Conversamos com Felipe Souto, CEO e fundador da Bloxs, sobre a mudança de estratégia da startup de investimentos alternativos, que começou como uma plataforma de crowdfunding, mas que hoje está trabalhando com operações estruturadas para o mercado de capitais.
Em julho de 2021, nós fizemos uma entrevista sobre a Bloxs e investimentos alternativos. Tendo como ponto de partida essa entrevista, o que a Blox faz hoje?
Quando conversamos pela primeira vez, nós estávamos no meio de um turbilhão de uma evolução regulatória. Hoje nós somos uma plataforma de soluções para emitir operações estruturadas ou investimentos alternativos no mercado de capitais, só que no início da nossa jornada, nós éramos uma plataforma de crowdfunding regulada pela Resolução CVM 88.
O que mudou de lá para cá foi que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) colocou em vigor, em 2023, uma gama enorme de novas estruturas regulatórias, como a Resolução 160, que trata de oferta pública, e a Resolução 161, que trata da possibilidade de instituições não financeiras coordenarem ofertas públicas em geral. A CVM também inovou e trouxe o novo marco regulatório da securitização, trazendo além do CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e do CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), os CRs (Certificados de Recebíveis).
Com isso, a Bloxs passou a ter uma securitizadora para fazer as emissões de CRIs, CRAs, debêntures e CRs; uma gestora de recursos as a service para fazer a emissão de cotas de FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), FIPs (Fundos de Investimento em Participações), FIIs (Fundos de Investimento Imobiliário) e Fiagros (Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais) e tem autorização para atuar como coordenador líder de ofertas públicas. Nós ampliamos o leque para termos um posicionamento end-to-end completo como uma plataforma de emissão de operações no mercado de capitais, tanto para o sell side, que tem a operação, quanto para o buy side, que tem o bolso.
Quando conversamos, o buy side tinha como foco, até pela natureza dos títulos que estávamos autorizados a emitir, o investidor individual pessoa física. Hoje, o tipo de operação que estruturamos e disponibilizamos na plataforma são operações com ticket médio de R$ 30 milhões, muito mais adequadas para investidores institucionais. Esse buy side é composto por gestores de fundos de investimentos. Eles são os nossos clientes.
Para que você tenha uma ideia, no Brasil existem 700 gestoras de recursos cadastradas na CVM que possuem 7 mil fundos como FIDCs, FIPs, FIIs ou Fiagros, sendo que 400 dessas gestoras são nossas usuárias. Se por um lado faz tempo que não temos IPOs (Initial Public Offering) no mercado, por outro as emissões de DCM (Debt Capital Market), com as quais trabalhamos, só fazem crescer. É para atender essa indústria que estamos remodelando o nosso posicionamento.
O foco deixou de ser os investidores pessoas físicas e passou a ser os investidores institucionais?
Nós seguimos com 40 mil investidores, mas as operações de investidores institucionais têm ganhado tração e, venhamos e convenhamos, elas são mais propícias para que possamos ganhar escala, já que na pessoa física esse tipo de operação deve compor uma pequena parcela do portfólio do investidor, o que limita o seu crescimento. No institucional, nós temos o contrário, pois a quantidade de novos FIIs e Fiagros só está crescendo.
Se os FIIs só comprarem os CRIs que estão nas grandes prateleiras, não haverá um diferencial entre os gestores dos grandes fundos. É por isso que os gestores de fundos high yield alocam em operações de small e middle market. Como é difícil para esses gestores chegarem a esses empreendimentos, entendê-los e fazerem diligências, nós resolvemos isso unindo as duas pontas. Eu gosto de dizer que a Bloxs é uma originação as a service para os investidores institucionais.
A Bloxs está atuando em um mercado que já existe. Como você está vendo a competição nesse mercado?
O mercado já existe, mas dentro de uma camada de operações muito grandes. Algumas instituições financeiras não fazem uma emissão de CRI por menos de R$ 150 milhões. As maiores já pulam para a casa do bilhão. Neste mercado, nós não competimos e não queremos competir. O nosso objetivo é atender um empresário que precisa acessar o dinheiro, mas que está nos rincões do Brasil e que tem dificuldade de acesso ao mercado, que é complexo e caro. A digitalização desse processo tende a baratear esse fluxo.
Esse mercado virou de cabeça para baixo com as novas regras que a CVM soltou ao longo de 2023. Ela está acompanhando a tendência do mundo e adaptando as possibilidades digitais para facilitar o acesso de novos emissores ao mercado. A nossa proposta é fazer com que uma empresa, minimamente assessorada, consiga emitir uma debênture, um CRI, um CRA ou um CR. No Brasil, existem pouquíssimos players nessa linha de competição.
Como estamos falando de digitalização de processos, celeridade e diminuição de barreiras burocráticas, com o uso de blockchain e smart contracts, que vão entrar a todo vapor depois que o Drex for aprovado, o mercado, que virou de cabeça para baixo, vai mudar da água para o vinho. Como somos nativos digitais, nós estamos bem preparados para essa nova corrida.
Como tem sido a demanda por esse tipo de operação?
Gigantesca. Atualmente, nós temos R$ 7 bilhões no pipeline e R$ 600 milhões em operações disponíveis na nossa prateleira. Como o mercado está com uma seca de crédito, os pequenos e médios empresários estão recorrendo ao mercado de capitais, o que só faz com que cresça a demanda por emissões de títulos de crédito privado como esses.
Quando eu falo no crescimento de novas emissões, há um corte importante a ser feito. Boa parte dessas emissões estão vindo de empresas que estão descobrindo o mercado de capitais pela primeira vez, como uma empresa do interior da Bahia, que fatura R$ 500 milhões, mas que não emitia um CRI de R$ 20 milhões. Isso porque, antigamente, de fato era impossível ou muito difícil fazer esse tipo de operação, já que a regulação antiga tinha um custo de observância muito alto. A norma tratava da mesma forma a emissão de uma pequena ou média empresa e de uma companhia como a Petrobras ou a Vale.
Para isso, nós nos adaptamos, investimos e montamos toda a estrutura regulatória. A única perna que está faltando é a DTVM, que está no forno, pois já estamos com um processo no Banco Central. Com isso, nós seremos capazes de atender os nossos usuários end-to-end.