Incerteza fiscal e pandemia impactam a inflação

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Em evento virtual realizado nesta sexta-feira, o presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Roberto Campos Neto, apresentou uma avaliação atualizada da conjuntura econômica internacional e doméstica. Ele reforçou perspectivas para a política monetária brasileira. O evento virtual foi promovido pela XP em parceria com o portal Infomoney, como parte da série especial “Super Lives: 1 ano de pandemia”. Além de Campos Neto, a XP também expressou sua visão sobre a política monetária no Brasil. Em texto postado no site, o economista da XP Rodolfo Margato compartilhou os principais trechos da live..

As economias avançadas (sobretudo os EUA) têm feito massivos estímulos fiscais adicionais aos do ano passado, sustentando projeções cada mais positivas para o crescimento econômico global. A perspectiva de vacinação reforça esta tendência. Neste contexto, os preços internacionais de commodities (agrícolas, metálicas, energéticas) exibem expressiva elevação, pressionando inflação em diversos países e causando certa ‘reprecificação de ativos financeiros’ (especialmente as altas de juros futuros). No caso de muitas economias emergentes, tais como o Brasil, os saltos de endividamento público (decorrentes também da adoção de medidas fiscais expansionistas para o enfrentamento à pandemia) explicam, em grande medida, os níveis mais depreciados de taxa de câmbio”.

Esta combinação entre alta nos preços internacionais das commodities e depreciação cambial vem pressionando a inflação brasileira. Apesar de reconhecer as surpresas altistas com a inflação corrente, o BC mantém a avaliação de que a maior parte deste este movimento é temporário (isto é, não reflete questões estruturais). No que diz respeito à atividade econômica, a autoridade monetária avaliou pouco “melhor do que o esperado” a atividade no final do ano passado e início deste ano, mas projeta uma contração do PIB no primeiro semestre, devido especialmente ao recrudescimento (‘segunda onda’) da pandemia. O prognóstico para o segundo semestre está mais otimista, apoiado por expectativas relativamente favoráveis para vacinação contra a Covid-19. Há projeção de importante aceleração da aplicação de vacinas em maio e junho.

O presidente expôs a visão de que o quadro fiscal doméstico exerce influência significativa sobre as decisões de política monetária. A maior percepção de riscos fiscais no período recente, com destaque ao debate envolvendo o Orçamento público de 2021, pressiona as taxas de juros mais longas, tornando a gestão da dívida pública mais desafiadora. Como contraponto a este quadro de incertezas fiscais, a autoridade monetária destaca os sinais positivos emitidos pela aprovação de algumas medidas estruturais (autonomia do BC; marcos regulatórios; etc.) recentemente. Além disso, a solidez do sistema financeiro (ex: instituições capitalizadas; taxas de inadimplência sob controle; expansão das concessões de crédito; mercados de capitais funcionais) e do balanço de pagamentos brasileiro (ex: ampliação dos saldos comerciais) consistem em pilares de sustentação importantes à economia doméstica.

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O presidente do BCB voltou a reforçar que a normalização da política monetária deverá ser parcial, a menos que aconteça algo muito diferente em relação ao cenário previsto pela autoridade monetária. Ou seja, o ciclo de aumento de juros iniciado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) levaria a taxa Selic para um patamar ainda inferior ao chamado nível neutro (de equilíbrio de longo prazo). O Presidente enfatizou que o resultado do IPCA de março, divulgado hoje abaixo das expectativas de mercado, reforça esta visão.

Visão da XP

O cenário econômico da XP prevê aumento da taxa básica de juros dos atuais 2,75% a.a. para 5,00% a.a. até o final de 2021. Após alguns trimestres de estabilidade, vemos a taxa Selic chegando a 6,50% a.a. no fechamento de 2022, isto é, à nossa estimativa de juro neutro para a economia brasileira. Segundo nossos cálculos, esses movimentos do juro básico permitiriam o cumprimento das metas de inflação em 2022 (3,50% a.a.) e 2023 (3,25% a.a.). Em nossa visão, ainda que o processo de normalização parcial das condições monetárias (e também o já sinalizado aumento da Selic em 0,75 p.p. na próxima reunião do Copom) não seja um processo totalmente certo, este caminho parece ter grande probabilidade de realização.

O risco para este cenário, apontado pelo Presidente do BC e com o qual concordamos, é que o cenário fiscal se deteriore, tornando a tendência da dívida pública brasileira crescente. Neste cenário, a taxa de câmbio tende a voltar a se desvalorizar, pressionando adicionalmente a inflação. Consequentemente, o BC provavelmente abandonaria o plano do ajuste parcial, levando a taxa de juros diretamente para o patamar neutro”, finalizou a XP.

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