A alta registrada para o segmento de alimentação fora do lar em dezembro, medida pelo IPCA-15, superou a inflação geral, mas ficou abaixo dos 1,47% registrados para alimentos e bebidas e dos 1,56% da alimentação no domicílio. No acumulado de 2024, o setor registrou inflação de 6,09%, enquanto a alimentação no domicílio avançou 8,75% e os alimentos e bebidas fecharam o ano com alta de 8%. Esses números destacam a pressão inflacionária enfrentada por bares e restaurantes.
Pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em novembro mostrou que 32% dos empresários não conseguiram reajustar os preços de seus cardápios nos últimos 12 meses, mesmo com os custos crescentes de insumos como carne, óleo e energia elétrica. Esse cenário reforça os desafios do setor em equilibrar as margens de lucro e a competitividade.
No mês de dezembro, o índice geral de preços foi de 0,34%, com destaque para o grupo de alimentos e bebidas, impulsionado principalmente pela alimentação no domicílio. Apesar de uma alta menor, os reajustes na alimentação fora do lar mostram um esforço para limitar o impacto ao consumidor, ainda que isso aumente a pressão sobre os empresários.
“O impacto da inflação continua significativo, especialmente em itens básicos como os alimentos e bebidas, que compõem uma parte importante dos custos operacionais do setor. Neste contexto, queria destacar a decisão do governo de São Paulo em conter a alíquota de ICMS a 4%, em um momento de forte pressão de custos que passamos. Os estabelecimentos evitam repassar aumentos para o cardápio, por medo de perder clientes, mesmo em um momento de alta na demanda, como é o final do ano. Ainda assim, estimamos que no estado esse aumento de ICMS terá um impacto de 1% a 2% no preço final ao consumidor”, afirma Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.
O IPCA-15, divulgado pelo IBGE, é uma prévia da inflação oficial no Brasil. Ele mede a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços entre os dias 16 do mês anterior e 15 do mês de referência, abrangendo famílias com rendimentos entre um e 40 salários mínimos. Esse índice funciona como um termômetro das pressões inflacionárias antes da divulgação do IPCA oficial, prevista para o início de janeiro.
Além disso, levantamento da Pluxee revela que em 2024 o vale-refeição oferecido pelas empresas chegou, em média, a R$ 22,58 por dia – um total de R$ 496,83 por mês. No entanto, com o custo médio de uma refeição completa chegando a R$ 51,61, o benefício cobre apenas 10 dos 22 dias úteis do mês, obrigando os trabalhadores a arcarem com cerca de R$ 638,59 do próprio bolso para complementar suas refeições. Em maio do mesmo ano, o benefício cobria 11 dias, o que evidencia uma piora no cenário ao longo de 2024.
Em 2019, o benefício era suficiente para cobrir 18 dias do mês. Esse número caiu para 13 dias em 2022 e se estabilizou em 11 dias nos dois anos seguintes. Porém, com a inflação persistente e o aumento constante dos custos de alimentação, 2024 marca uma nova queda, expondo ainda mais os trabalhadores à pressão dos gastos diários com alimentação.
Além do panorama nacional, o levantamento destacou desigualdades significativas entre as regiões brasileiras, refletindo os desafios econômicos e sociais locais: o Nordeste e o Norte registraram os valores diários mais baixos do vale-refeição em 2024, R$ 18,21 (R$ 400,79 no mês) e R$ 18,18 (R$ 400 no mês), respectivamente. Enquanto no Nordeste o custo médio da refeição é de R$ 49,09, no Norte ele chega a R$ 45,41. E o resultado é o mesmo: o benefício dura apenas nove dias, dificultando o acesso à alimentação completa para muitos trabalhadores.
No Centro-Oeste, no segundo semestre de 2024, o valor do benefício (R$ 20,74 por dia) sofreu uma redução de cerca de R$ 90 no crédito mensal em relação ao semestre anterior, registrando o total de R$ 456,41 no mês ao final deste ano. Ainda assim, a região mantém a maior duração média, de 11 dias, devido ao custo médio da refeição (R$ 45,21), que está entre os mais baixos do país.
No Sudeste, apesar de oferecer o crédito diário mais elevado, com R$ 24,39 (R$ 536,79 por mês), o custo médio de uma refeição na região é o mais alto do Brasil, R$ 54,54. Com isso, a duração do benefício permanece limitada a 10 dias, revelando o descompasso entre o valor disponibilizado e os gastos reais.
E no Sul, o benefício diário na região é de R$ 21,43 (R$ 471,52 por mês), o que representa um desequilíbrio significativo em relação ao custo médio da refeição, que ultrapassa o dobro, R$ 48,91. Como resultado, o benefício não cobre todos os dias úteis do mês, atendendo, em média, apenas 10 dias.
Os dados reforçam que, apesar de ajustes localizados, o poder de compra do vale-refeição está em queda, ampliando a desigualdade no acesso à alimentação adequada no ambiente de trabalho.
“A inflação acumulada nos últimos anos tem pressionado o custo das refeições, enquanto os valores dos benefícios oferecidos pelas empresas permanecem praticamente estáveis. Isso cria um descompasso que afeta diretamente o orçamento dos trabalhadores, principalmente nas regiões com maior vulnerabilidade econômica, como o Norte e o Nordeste”, destaca Antônio Alberto Aguiar, diretor-executivo de Estabelecimentos da Pluxee.
Segundo ele, “o impacto da inflação sobre os custos das refeições não é apenas um problema financeiro, mas também um obstáculo à qualidade de vida e ao bem-estar dos trabalhadores. Esse é um ponto de atenção para empresas que buscam fortalecer sua relação com os colaboradores, especialmente em um cenário de retenção de talentos cada vez mais desafiador.”