
O Inep acaba de divulgar o censo da Educação Superior. Atualmente, existem 9,5 milhões de universitários, um recorde histórico. Uma estatística preocupante revelada é que 1 em cada 5 jovens, entre 18 e 24 anos, não concluiu o ensino médio nem frequenta escola, ou seja, os jovens estão fora da escola. Isso evidencia um desafio em manter os jovens na educação básica e direcioná-los para a educação superior. Ainda assim, 43,4% dos meninos, de 18 a 24 anos, não estão na universidade, mas concluíram o ensino médio. Isso representa um mercado potencial que permite “dobrar a meta” do sistema de ensino superior, viabilizando o acesso.
Outro dado importante é a participação no Enem. Menos da metade dos estudantes que concluíram o ensino médio em 2022 fizeram o Enem, uma ferramenta crucial para o acesso ao ensino superior. Os números de inscrição, embora melhores, ainda estão abaixo dos anos anteriores à pandemia.
Também é preocupante o conceito de vagas ociosas. Pela primeira vez em anos, o Censo resgata esse conceito. A superoferta de vagas de EAD é tão grande que havia deixado de fazer sentido falar daquelas não ocupadas. É excedente o número de vagas em universidades, tanto públicas quanto privadas, que não estão sendo preenchidas. Mesmo cursos tradicionalmente populares, como medicina, não estão conseguindo ocupar todas as vagas. Nesse caso, 5% das vagas já não encontram ocupantes.
Em 2022, houve uma preferência significativa pela modalidade EAD, onde 72% dos alunos aprovados no ensino superior privado escolheram essa modalidade. Esse índice se torna ainda mais impressionante ao observar os cursos de licenciatura, onde 93,2% optaram pelo EAD.
Oitenta e oito por cento das instituições de educação superior no Brasil são particulares, totalizando 2.283 particulares contra 312 públicas. Ao desmembrar as IES públicas, observa-se que 42,6% são estaduais, 38,5% federais e 18,9% municipais. Entretanto, a maior parte das universidades, 56,1%, ainda é pública, enquanto nas IES privadas, o que predomina são as faculdades isoladas, chegando a 79,8%.
Em 2022, havia uma oferta impressionante de 44.951 cursos de graduação. Um detalhe interessante é que somente 3,4% das IES oferecem mais de 100 cursos de graduação, enquanto a grande maioria, 27,8%, oferece até dois cursos. A modalidade presencial ainda é a preferida nas universidades, com 81,8% dos cursos seguindo esse modelo.
Nas instituições, o mestrado é o grau de formação mais comum entre os professores. Além disso, a maioria dos docentes são homens, com idade média de 42 anos.
Em ambas as modalidades de ensino, presencial e a distância, o curso de bacharelado é o mais procurado pelos estudantes. O público feminino domina o ambiente acadêmico, e o turno noturno é o mais concorrido.
Em um panorama geral, 2022 trouxe a oferta de mais de 22,8 milhões de vagas em cursos de graduação. E aqui nota-se a força das instituições privadas: 96,2% dessas vagas foram ofertadas por elas.
Das novas vagas ofertadas, apenas 23,6% foram preenchidas, mostrando um desafio no preenchimento total. A modalidade a distância se destacou, com um crescimento de 25,2% em ingressantes comparado a 2021.
Em 2022, houve quase 9,5 milhões de matrículas na educação superior. Entre 2012 e 2022, houve um aumento total de 33,8%. As instituições privadas dominam o cenário, respondendo por 78% do total de matrículas. Mais de 4 milhões de estudantes optaram pela modalidade a distância em 2022, representando 45,9% do total de matrículas. Essa modalidade tem apresentado um crescimento exponencial, demonstrando a adaptação do setor educacional às demandas contemporâneas.
Ainda no ano passado, o cenário de estudantes concluintes do ensino superior no Brasil passou por algumas transformações significativas: Ao todo, quase 1,3 milhão de estudantes finalizaram seus cursos de graduação. Esta marca é um indicador importante do compromisso continuado dos estudantes brasileiros com a formação superior.
Ao comparar 2021 e 2022, a rede pública apresentou crescimento de 8,9% em termos de concluintes. Por outro lado, a rede privada viu uma redução de -5,3%. Isto pode ser indicativo das transformações socioeconômicas que o país experimentou recentemente. E da ineficiência na gestão universitária, de uma forma geral, para fazer a permanência desses alunos.
Em um panorama de uma década, entre 2012 e 2022, a rede privada registrou uma variação percentual de 29,0% no número de concluintes, enquanto a pública apresentou um modesto aumento de 0,5%.
De forma mais específica, 81,5% dos estudantes que finalizaram seus cursos em 2022 eram da rede privada, com os 18,5% restantes vindo da rede pública.
No que diz respeito à modalidade de ensino, ambas – presencial e a distância – viram uma diminuição em concluintes no último ano, com quedas de -4,6% e -0,3%, respectivamente. No entanto, desde 2016, a educação a distância tem visto uma inclinação positiva no número de concluintes, com uma participação crescente, passando de 19,7% para 37,6%.
Os cursos de bacharelado tiveram uma redução no número de concluintes desde 2019, enquanto os cursos tecnológicos experimentaram crescimento. Se olharmos para a última década, os cursos tecnológicos aumentaram 45,5%, seguidos dos bacharelados com 18,4%, e das licenciaturas com 15%.
A qualidade e a capacidade do corpo docente são centrais para a excelência acadêmica, e em 2022, os números revelam algumas tendências interessantes: O país tinha 362.116 docentes em atividade na educação superior. Em 2015, no pico da década eram 388.004. Na rede privada o número caiu de 222.282 no pico para 185.252 em 2022. Recontratamos. No ápice da pandemia, o número chegou a 194.959.
A divisão entre as redes era quase igual, com 51,2% na rede privada e 48,8% na pública.
Somente a rede privada viu um crescimento no número de professores em todos os regimes de trabalho de 2021 para 2022. Na rede pública, o cenário foi misto, com quedas e crescimento variados.
Quanto à formação, docentes com doutorado continuam em ascensão em ambas as redes, enquanto aqueles com até especialização estão decrescendo em número. Docentes com mestrado mantiveram sua participação praticamente estável.
A rede pública tem visto uma maior expansão de docentes doutores em números absolutos. Contudo, na rede privada, a proporção de doutores em relação ao total de docentes quase duplicou nos últimos dez anos.
Ao observar os regimes de trabalho, nas universidades, 74,2% dos docentes trabalham em tempo integral. A proporção de docentes em tempo integral é mais alta nos Institutos Federais e Cefets, com mais de 97%. Por outro lado, faculdades têm uma distribuição diversa, com 46,5% dos docentes trabalhando em tempo parcial.
No âmbito dos graus acadêmicos, os cursos de licenciatura têm a maior proporção de docentes em tempo integral, com 77,5%. Quase metade dos docentes de cursos tecnológicos trabalha em tempo integral, sendo esse o menor percentual quando comparado a licenciaturas e bacharelados.
Em relação à formação, nos cursos em EaD, embora tenham menos docentes doutores, eles têm uma maior proporção de mestres em comparação aos cursos presenciais.
Esses números são a prova do impacto e da importância das instituições privadas no panorama educacional brasileiro. Ainda há muitos desafios a serem enfrentados, especificamente na retenção de alunos. Esses dados demonstram a complexidade e a diversidade da educação superior no Brasil, com muitos desafios e oportunidades pela frente. Continuar monitorando e interpretando essas tendências é fundamental para o avanço e a melhoria do setor nos próximos anos.
Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.















