Investidores sem rumo

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Jair Bolsonaro (Foto: divulgação)
Jair Bolsonaro (Foto: divulgação)

Investidores sem rumo no curto prazo acabam sempre apostando no pior. Resultado disso, Bovespa em queda de 1,10% na sessão de ontem, com o índice em 113.794 pontos, dólar em alta para R$ 5,27 e juros só um pouco mais comportados. O exterior também não ajudou com Bolsas americanas indefinidas.

Precatórios sem definição, reforma administrativa fraca e questionada, aumento do Bolsa Família e possível fura-teto, compõem o cardápio das preocupações dos investidores. Hoje mercados da Ásia terminaram o dia com boas altas, mercados da Europa iniciaram o dia, perderam tração e foram para o campo negativo e futuros do mercado americanos mais pesados neste início de manhã. Aqui seria bom não perdermos o patamar dos 112 mil pontos do Ibovespa, pois o próximo suporte estaria em 110 mil pontos.

Investidores vão pesar dividendos altos anunciados ontem pela Vale de R$ 8,108 por ação e a queda do petróleo de hoje no mercado internacional. A China anunciou que injetou US$ 14 bilhões no sistema financeiro para aplacar o estresse com a Evergrande que deixou de pagar credores e arrastou outras empresas chinesas incorporadoras. Isso afeta as commodities minerais.

No Reino Unido, as vendas no varejo de decepcionaram em agosto com queda de 0,9%, quando o previsto era expansão de 0,8%. Na Zona do Euro, a inflação medida pelo CPI de agosto mostrou alta de 3,0% no comparativo anual, com núcleo em 1,8% e no mês com alta de 0,4%.

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Nos EUA, as discussões residem em elevar o teto da dívida para não paralisar órgãos do governo e ainda o pacote de investimentos de Joe Biden. Mas aparentemente está difícil convencer o líder da oposição McConnell.

No mercado internacional, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava queda de 0,67%, com o barril cotado a US$ 72,12. O euro era transacionado em alta para US$ 1,178 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,34%. O ouro e a prata mostravam altas na Comex e commodities agrícolas com desempenho negativo na Bolsa de Chicago.

Aqui, a alíquota de IOF foi ampliada ontem para vigência imediata e ficando até o final do ano, para pessoas físicas e jurídicas, para arranjar recursos para o Auxílio Brasil e não ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Mas vem justamente no momento em que o nível de endividamento das famílias atingiu recorde.

Bolsonaro disse que seu discurso na ONU será tranquilo e vai defender o marco temporal. O Datafolha é que mostrou pesquisa com 53% de negativa ao governo, no maior nível atingido. Também saiu a inflação pelo IPC da Fipe na segunda quadrissemana de setembro de 1,21%, de anterior em 1,34%.

Expectativa para o dia de Bovespa podendo buscar recuperação, mas está difícil. Dólar mais fraco e juros também.

Ontem, os mercados domésticos se ressentiram do noticiário sobre a reforma administrativa, principalmente, com relação às discussões (ainda sem solução aparente) sobre o pagamento de precatórios. Os investidores ficaram na defensiva, com a Bovespa em boa queda, dólar em alta e juros idem.

No exterior, o Japão reduziu sua avaliação sobre a economia, depois de ter mantido por quatro meses. Já Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), declarou que a região já atravessou o período mais complicado, mas nem por isso estão fora de perigo. Mas, de qualquer forma, a recuperação está sendo mais rápida que o previsto e que as políticas monetária e fiscal devem seguir juntas para a recuperação. Ressaltou que a transição verde digital é imperativa.

A agência de classificação de risco Fitch (entre as três maiores do mundo) revisou sua expectativa de crescimento do PIB global de 2021 para 6%, de anterior em 6,3%. Também advertiu que muitos setores podem estar expostos ao risco de crédito, se a gigante chinesa incorporadora Evergrande entrar em default. E a China virou aliada de trabalhadores contra as grandes empresas de tecnologia, como Alibaba e Tencent, no que chamam de Nova Era de Prosperidade Comum.

Nos EUA, os pedidos de auxílio-desemprego da semana anterior cresceram 20 mil posições, para 332 mil, quando o previsto era que ficassem em 320 mil. Já as vendas no varejo de agosto surpreenderam com boa expansão de 0,7%, quando o previsto era queda de 0,8%. Sem considerar automóveis, as vendas teriam evoluído 1,8%, de previsão de somente +0,1%. Ainda por lá, o Tesouro anunciou que, do plano de resgate de US$ 700 bilhões, cerca de US$ 450 bilhões já foram gastos em pagamentos diretos para as famílias nos últimos seis meses e algo como US$ 240 bilhões foram destinados aos governos estaduais e locais.

No mercado internacional, ontem, o petróleo WTI, negociado em Nova Iorque, mostrava alta de 0,01%, com o barril cotado em US$ 72,62, depois de ter andado boa parte do dia em leve queda. O euro era transacionado em queda para US$ 1,177, e notes americanos de 10 anos com taxa de juros em alta para 1,33%. O ouro e a prata com quedas acentuadas na Comex, e commodities agrícolas com desempenho mais para negativo na Bolsa de Chicago. Já o minério de ferro desabou durante a madrugada em Qingdao, na China, mostrando contração de 8% e com a tonelada em US$ 107,21, no menor nível em mais de um ano. No segmento doméstico, o relator da reforma administrativa retirou a possibilidade de corte da jornada de trabalho e salário dos servidores. O Centro de Liderança Pública (CLP) declarou que fizeram a antirreforma. Segundo o presidente da Câmara, a votação deve ocorrer na próxima terça-feira. Já sobre os precatórios, nenhuma decisão e/ou encaminhamento. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, diz que uma solução definitiva deve sair na próxima semana, e vão tentar conciliar (o inconciliável) entre precatórios, programa social e teto de gastos. O presidente da Câmara, por sua vez, criticou bastante a presença da Petrobras em comissão sobre a estrutura de preços e ajuda ao país, e quer estabelecer rito especial para os precatórios (perigo).

Na economia, a FGV anunciou o IGP-10 de setembro com deflação de 0,37%, mas no ano com a inflação em 16,44%. O IPC-S da segunda quadrissemana de setembro acelerou para 1,10%, de anterior em 0,91%. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) apurou que a intenção de consumo das famílias cresceu 1,9% em setembro, pelo quarto mês seguido.

O secretário de economia, Adolfo Sachsida, também falou bastante no final da manhã, pedindo que os economistas olhem os dados de conjuntura direito, mantendo o PIB do ano em 5,3%, com 2022 em 2,50% (neste momento, só o governo acredita e abre espaço no orçamento), inflação indo para 7,90% (anterior em 5,90%) e dizendo que só o carrego do PIB de 2021 já garantiria alta em 2022 de 1,2% (na pesquisa Focus, a estimativa é de 0,7%). Insiste na agenda de reformas, na consolidação fiscal e que o Brasil está cansado de voo de galinha e de resultado imediatista.

No mercado, a quinta foi dia de dólar oscilando bastante e atingindo máxima perto de R$ 5,27, para encerrar o dia novamente nesse patamar com alta de 0,49%. Na B3, na sessão do dia 14, os investidores estrangeiros alocaram recursos no montante de R$ 462,9 milhões, deixando o saldo de setembro com entradas de R$ 19,74 milhões e ingressos em 2021 no valor de R$ 47,1 bilhões. No mercado acionário, dia de alta da Bolsa de Londres de 0,20%, Paris com +0,61% e Frankfurt com +0,52%. Madri e Milão com altas de respectivamente 1,14% e 0,83%. No mercado americano, o Dow Jones com -0,18% e Nasdaq com +0,13%. Na Bovespa, dia de queda de 1,10% e índice em 113.794 pontos, com Vale e siderúrgicas pesando na queda.

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Alvaro Bandeira

Economista-chefe do Banco Digital Modalmais

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