suas próprias vidas, numa sociedade cada vez mais complexa.”
Já a médica pediatra, professora da Universidade Federal Fluminense e Presidente da Academia de Medicina do Rio de Janeiro, Selma Dantas Teixeira Sabra, ressalta, na contracapa do livro, que “falar sobre educação infantil é incentivar a música na vida das nossas crianças. O aprendizado torna a chama da infância na alegria do mundo incentivando a arte de pensar, de ouvir, de cantar e de ser capaz de manter a mente aberta para essa sintonia da arte e do conhecimento.”. Ela acrescenta que “a obra de Idalina é maravilhosa, inovadora e incentivadora, deve ser divulgada nas escolas, e bibliotecas massageando o coração e o cérebro de nossas crianças para a música e cultura.”
Lembrando Jorge Luis Borges, “há aqueles que não podem imaginar o mundo sem pássaros; há aqueles que não podem imaginar o mundo sem água; ao que me refere, sou incapaz de imaginar um mundo sem livros”. A obra de Idalina é poética, reveladora e prazerosa, lembra até Stephen King, quando cunhou uma bela frase “livros são uma mágica singularmente portátil.”
Idalina Andrade Gonçalves é portuguesa dos Açores e escolheu o Rio de Janeiro para viver há anos. Tem se revelado não somente uma professora atenta, mas uma educadora-pesquisadora atuante, sempre na construção de novas filosofias educacionais. Além de licenciada em Psicomotricidade e biomedicina, é artista plástica, ensaísta e poeta. Pertence ao Real Gabinete Português de Leitura, à Associação das Jornalistas Escritoras, Rio de Janeiro; membro consultivo do Consulado Geral de Portugal no Rio de Janeiro; além de titular da Academia Luso-Brasileira de Letras; da Academia Brasileira de Literatura e da Sociedade Eça de Queiroz.
Autora de várias obras, dentre elas, Coimbra século XIX, O caminho nos une e Conversas da Diáspora: 50 açorianos pelo Mundo, Idalina, assim como Franz Kafka, acredita que “um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós.”
Os livros não mudam o mundo, mas são capazes de mudar as pessoas, as pessoas mudam o mundo. Daí a importância da leitura de forma permanente, para que, a partir dela e com o conhecimento apreendido, todos, juntos, possamos mudar as pessoas e, consequentemente, construirmos um mundo mais justo, ética, com igualdade social e mais civilizado e plural. Como pregava Monteiro Lobato, o genial escritor de literatura infanto-juvenil, “um país se faz com homens e livros.”
Essa obra da professora Idalina Gonçalves é absolutamente importante para o repensar da educação; para a adoção de um novo aprendizado, ancorado na música e na arte, e, sobretudo, para reflexões sobre o desenvolvimento sensorial das crianças. Revela-se, assim, preponderante para que acadêmicos das licenciaturas, em especial, a leiam e absorvam todo o conhecimento nela apresentado. Trata-se, sem dúvida, de uma leitura primorosa e especial, nos dias em que vivemos – turbulentos e sem respeito aos valores humanos.
Em 1849, Henry David Thoreau, em A desobediência civil, escreveu que “muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro”. Iniciemos, pois, uma nova era na educação das nossas crianças, atentos aos preceitos e convicções escritas e descritas e consideradas pela ilustre escritora Idalina Andrade Gonçalves. Um livro raro e definitivo nesse contexto literário.
Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.