O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro foi de 0,41%. No ano, o IPCA acumula alta de 5,13%, e nos últimos 12 meses, 5,90%. Para entendermos melhor a inflação registrada no último mês, conversamos com três economistas sobre suas avaliações.
Segundo o boletim Focus divulgado na última segunda-feira, o mercado tem a expectativa de que 2022 feche com uma inflação de 5,92%. Para 2023, a expectativa é de 5,08%, e para 2024, 3,5%.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho
O IPCA veio abaixo das nossas expectativas, pois tínhamos projetado uma alta de 0,55%. A abertura dos dados mostra uma continuidade no arrefecimento das pressões inflacionárias em razão da redução na inflação de serviços, das medidas de núcleo e do índice de difusão, que apresentou queda no mês.
A inflação de alimentos é o único porém dentro do IPCA. Ela se manteve alta no mês de novembro, impactando a base anual depois de três meses consecutivos de queda. Apesar de mais resiliente, temos visto deflação dos produtos agrícolas no atacado, e isso traz a expectativa de que a inflação de alimentos possa voltar a arrefecer. Por ter um peso importante, esse é um ponto de preocupação e atenção para os próximos meses.
Em linhas gerais, com o aumento dos juros que o Banco Central já promoveu e a perspectiva de um menor crescimento econômico mundial, que tem feito os preços de commodities no mercado internacional recuarem, a tendência, realmente, é de queda da inflação nos próximos meses e anos. Os dados são positivos, sem dúvida, e dão um conforto para o Banco Central, que já interrompeu o ciclo de alta de juros considerando haver um efeito defasado dessas altas na atividade econômica.”
Raphael Rodrigues, economista do BV
O índice veio abaixo da mediana de mercado, mas bem próximo das estimativas, sendo mais um sinal lento, porém contínuo, de desaceleração da inflação. Entre os grupos, o destaque ficou para alimentação, apresentando um resultado um pouco abaixo do esperado, já que a expectativa era mais alta devido às fortes chuvas que impactaram a produção dos bens in natura. Como as altas de preço seguem sinalizando impacto nesses bens, ainda esperamos valores mais altos nos meses de dezembro e janeiro para este grupo.
Entre as categorias, os bens industriais chamaram a atenção pela desaceleração significativa, especialmente se compararmos com o IPCA-15. Esse efeito é decorrente das promoções de novembro, como a Black Friday, o que já era previsto nas nossas projeções. Em resumo, o IPCA de novembro trouxe poucas surpresas, sinalizando, novamente, um lento e contínuo processo de normalização da dinâmica inflacionária. Contudo, esse processo parte de um ponto muito elevado de inflação, logo o tema ainda requer cautela.
Os dados de hoje (9) reforçam a projeção de 5,50% para o IPCA de 2023, assim como uma política monetária sem alterações no curto prazo e com pouco espaço para quedas em 2023.
Raphael Vieira, Head de Renda Fixa da Arton Advisors
Conforme era esperado, vimos os números voltando a subir em outubro e novembro após três meses de deflação, uma vez que os esforços do governo para conter preços administrados caíram e, sazonalmente, a inflação de fim de ano passa a ser pressionada. Os itens que devem continuar pressionando o número de inflação para dezembro estão nas categorias vestuário, transportes e alimentos.
Para 2023, a dinâmica inflacionária deve seguir de perto a política fiscal do novo governo. Caso ocorram gastos de forma ineficientes, a pressão inflacionária virá e fará com que seja o tema mais acompanhado pelo Banco Central ao longo do ano. Ao mesmo tempo, devemos ter a reversão das políticas de corte de impostos nos combustíveis, o que elevará o preço da gasolina, que possui um peso bem grande na composição do IPCA.
Coordenação: Jorge Priori