O hacker Walter Delgatti Netto revelou que a invasão que ele fez da intranet do Judiciário brasileiro tinha como objetivo desmoralizar esse Poder da República. Delgatti participa de oitiva nesta quinta-feira na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos golpistas de 8 de janeiro.
Questionado pela relatora deputada Eliziane Gama (PSD-MA) sobre o motivo da invasão dos sistemas do Judiciário, Delgatti afirmou que, como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes dizia que o sistema era inviolável, seria uma forma de desmoralizar a Justiça brasileira.
“Uma forma de mostrar a fragilidade seria o quê? Eu invadindo e despachando, como se fosse o ministro, com o token dele, a assinatura dele, um mandado de prisão contra ele mesmo. Inclusive, no final, eu falo: publique-se, intime-se e faça o L”, destacou.
Ainda segundo Delgatti, o texto do pedido de prisão do ministro Moraes foi enviado a ele pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
“A deputada me enviou um texto pronto, eu corrigi alguns erros, contextualizei e publiquei a decisão”, revelou. Além do mandado de prisão, o hacker incluiu um pedido de quebra de sigilo bancário do magistrado.
O hacker, conhecido por acessar os celulares de procuradores da Lava Jato, informou que teve acesso à intranet de todo o sistema judiciário por quatro meses.
“Eu tive acesso a todos os processos, a todas as senhas, de todos os juízes e servidores, e fiquei por quatro meses na intranet da Justiça brasileira”, afirmou.
Delgatti disse ainda que teve acesso ao e-mail do ministro Alexandre de Moraes e ao telefone de recuperação de senha do magistrado. Com isso, tentou subornar, com R$ 10 mil, um funcionário da empresa de telefonia para conseguir uma segunda via do chip do celular de Moraes. Isso porque, geralmente, quando se acessa um e-mail de um novo computador, exige-se a confirmação do acesso via telefone celular, explicou.
“Ele se negou a pegar a segunda via do chip, porque, a época, o Alexandre de Moraes estava o tempo todo na mídia, mandando prender todo mundo. Então, ele ficou com medo” disse Delgatti, acrescentando que o dinheiro do suborno havia sido prometido a ele pela deputada Zambelli.
Delgatti foi preso no dia 8 de agosto pela Polícia Federal acusado de invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e de outros tribunais, e de forjar um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes.
Ele disse que atuou a pedido da deputada federal Carla Zambelli e que a parlamentar teria dito a ele que a invasão do sistema do judiciário foi um pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“A deputada me disse que eu precisava invadir algum sistema de Justiça, ou o TSE em si, ou alguma invasão que mostrasse a fragilidade do sistema de Justiça” disse.
O hacker disse que cometeu esse crime porque a deputada Zambelli o teria prometido um emprego. Como o emprego não chegava, Delgatti pediu dinheiro adiantado para pagar as contas. Ele disse que recebeu, ao todo, R$ 40 mil. A parlamentar nega as ilegalidades e diz que o contratou para cuidar das redes sociais dela.
Em nota divulgada na tarde de hoje, o advogado Daniel Bialski, que defende Zambelli, “refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais pela parlamentar, inclusive, negando as aleivosias e teratologias mencionadas pelo senhor Walter Delgatti”.
Com promessa de indulto, o Bolsonaro teria pedido ao hacker para assumir um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes. Segundo Delgatti, o pedido foi feito durante uma conversa por telefone com Bolsonaro, que o teria informado que agentes “de outro país” teriam conseguido grampear o ministro e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Delgatti afirmou que não teve acesso ao grampo, mas que aceitou o pedido de Bolsonaro de assumir a responsabilidade pelo suposto equipamento usado para monitorar Moraes.
“Ele disse que, em troca, eu teria o prometido indulto e ainda disse assim: caso alguém me prenda, eu mando prender o juiz e deu risada”, revelou o hacker preso por invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de outros tribunais.
O objetivo do ato, segundo Delgatti, era provocar alguma ação contra o ministro Alexandre de Moraes e forçar a realização de nova eleição com o chamado voto impresso, modalidade que foi negada pelo Congresso Nacional em 2021.
Com informações da Agência Brasil