Inversão de tendência

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O dia de ontem foi de aprofundamento de queda nos principais mercados da Europa e de inversão de tendência no mercado americano e também na Bovespa. Pesou os impactos do recrudescimento da Covid-19 em países da Europa (e também nos EUA) e sem definição sobre o pacote de estímulos nos EUA. Aqui, para variar um pouco, preocupações ampliadas com o quadro de déficit fiscal e possibilidade de novo rebaixamento pelas agências de classificação de risco, caso não sigamos o protocolo de maior austeridade.

Coadjuvante a isso, uma agenda cheia de eventos e resultados de empresas importantes no terceiro trimestre. Preocupa ainda mais a postura do Copom com o comunicado posterior a reunião de amanhã e a ata na semana seguinte, sugerindo endurecimento para o futuro, principalmente se reformas forem retardadas ou saírem brandas.

No cenário externo, a eleição americana indefinida, apesar de as pesquisas indicarem Joe Biden. Donald Trump embaralhou um pouco em estados fundamentais, e também não se sabe se haverá maioria nas duas casas do legislativo para o novo presidente ou se o resultado será questionado por Trump, caso seja derrotado. Virou uma grande loteria, e como tal, agrega volatilidade aos mercados de risco.

Na Alemanha, o ministro das finanças pediu medidas de restrição contra a covid-19 enquanto Angela Merkel prevê meses difíceis para o país. Em compensação, o BCE diz que o setor bancário suportará o choque da pandemia. Já a União Europeia fala que está empenhada em fechar acordo com o Reino Unido no pós-Brexit.

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Nos EUA, as encomendas à indústria de setembro cresceram 1,9%, quando o esperado era +0,4% e confiança do consumidor do Conference Board caiu para 100,9 pontos em outubro, vindo de 102 pontos. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em Nova Iorque devolveu em boa parte a queda de ontem e mostrava alta de 2,70%, com o barril cotado a US$ 39,60. O euro era transacionado em leve alta para US$ 1,182 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 0,77%. O ouro e a prata inverteram para altas na Comex e commodities agrícolas com comportamento misto na Bolsa de Chicago.

No segmento local, o Tesouro anunciou que a dívida pública federal cresceu em setembro 2,59%, indo para R$ 4,53 trilhões. A participação dos estrangeiros no total da dívida subiu para 9,44%, vindo de 9,40%. Os fundos passaram a deter 24,39% e as instituições financeiras com 27,43%. Os títulos prefixados representam 32,56% do total e com referencial na Selic em 37,77%. O fluxo maior de investidores não residentes (INRs) não mostra nada de relevante em termos de retorno dos recursos. O Tesouro também voltou a emitir títulos mais curtos, de até um ano. Do lado político, Rodrigo Maia questionou o empenho da base aliada que tem obstruído a pauta e obrigou a encerrar a reunião de hoje.

No dia, a taxa cambial e os DIs foram afetados pelo desconforto fiscal e exterior bem complicado, os bancos também pesaram na queda da Bovespa. No encerramento, o dólar mostrava alta de 1,21% e foi cotado em R$ 5,685. Na Bovespa, na sessão do dia  23, os investidores estrangeiros voltaram a sacar recursos no montante de R$ 198,9 milhões, deixando o saldo de outubro ainda positivo em R$ 2,58 bilhões, mas com saques líquidos em 2020 de R$ 85,17 bilhões.

No mercado acionário, dia ruim para as Bolsas europeias, com Londres perdendo 1,09%, Paris com -1,77% e Frankfurt, depois da queda de ontem de 3,71%, nova perda de 0,93%. Madri e Milão com quedas de respectivamente 2,14% e 1,53%. No mercado americano, dia de queda do Dow Jones de 0,80% e Nasdaq com +0,64%. Na Bovespa, dia de queda de 1,40%% e índice em 99.605 pontos, com destaque para queda do setor bancário.

Os balanços do terceiro trimestre anunciados hoje, aqui e no exterior, não contribuíram muito, exceto pelo do Santander, que veio melhor que o previsto. De certa forma acompanhamos a direção do mercado americano, mas perdemos novamente o patamar de 100 mil pontos do Ibovespa.

Na agenda de amanhã teremos a confiança da indústria pela FGV e a decisão do Copom sobre política monetária depois de pregão encerrado, e que não deve alterar a Selic, mas sendo mais duro na avaliação. Nos EUA, o saldo da balança comercial de setembro, os estoques de petróleo e derivados, além de discurso do presidente regional do Fed de Dallas.

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Alvaro Bandeira

Sócio e economista-chefe do Banco Digital Modalmais

Fonte: www.modalmais.com.br/blog/falando-de-mercado

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