Inteligência Artificial: mudança de paradigma que exige transformação, não otimização

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Manhã fria de terça-feira, 18 de março, em San Jose, na Califórnia. Antes mesmo das 8h da manhã, centenas de pessoas já estão em fila do lado de fora do SAP Center, ginásio com capacidade para receber cerca de 20 mil pessoas para jogos da NFL, NBA e shows musicais de grandes astros como Barry Manilow, Bon Jovi, Linkin Park e Maná, entre outros.

Nessa data, o show começará mais cedo, e o astro esperado é Jensen Huang, CEO da NVIDIA, que fará o keynote de abertura do evento batizado pela imprensa americana de “Super Bowl da IA” — analogia que dá a dimensão da grandeza do NVIDIA GTC, um dos maiores eventos do mundo dedicados à inovação impulsionada pela inteligência artificial.

Após conferir a apresentação, com mais de duas horas de duração e repleta de lançamentos baseados em IA, para um ginásio lotado por desenvolvedores, empresários, CTOs e CMOs, o público caminha para o Centro de Convenções de San Jose, a poucos metros dali. O local abriga, por mais três dias, 400 sessões de conteúdo, entre treinamentos, keynotes e apresentações de mais de 2 mil palestrantes. Além disso, conta com uma feira com a participação de todas as grandes marcas de tecnologia, como AWS, Google Cloud, Oracle, Dell, Lenovo, Deloitte, entre outras, além de dezenas de startups, incluindo algumas brasileiras, que apresentam suas novidades. Em cinco dias, o evento recebeu 25 mil pessoas de todas as partes do planeta.

Considerei interessante realizar essa introdução trazendo dados concretos do que pude conferir de perto, e que tangibilizam um presente que, para muitos, ainda parece um futuro distante, de ficção científica — mas não é. A IA não só está presente em diversas atividades de diferentes segmentos como segue evoluindo rapidamente. Tanto que ocupa 115 das 1.000 páginas do Tech Trends Report 2025, da futurista Amy Webb. Inclusive, ela afirma que “em um mundo onde a tecnologia está evoluindo a uma taxa exponencial, a capacidade de antecipar e se adaptar não é apenas uma vantagem, é uma necessidade para a sobrevivência.”

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O brasileiro tem a vantagem de gostar de novidades e ser early adopter, por isso já vemos movimentações e criações nacionais, como o Amazônia IA, um LLM especializado na cultura brasileira.

A questão é: como as empresas estão preparando os seus talentos para a revolução da inteligência artificial? E como profissionais, em geral, pretendem se adequar ao futuro do mercado de trabalho?

Para discutir esse aspecto, trago a visão muito interessante e provocadora do futurista Ian Beacraft, o conceito de Skill Flux: o fluxo acelerado de ascensão e queda de habilidades. Em sua apresentação durante o SXSW 2025, Beacraft defende que o nosso desafio é transformação, não otimização. Estamos falando de uma tecnologia de propósito geral — como a eletricidade, como a internet — que muda tudo. Então, não basta melhorar aos poucos. É preciso se reinventar.

O futurista vai além, trazendo outro problema da vida atual: o tempo de validade das nossas habilidades. “Antes, era comum dominar uma habilidade que duraria 30 anos de carreira. Mas isso ficou no passado. Hoje, a realidade é outra: você pode passar 18 a 22 anos estudando, trabalhar por 30 a 45 anos e, talvez, se aposentar. Mas a habilidade que você aprende hoje pode ficar obsoleta em dois anos e meio — ou menos”, afirma Beacraft.

Já vivemos há algum tempo na era do lifelong learning, ou aprendizado contínuo. Agora, essa visão do futurista traz uma urgência e uma mudança de paradigma. Como a IA está transformando tudo, precisamos mudar a fonte do nosso valor pessoal. Não é mais o que você e eu sabemos. É o quanto — e em quanto tempo — conseguimos nos adaptar.

Qual o impacto desses cenários no mercado de trabalho? Alguns, incluindo a redução do interesse por habilidades em alta atualmente, como programação ou engenharia de prompts, que podem ser substituídas pela própria IA. Mas a grande tendência, ou mudança de paradigma que Beacraft traz, é a disposição de aprender, aplicar e dominar rapidamente uma nova habilidade — e seguir repetindo esse ciclo.

“Estamos saindo de ‘eu sou o que sei’ para ‘eu sou o quanto me adapto’. Adaptabilidade será a competência mais valiosa do século”, declara Beacraft.

E você, já aprendeu algo novo hoje? É melhor começar.

Vania Gracio, Founder & CEO da Sing Comunicação

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