O IPCA de março variou 1,06%, acima da nossa expectativa (0,83%) e da mediana do mercado (1,01%).
Pelos grupos, a maior surpresa positiva ocorreu em saúde e cuidados pessoais, com alta acima do esperado nos preços dos remédios. Em seguida, habitação mostrou queda menor do que o antecipado em função de surpresas altistas no preço da energia elétrica. Adicionalmente, observamos surpresa desfavorável em alimentação e bebidas, advinda do preço do leite, tomate, batata, e em artigos de residência, cujo índice de difusão atingiu notáveis 93,55%. Do lado negativo, observamos variação abaixo do esperado em transportes devido à menor inflação de combustíveis, principalmente gasolina.
Pelas aberturas, os preços administrados ficaram acima do esperado (0,55% contra 0,32% da expectativa). Nos preços livres (1,25% ante 1,02% da expectativa), a surpresa altista ocorreu em todos os setores, com destaque aos bens industriais (1,21%, contra 0,94% da expectativa), mas também em serviços (0,66%, contra o esperado 0,50%) e alimentação no domicílio (2,59%, ante os esperados 2,30%). Nas leituras subjacentes, os industriais mostraram alta de 1,15% (contra 0,71% da expectativa) e os serviços subiram 0,79% (o esperado era 0,61%).
A média dos cinco núcleos acompanhados pelo Banco Central seguiu em patamar elevado, atingindo 0,95% e ficando ligeiramente abaixo dos 0,98% observados no mês anterior. Em 12 meses, a medida acumula alta de 9,69%, acelerando frente aos 9,01% acumulados até março deste ano. Adicionalmente, o índice de difusão subiu para 78,25% (ante 76,13% em março). Além do já mencionado índice de difusão dos artigos de residência, destacamos os 90,32% de vestuário, 87,50% de habitação e 79,17% de alimentação e bebidas.
Por mais um mês, observamos o IPCA com composição bastante desfavorável tanto no índice cheio quanto na ótica subjacente. A continuidade da aceleração dos núcleos e os elevados índices de difusão indicam que a inflação é disseminada entre os setores.
Ao observarmos a dinâmica de comercialização dos subitens, notamos que os alimentos puxam os bens não comercializáveis para cima enquanto os bens industriais colocam pressão sobre os comercializáveis. Considerando a nossa premissa de que a inflação de alimentos não deve arrefecer antes do primeiro semestre de 2023 e que as incertezas sobre as cadeias globais devem manter os bens industriais elevados, enxergamos continuidade das pressões subjacentes da inflação ao longo do ano.
Por esses motivos, a divulgação do IPCA reforça a nossa perspectiva de mais duas elevações da Selic no ciclo, atingindo 13,75% em agosto.
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Felipe Sichel
Sócio e economista-chefe do Banco Modalmais