A inflação ao consumidor dos EUA (CPI) em março acelerou para 3,5% em relação ao ano anterior, depois de ter subido para 3,2% em fevereiro, indicando pressão inflacionária contínua, informou o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos nesta quarta-feira.
O CPI subiu 0,4% em março em relação a fevereiro. O chamado núcleo do CPI, que exclui alimentos e energia, aumentou 3,8% em termos anuais, com alta de 0,4%, tal como aconteceu em janeiro e fevereiro, depois de ter subido 0,3% em dezembro.
Em um evento na Universidade de Stanford, na semana passada, o presidente do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA), Jerome Powell, disse que é demasiado cedo para dizer se as leituras recentes da inflação representam mais do que apenas um aumento. “Não esperamos que seja apropriado reduzir a nossa taxa de juro até termos maior confiança de que a inflação está caindo de forma sustentável para 2%”, disse Powell.
Thomas Monteiro, estrategista-chefe do Investing.com, comentou: “Já tínhamos antecipado que os dados de inflação ao consumidor de março dos EUA (CPI, na sigla em inglês) superariam significativamente as previsões do mercado, devido ao aumento dos preços das commodities nos EUA no mês passado. No entanto, a parte mais preocupante do índice divulgado nesta quarta-feira é que o núcleo também ficou acima das expectativas, sugerindo que as pressões inflacionárias persistem também nos bens de consumo.”
Segundo Monteiro, “isso amplifica os desafios enfrentados pelo Federal Reserve, pois estamos lidando com fatores inflacionários menos voláteis, como custos de produção, cadeia de suprimentos e salários, todos mostrando um aumento considerável. Além disso, esta é a segunda vez consecutiva que o CPI sai acima das expectativas, jogando uma pá de cal sobre a possibilidade de cortes de juros no primeiro semestre”.
“No entanto, não devemos ainda descartar totalmente cortes de juros no segundo semestre. Levando em consideração que o Fed olha diversos fatores além da inflação – como crescimento econômico e mercado de trabalho – os dados ainda não parecem suficientemente ruins para mudar totalmente o plano inicial. Isso posto, as próximas divulgações de inflação certamente se tornam ainda mais importantes uma vez que uma tendência sustentada de alta aumentaria muito a pressão sobre o banco central”, concluiu o estrategista-chefe do Investing.com
O economista Volnei Eyng, CEO da Multiplike, explica que, via de regra, uma economia influencia a outra, então a economia brasileira é influenciada pela norte-americana, e a inflação que se vê nos EUA pode impactar a inflação por aqui. “A inflação brasileira está se dirigindo para o centro da meta, mas o mercado está sempre atento ao que ocorre nos EUA, cuja inflação ainda não foi domada pelo Fed”, disse.
André Colares, CEO da Smart House Investments, afirma que, nos EUA, a projeção de inflação sugere um cenário controlado, porém ainda acima da meta do Fed. Se a inflação nos EUA superar as expectativas, isso pode levar a um aumento nas taxas dos títulos do Tesouro norte-americano, atraindo capital para os EUA e fortalecendo o dólar globalmente.
“Esse cenário tende a pressionar as moedas emergentes, incluindo o real, e pode resultar em ajustes nas políticas monetárias em todo o mundo, à medida que outros bancos centrais buscam equilibrar crescimento e controle inflacionário”, conclui Colares.
Leia também:
Toda commodity do centro do Brasil irá para a Ásia via Corredor Bioceânico
Chineses visitam ferrovias que integrarão o Corredor Bioceânico Brasil-Peru, que ligará à Ásia através do Porto de Chancay
Trump pede saída de Powel do Fed
Por ‘estar atrasado’, ‘se eu quiser ele vai sair rapidinho’
Juiz dos EUA decide que Google monopoliza publicidade digital
Google declarou que recorrerá da decisão e alegou que empresas escolhem sua ferramenta de publicidade digital por ‘ser simples’
Protecionismo dos EUA fortalece o Brics
Ministro da Agricultura expõe força do Brics, que é responsável por 80% da produção de alimentos do mundo em termos de valor
Trump espera chegar a acordo com a UE em menos de 90 dias
Celso Amorim critica negociações bilaterais de Trump e alerta para danos do colapso do sistema multilateral
Banco Central Europeu reduz taxas de juros em 0,25 ponto
Desta vez, o Banco Central Europeu não antecipou novos cortes nos juros, alegando o momento de crescente incerteza