Inflação disfarçada: o que a reduflação revela sobre a economia brasileira

O fenômeno da reduflação e como a qualidade dos produtos se altera sem impacto nos preços finais Por Raul Kazanowski

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Impostos
Economia (foto Freepik)

Você já reparou como os pacotes dos produtos alimentícios estão diminuindo? Já reparou como a qualidade de muitos produtos que consome vem caindo? Reparou que muitas coisas que antes eram de chocolate passaram a ser “sabor” chocolate? E, pior, reparou como essa redução de quantidade ou queda de qualidade em nada fez diminuir o preço final desses bens?

Isso não é maldade da indústria, tampouco gana por maior lucratividade. Isso é a reduflação. Nunca viu nem comeu e muito menos ouviu falar? Pois eu explico.

A reduflação é o efeito que a inflação dos insumos causa. Isso ocorre porque manter a qualidade do produto com os insumos originais faria o preço final aumentar de tal forma que se tornaria perigoso impactar o número total de vendas. Por isso, as indústrias diminuem o tamanho dos pacotes ou reduzem a qualidade dos produtos e alteram as suas fórmulas, a fim de manter o preço final competitivo diante de um cenário em que a inflação dos insumos é descontrolada.

Consequentemente, um dos efeitos da reduflação é fazer com que a inflação, ou pelo menos o índice que diz medir a inflação, se mantenha sob controle. De fato, os preços aumentam pouco. Mas e a qualidade dos produtos? E a qualidade de vida? Por meio da reduflação, algumas indústrias tentam se manter competitivas em um cenário de inflação dos insumos, fazendo com que as pessoas incorporem menos qualidade ao seu cotidiano.

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Há alguns bens, contudo, nos quais é impossível diminuir a qualidade dos insumos sem comprometer o resultado. Consequentemente, esses são os bens que sempre sobem “acima da inflação”. Você já deve ter lido, por exemplo, que o preço dos carros e dos imóveis sobe “acima da inflação”. Ou que os aluguéis estão sendo reajustados “acima da inflação”. Esses bens ou serviços sofrem esse movimento porque não são suscetíveis (pelo menos não tão facilmente) à reduflação.

Carros e imóveis, por exemplo, bens que transmitem uma sensação de ascensão social, têm valores que crescem muito acima da inflação oficial. Você já pode ter ouvido algo do tipo certa vez: “Na época do meu avô, ele comprou um terreno por R$ 30 mil, agora é dez vezes esse valor”.

E por que estou explicando o que é a reduflação? Para que você tenha mais um motivo para desconfiar dos dados oficiais do governo. Afinal, o índice oficial não mede a qualidade. Ele calcula o preço final dos produtos. Uma barra de chocolate pode ter subido “apenas” 4% (dentro da meta da inflação). Mas ela não é a mesma barra de chocolate se o seu tamanho diminuiu e a sua qualidade caiu.

Portanto, esteja atento ao que o governo faz com o nosso dinheiro. Quanto mais reduflação você perceber, maior é a chance de o governo o estar tratando mal.


Raul Kazanowski, associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e advogado na CKA Advocacia

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