“A integração entre os países permite que eles estejam tão integrados que isso evita um conflito entre eles. E sem uma base econômica de integração, você não pode garantir a paz”, segundo Penildon Silva Filho, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ele foi um dos palestrantes do Tongzhou Global Development Fórum, promovido pela Universidade de Renmin, em Pequim, China, em outubro.
Em entrevista ao Monitor Mercantil, Penildon fala sobre multipolaridade, o tarifaço dos EUA e a dimensão cultural.
O recrudescimento dos EUA sobre os países impondo novas tarifas como chantagem tem amplificado o debate sobre a necessidade de um mundo multipolar. O que seria esta multipolaridade?
A questão da multipolaridade é extremamente importante. Depois que houve a queda do Muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, durante toda a década de 90, início do século 21, os Estados Unidos se colocaram como vencedores de uma disputa anterior da Guerra Fria e apresentaram o capitalismo neoliberal como alternativa econômica universal, prometendo que ele iria trazer desenvolvimento econômico com inclusão social, prosperidade.

E se apresentou também como uma única superpotência capaz de ditar as normas econômicas, militares, e políticas do mundo. E essa é a unipolaridade. Depois de alguns anos, nós vemos que o capitalismo neoliberal não consegue dar resposta aos anseios da humanidade, e que essa unipolaridade dos Estados Unidos só trouxe maior concentração de poder, mais guerras, mais exclusão social.
Agora, a partir da segunda e terceira décadas do século 21, vários países do Sul Global, como Brasil, Rússia, China, Índia, África do Sul, e também Etiópia, Egito, Bolívia, México, se colocam na cena mundial defendendo um novo modelo econômico e defendendo que as decisões políticas e militares não sejam tomadas apenas por uma única potência.
Essa multipolaridade é tão importante para construirmos um mundo com mais paz, com mais desenvolvimento econômico e distribuição de renda, e com sustentabilidade ambiental.
Você tem destacado que essa construção envolve as dimensões da economia e também cultural. Pode explicar?
As dimensões da economia e da cultura são igualmente importantes, por isso é importante que o Sul Global, os Brics, a Organização para a Cooperação de Xangai, estreitem a relação entre as universidades, promovam a integração das suas indústrias culturais, do seu cinema, da sua televisão, da sua internet, da sua produção artística em geral. E isso vai promover uma pluralização nos canais de comunicação, nos canais da cultura, nos canais acadêmicos, dessa produção cultural, dessa produção acadêmica.
Isso é mais rico para a humanidade, isso promove maior interlocução, isso promove maior reconhecimento entre os povos, isso promove maior integração entre os povos.
A multipolaridade e organismos como o Brics e Cooperação de Xangai são a solução para evitar problemas que o mundo enfrenta hoje?
A integração entre os países permite que eles estejam tão integrados que isso evita um conflito entre eles. E sem uma base econômica de integração, você não pode garantir a paz. E a prosperidade econômica garante conforto, garante prosperidade material para as populações, isso garante estabilidade política.
O chamado Sul Global pode garantir isso?
Eu estou otimista com a conformação de um campo político, institucional, geopolítico, que é o Sul Global, que não está querendo instalar novas bases militares em outros países, não quer promover a corrida armamentista, não quer conflitos armados.
Compreende que a melhor solução para os problemas do mundo é o processo de integração econômica, de superação do neocolonialismo, de promoção da prosperidade material para as populações porque as pessoas têm que ter o que comer, têm que ter o que vestir, têm que ter onde morar, tem que ter saúde, têm que ter educação, e que somente através desse processo de inclusão social, de pacificação e de integração social, cultural, econômica, nós podemos garantir a verdadeira paz e a prosperidade.
Por Andrea Penna, especial para o Monitor
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