IPCA de fevereiro: avaliações sobre a inflação de 0,84%

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro ficou em 0,84%. No ano, o IPCA acumula alta de 1,37%, e nos últimos 12 meses, alta de 5,60%. Para entendermos melhor o IPCA registrado no último mês, conversamos com três economistas sobre suas avaliações.

Segundo o último boletim Focus, divulgado na segunda-feira, o mercado tem a expectativa de uma inflação de 5,90% para 2023. A próxima reunião do Copom está programada para os dias 21 e 22 de março.

André Meirelles, diretor de alocação e distribuição na InvestSmart XP

A inflação de fevereiro ficou ligeiramente acima do consenso de mercado, que era de 0,78%. O maior impacto veio dos preços do grupo Educação (0,35 p.p.). Isso já era esperado, uma vez que o mês é marcado pelos reajustes anuais das matrículas das instituições de ensino.

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Uma das maiores surpresas veio do grupo Transportes, que representa quase 20% da cesta de consumo das famílias. Trata-se de um componente bastante volátil do índice, influenciado por fatores que fogem ao controle do Banco Central. Por exemplo, o preço da gasolina pode ser impactado pelo aumento do preço do barril de petróleo no mercado internacional em função de uma guerra entre países produtores.

Para o consumidor, a notícia é ruim, sobretudo quando lembramos que a próxima divulgação de IPCA mostrará o impacto da reoneração de PIS/COFINS sobre a gasolina. Isso reduzirá ainda mais o orçamento das famílias, que deverá se concentrar em itens essenciais como alimentação.

Agora, por mais que o índice tenha variado acima do esperado, esse aumento não deve ter impacto no próximo Copom, uma vez que as variações de maior surpresa vieram de componentes voláteis. Além disso, os juros já estão em patamar elevado, e a maior preocupação do Copom parece ser ancorar as expectativas de inflação do mercado, que estão mais atreladas a fatores que alteram a percepção de inflação para os próximos anos, como as discussões sobre o arcabouço fiscal, do que com a inflação corrente.

Apesar disso, o resultado do IPCA refletiu no mercado, com avanço em todos os vértices da curva de juros.

Luciana Maia Campos Machado, superintendente acadêmica e professora de finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras)

A inflação de fevereiro foi puxada pelo setor de Educação, que teve uma elevação de preços de 6,28% no mês. Por mais que o mês de fevereiro seja, tradicionalmente, marcado pelos reajustes de anos letivos em cursos regulares, vale ressaltar que essa alta foi a maior registrada nos últimos 19 anos para o mês.

Muitas instituições de ensino, que haviam represado reajustes durante a pandemia, precisaram ajustar os preços das mensalidades. A maior alta percentual veio do ensino médio, 10,28%, seguido do ensino fundamental, 10,06%, pré-escola, 9,58%, e creche, 7,20%. Também existem altas no ensino superior, 5,22%, cursos técnicos, 4,11%, e pós-graduações, 3,44%.

Para a inflação de março, o retorno parcial da cobrança de tributos federais sobre gasolina e etanol, que entraram em vigor neste mês, deve impactar Transportes.

No ano, o IPCA acumulado está em 1,37%, sendo que a meta do Banco Central para a inflação deste ano é de 3,25%, com uma tolerância de desvio de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Dessa forma, a inflação poderia variar entre 1,75% e 4,75%, mas já estamos vendo que isso é bem irreal e, dificilmente, a meta será atingida. Nós devemos encerrar o ano com a inflação próxima a 6%.

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed

Os dados abertos da inflação de fevereiro vieram de forma mista, mas, no geral, houve uma aceleração dos indicadores. Por exemplo, Alimentação, Bebidas, Artigos de Residência e Vestuário vieram abaixo do esperado, sendo que Habitação veio praticamente em linha. O número fechado veio acima das expectativas por conta de Transportes e Gastos com Saúde e Cuidados Pessoais. Esses dois itens vieram com uma aceleração muito maior do que a desaceleração dos demais itens. No caso dos Transportes, seus custos foram influenciados, de maneira geral, por uma aceleração dos Administrados

Falando de maneira setorial, o setor de serviços segue se destacando com bastante aceleração se comparado a outros setores. Esses números vieram mais pressionados porque refletem a reabertura da economia, com as pessoas voltando a consumir, principalmente, serviços. O que tem puxado os indicadores de inflação está mais vinculado ao consumo de serviços do que ao consumo de bens propriamente dito.

Para a próxima reunião do Copom, a grande expectativa não é a reunião em si, já que se espera a manutenção da taxa de juros, mas o que o Banco Central vai falar para o mercado através do seu comunicado. O mercado espera que o Banco Central mude a sua postura, principalmente por conta da crise do mercado de crédito, sinalizando, de alguma forma, a possibilidade de queda de juros já em 2023, o que não foi feito em momento algum, pelo contrário. Também há expectativa sobre a forma como o Banco Central está lendo a postura do governo com relação à condução da política fiscal.

Coordenação: Jorge Priori

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