Inflação de abril: quadro atual e perspectivas

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Daniel Borges, Fabio Louzada e Marcelo Oliveira (fotos divulgação)
Daniel Borges, Fabio Louzada e Marcelo Oliveira (fotos divulgação)

O IPCA de abril foi 1,06% e ficou 0,56 ponto percentual abaixo da taxa de março (1,62%). Foi a maior variação para um mês de abril desde 1996 (1,26%). No ano, o IPCA acumula alta de 4,29%. Nos últimos 12 meses, alta de 12,13%. Conversamos com três especialistas do mercado financeiro sobre suas avaliações sobre a inflação de abril e suas perspectivas.

 

Daniel Borges, sócio e head regional da Acqua Vero Rio de Janeiro

Daniel Borges (foto divulgação Acqua Vero RJ)

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Em janeiro deste ano, quando o Banco Central, através do relatório Focus, divulgou a primeira previsão de fechamento do IPCA para 2022 em patamares inferiores a 5% anuais, nós já nos atentamos para possíveis distorções do mercado financeiro. Estávamos em um período de insegurança, sem um esclarecimento tácito se estaríamos em pandemia ou pós-pandemia, algo comum devido aos anos anteriores de Covid-19.

Com isso, a expectativa do IPCA seguiu sendo corrigida para cima semana após semana, sendo esta a 16ª semana em ascensão. Isso nos leva a crer que o desencaixe da cadeia produtiva, aliado ao aumento do custo da logística, fizeram com que a inflação dos produtos e serviços do varejo, a que mais afeta o IPCA, tivesse um aumento elevado já em 2022, estando na casa de dois dígitos nos últimos 12 meses.

O IPCA de abril mostra que o mercado, com o advento da guerra Rússia–Ucrânia, sente a manutenção da elevação das taxas de inflação devido às incertezas geopolíticas. Vale ressaltar que nos EUA nós também já vemos uma inflação de dois dígitos nos últimos 12 meses, um feito histórico para a nação americana.

A expectativa de fechamento da curva do IPCA fica para o segundo semestre, pois, com o cenário atual, observamos que mesmo a política contracionista do Banco Central de elevação das taxas de juros, na prática, não está contendo a inflação. Teremos que aguardar as cenas dos próximos capítulos para vermos uma possível redução dos preços e uma diminuição do índice.

 

Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador da Eu Me Banco, escola de educação financeira

Fabio Louzada (foto divulgação Eu Me Banco)

O IPCA de abril era um indicador que poderia segurar a queda do mercado e os juros futuros, mas acabou decepcionando, ficando um pouco acima das expectativas. Acredito que o índice tinha mais potencial de segurar o mercado se viesse abaixo de 0,90%. Com os dados de inflação subindo, o mercado vai seguir com expectativa cada vez mais negativa.

Como os EUA estão subindo seus juros para conter a inflação, isso faz com que todas as economias ao redor tenham que fazer o mesmo. Assim, o Brasil deixa de ser atrativo e o risco/retorno deixa de compensar para investidores estrangeiros com as instabilidades políticas e deterioração fiscal.

Como o cenário ainda é incerto, os investidores têm buscado correr para ativos mais seguros como o dólar, além de enviarem os seus recursos para países mais desenvolvidos. Nesse contexto, o investidor tende a correr de emergentes.

Minha expectativa é que a inflação continue em alta. Como ela não está relacionada tanto à demanda (pessoas comprando mais e pressionando os preços), mas sim aos custos (produtores e empresas com custos maiores), o aumento da taxa de juros tem um efeito limitado, já que atua, principalmente, sobre a demanda, fazendo com que as pessoas consumam menos com a consequente derrubada dos preços.

Por isso que eu ainda acredito que fecharemos 2022 com uma inflação de dois dígitos, mesmo com a atuação do BC. Outro fator são os custos e a dívida brasileira que só cresce, principalmente em ano de eleição. Além disso, o Brasil vai depender muito do cenário exterior. O primeiro passo seria o fim do lockdown na China.

 

Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores

Marcelo Oliveira (foto divulgação Quantzed)

O IPCA veio um pouco pior do que o esperado, pressionado muito por alimentação, bebidas e transporte e muito influenciado pela gasolina. O consenso do mercado era que ele viria por volta de 1%. A curva de juros subiu com o mercado percebendo que o BC deve continuar com o ciclo de alta dos juros, talvez com mais uma alta em agosto, além de junho. A curva deve começar a mostrar a Selic terminando o ano em 13,5%, ou até 14% por causa dessa inflação persistente.

Também tivemos a divulgação dos dados do CPI, a inflação dos EUA. Os dados vieram muito mais fortes do que o esperado. A expectativa para o núcleo era que ele viesse 0,4%, mas ele veio 0,6%. Mesmo com os ruídos em Wall Street de que o número poderia vir melhor, ele veio bem feio. O dado mostra que o Fed tem trabalho duro pela frente. O S&P500 sentiu na hora, e as bolsas começaram a cair, enquanto as taxas de juros americanas começaram a abrir também.

O mercado está vendo que o Fed vai ter que subir juros de forma mais rápida do que era previsto. Isso está fazendo os ativos de risco se reprecificarem. Tivemos China, EUA, Alemanha e Brasil divulgando inflação nesta quarta. Todos os números bem ruins mostrando que esse problema veio para ficar e por enquanto vamos ter que lidar com ele com medidas bem duras.

 

Coordenação: Jorge Priori

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