Vou falar hoje sobre parte da região da Campania, Itália, tema já introduzido recentemente. Esta região, ao sul da Itália, banhada pelo Mar Tirreno e que tem como capital Nápoles, possui cinco sub-regiões: Caserta, Costa Central, Sannio, Irpinia e Cilento. Caserta, Costa Central e Cilento estão na área mais litorânea, ao norte e ao sul de Nápoles. Sannio e Irpinia ficam no interior. Mas, quando se fala em termos de vinhos mais conhecidos e exportados, o destaque vai para a sub-região de Irpinia, embora as variedades de uvas, em alguns casos, sejam comuns.
Irpinia, também identificada administrativamente como província de Avellino, é o distrito vitivinícola mais importante da Campania e, não por acaso, produz a maior proporção de vinho DOCG da região: três das quatro DOCGs estão ali. Os vinhedos estão situados no interior do continente, em uma área bem montanhosa, que apresenta uma variada possibilidade de altitude, inclinações e exposições. A altitude cria uma alternância climática, com queda de temperatura noturna, que retarda o amadurecimento das uvas, favorecendo o trabalho com uvas brancas e a preservação da acidez nos vinhos.
Há um rico catálogo de cepas autóctones da Campania, que se expressam com destacada qualidade na Irpinia e, por isso mesmo, dão nome às DOCGs. A Fiano é uma delas. Uva nativa da Campania, possivelmente da Irpinia, teve seus vinhedos muito destruídos pela filoxera e pelas grandes guerras, mas foi resgatada e assina belos vinhos. Os melhores estão na área da Fiano di Avellino DOCG, cujo território inclui 20 aldeias, dentre elas a própria comuna de Avellino.
Seus vinhos apresentam aromas florais, frutados (frutas brancas) e herbais, com um toque mineral em boca e retrogosto de mel. Uma de suas qualidades é a aptidão para envelhecer bem, ganhando mais amplitude em boca e complexidade aromática. Visitei a Mastroberardino, um dos mais importantes produtores da região, há 10 gerações vinificando, e que foi responsável pela replantação de uvas nativas, como a Fiano, após o desastre da filoxera.
A outra cepa extraordinária é a Greco, plantada em diferentes áreas, mas que tem a comuna de Tufo, na Irpinia, como seu melhor território. Pode ser confundida com outras variedades denominadas Greco (como a Greco Bianco, da Calábria), que são distintas. O nome Greco remete à influência grega na viticultura meridional italiana, o que pode dar a ideia de que são variedades gregas. Porém, a conexão se deve mais ao fato de terem dado origem a vinhos no estilo doce, muito apreciado pelos gregos no passado.
A Greco da Campania assina a DOCG Greco di Tufo e faz um vinho de marcada acidez e mineralidade, com boa estrutura de corpo, ganhando mais charme com a idade, quando a já expressiva salinidade em boca se mistura a notas de sílex e toques defumados.
A região tira seu nome do subsolo tufáceo, com notáveis reservas de enxofre, uma derivação do histórico geológico vulcânico dessa área. A atividade mineradora de extração de enxofre faz parte do passado da região, praticada pela Cantine di Marzo, que fui visitar. Trata-se de uma das mais antigas cantinas do sul da Itália, fundada em 1647, a primeira a produzir o Greco di Tufo. Desde 2009, é administrada pela família di Somma, descendentes dos Di Marzo, que buscam resgatar a importância e a visibilidade desta verdadeira joia de vinho branco.
A terceira estrela dessa área, que não é exclusiva da Campania, mas ali faz provavelmente o seu melhor vinho, é a variedade tinta Aglianico, também considerada uma das melhores uvas italianas. Trata-se de uma uva de casca espessa, rica em taninos e que se adapta bem a áreas montanhosas, especialmente em solos vulcânicos. Assim como outras dali, amadurece tardiamente e lentamente, beneficiada pela amplitude térmica que a região propicia.
A Aglianico faz vinhos estruturados, ricos em taninos e acidez, muitas vezes apelidados de “Barolo do Sul”, especialmente os originários da DOCG Taurasi, da Irpinia. Ali, os vinhedos são plantados em um solo de base calcária e vulcânica. A DOCG exige um mínimo de três anos de guarda (um ano em carvalho) antes da comercialização e, para os Riserva, quatro anos (um ano e meio em carvalho). Visitei a Cantine Perillo, verdadeiros artesãos do Taurasi, cujos vinhos levam, em média, 10 anos para serem comercializados. Vinhos ricos, estruturados e elegantes, com aromas de frutas pretas (mirtilo), toques de menta e especiarias.
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