Indonésia: ameaça de desagregação

250

A nova aguda crise internacional no horizonte é a rebeldia da Província de Aceh, da Indonésia. Esta província, uma das 3.000 ilhas povoadas que formam a República da Indonésia, está seguindo o caminho do Timor de Oeste, onde o movimento separatista forçou a aceitação por Jacarta de um plebiscito e seu povo se pronunciou sobre o destino político da ilha, alcançando assim sua independência.
Entre as muitas ilhas do imenso arquipélago indonésio, as maiores são Sumatra, Java (onde se encontra a capital da República), Célebes, Bali, Lomboch, parte de Borneo. A ilha de Aceh, que abriga a província agora separatista, habitada por 4,3 milhões de habitantes, quase todos muçulmanos, num comício pró independência realizado no começo deste mês de novembro, reuniu cerca de 1 milhão de pessoas. O governo recém empossado em Jacarta, do líder religioso Wahid, já concordou com o plebiscito, que fatalmente levará à independência, o que caracterizaria mais um desmembramento político e territorial.
A decisão do Presidente Walid descontentou um dos grupos separatistas, o Movimento Aceh Livre, que não aceita a realização do plebiscito, enquanto a outra facção rival, Coalização, ameaça, se o referendo não for realizado até dezembro, iniciar a luta armada contra o Exército da Indonésia. Este caso de rebeldia preocupa profundamente o governo da República, que está visualizando um grave processo separatista em marcha.
A manutenção de um governo unificado nesse enorme arquipélago geograficamente disperso, povoado por mais de 200 milhões de habitantes, falando 200 idiomas e outros tantos dialetos regionais, professando majoritariamente a religião maometana mas também com numerosos budistas e confeccionistas, território rico em recursos e população das mais pobres, tudo isto funciona como uma diáspora centrifuga.
A restruturação do poder político na Ásia, após a derrota dos japoneses na 2ª Guerra Mundial, possibilitou, com o apoio das democracias vencedoras, a criação de um poder centralizado em Jacarta, submetendo as milhares de ilhas, grandes e pequenas, do Sudeste Insular asiático. Dois governos fortes e autoritários se sucederam durante meio século, Sukarno e Suharto, que foi derrubado do poder, o governo provisório e o que foi eleito recentemente, que não está encontrando apoio político para manter a república unida. As rivalidades e antagonismos raciais, religiosos, sociais, contidos por um sistema político militar coeso, agora começam a provocar a desagregação, favorecida por gravíssima crise econômico-financeira.
Novos movimentos separatistas devem brotar seguindo a trilha do Timor e de Aceh.
Carlos de Meira Mattos
General do Exército Reformado e Conselheiro da ESG

Espaço Publicitáriocnseg

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui