Indicação de Galípolo para o Banco Central chega ao Senado

Para analista, 'politização da política monetária pelo PT contrasta com necessidades de controle da inflação para garantir credibilidade do BC'

75
Gabriel Galípolo (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
Gabriel Galípolo (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Chegou ontem ao Senado mensagem de indicação do economista Gabriel Galípolo para presidir o Banco Central (MSF 42/2024). Indicado pelo presidente Lula, ele vai substituir Roberto Campos Neto, que tem mandato até o fim deste ano. Galípolo passará por sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), em data ainda a ser acertada com o governo.

Se aprovado, o nome ainda precisa ser confirmado em votação no Plenário. As votações são secretas e o indicado deve conseguir a maioria dos votos.

Galípolo é o atual diretor de Política Monetária do Banco Central. Ele foi sabatinado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e sua indicação confirmada no Plenário do Senado no início do mês de julho do ano passado. Natural de São Paulo, tem 42 anos e foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda no início da gestão de Fernando Haddad. Ele tem Graduação e Mestrado em Eeconomia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), já atuou como professor universitário (2006 a 2012) e foi presidente do Banco Fator (2017 a 2021).

O economista iniciou a sua carreira pública em 2007, quando José Serra (PSDB) tomou posse como governador de São Paulo. Naquele ano, Galípolo chefiou a Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos. No ano seguinte, ele foi diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento do estado de São Paulo. Galípolo é visto como alguém com competência técnica para fazer a ponte entre o mercado e o governo.

Espaço Publicitáriocnseg

Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, tomou posse em 2019, no início do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante a sua gestão, a lei da autonomia do Banco Central, que teve origem em projeto do senador Plínio Valério (PSDB-AM), entrou em vigor (Lei Complementar 179, de 2021), garantindo mandatos de quatro anos para presidente e diretores do órgão. Já no governo Lula, ele vem recebendo duras críticas pela política monetária, definindo os juros básicos da economia ( taxa Selic) em patamares elevados, o que estaria inviabilizando, de acordo com os seus críticos, entre eles o presidente Lula, a reindustrialização do país e a retomada do crescimento econômico.

Na CCJ do Senado, tramita uma proposta de alteração constitucional que dá autonomia financeira e orçamentária ao BC (PEC 65/2023), que seria transformado em uma empresa pública, com ainda mais independência do Executivo. A PEC tem o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) como primeiro signatário e já recebeu o apoio do senador Plínio, relator na CCJ. Porém, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) já apresentou relatório alternativo (voto em separado) contrário à proposta. Há ainda um projeto, em análise na Câmara dos Deputados (Projeto de Lei Complementar (PLP) 19/2023, que revoga a autonomia do Banco Central. De autoria do deputado Guilherme Boulos (PSoL-SP), a matéria está em análise na Comissão de Finanças e Tributação daquela Casa.

“É provável que, para ganhar credibilidade, Galípolo vote a favor de um aumento na taxa de juros na próxima reunião, alinhando-se com seu discurso”, diz Evandro Buccini, sócio e diretor de Gestão de Crédito e Multimercado da Rio Bravo Investimentos.

Já para Sidney Lima, analista de investimentos da Ouro Preto Investimentos, “o grande desafio é o cenário de inflação elevada, próxima ao teto da meta, que pode demandar uma elevação mais consistente logo à frente na taxa Selic. Enquanto isso, presenciamos um relaxamento monetário pelo Federal Reserve, o que coloca Galípolo em uma posição delicada ao lidar com expectativas de mercado. Vale lembrar que o ambiente político também costuma complicar a situação. A politização da política monetária pelo Governo Federal e pelo PT criou uma expectativa de flexibilização, que contrasta com as necessidades de um controle rigoroso da inflação para garantir a credibilidade do Banco Central. Vejo que esse desafio toma grandes proporções se olharmos pelo histórico recente em que Roberto Campos Neto foi criticado duramente pela manutenção de juros elevados. Galípolo precisará articular suas decisões de maneira que preserve a autonomia do Banco Central e alinhe as expectativas dos agentes econômicos e políticos. Nesse contexto todo, vale lembrar, que a condução da política monetária em momentos de inflação alta tem sido decisiva para manter a estabilidade econômica. E por aqui, a inflação acumulada em 12 meses, registrada em 4,50 reforça a urgência de ações que possam ancorar as expectativas de inflação. Sem dúvida a primeira decisão de política monetária sob sua liderança será observada de perto pelo mercado, se teremos uma vertente coesa e com caráter técnico, mas desde já, o seu posicionamento nas próximas reuniões e votos tendem a impactar consideravelmente as expectativas do mercado.”

Com informações da Agência Senado

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui