Os membros do Banco Central Europeu (BCE) discutiram a possibilidade de adotar um esquema de isenção da taxa de depósitos para os bancos, a fim de reduzir o impacto desta taxa sobre a lucratividade das instituições financeiras, mas a medida não foi considerada necessária neste momento.
Segundo a ata da reunião de política monetária dos dias 9 e 10 de março, na qual a taxa de depósitos foi reduzida de -0,3% para -0,4%, os membros consideraram que um esquema de isenções mitigaria parte dos efeitos negativos sobre os lucros dos bancos. A taxa de depósitos, por estar negativa, penaliza o dinheiro que os bancos comerciais deixam parado no banco central, e é uma forma de estimular a circulação desse dinheiro via concessão de empréstimos.
No Japão, que também adotou uma taxa parecida, a penalidade recai apenas sobre uma parcela das reservas bancárias, justamente para reduzir o impacto negativo. O BCE não especificou se o esquema de isenções discutido por seus membros seria aplicado a uma parte das reservas, como no caso do Japão, ou a uma parte dos bancos, que ficariam livres da cobrança.
De qualquer maneira, os membros do BCE se mostraram receosos diante da complexidade do sistema de isenções do ponto de vista operacional. Além disso, eles notaram que há poucas evidências dos supostos efeitos negativos da taxa até agora.
“Neste contexto, a introdução de um esquema de isenções não foi considerada necessária neste estágio”, diz a ata.
Juros
Os membros do BCE deixaram aberta a possibilidade de fazer novos cortes nas taxas de juros no futuro, caso isso seja necessário para impulsionar a inflação. “O Conselho Diretor não descarta futuros cortes nas taxas de juros, uma vez que novos choques podem mudar a perspectiva para a inflação e exigir mais medidas de política monetária, sendo que as taxas de juros continuam fazendo parte da caixa de ferramentas do BCE”, diz a ata.
Sobre a taxa de depósitos, os membros do BCE chegaram a considerar um corte maior, junto com a indicação de que a taxa teria atingido o limite mínimo. No entanto, também foi sugerido manter o corte de 0,1 ponto percentual (pp) porora, indicando que havia a possibilidade de mais cortes no futuro se necessário para alcançar a meta de inflação.
“A maioria dos membros preferiram o corte de 0,1 pp, mantendo no comunicadoa frase [de que os juros continuarão] ‘nos níveis atual ou inferiores'”, diz a ata.
Mais estímulos
O pacote de estímulos monetários adotado desde junho de 2014 pelo BCE tem sido efetivo, mas o banco pode lançar afrouxamento adicional para compensar choques externos à economia da Zona do euro, afirmou o economista-chefe da instituição, Peter Praet, em discurso na Alemanha.
“Se mais choques adversos se materializarem, nossas medidas podem ser recalibradas mais uma vez para fazer frente à força dos fatores contrários, também tendo em conta possíveis efeitos colaterais”, disse ele. Para Praet, as políticas do BCE têm “levado a um substancial afrouxamento de condições financeiras”, o que causa melhora tanto no Produto Interno Bruto (PIB) quanto na inflação.
Ele destaca que os argumentos de que a política do BCE não funciona porquea inflação manteve-se moderada são equivocados, uma vez que não foi levada em conta a série de choques enfrentados desde meados de 2014. “Se a inflaçãomanteve-se fraca, não é porque a política monetária tem sido ineficaz, mas sim porque novos choques atingiram a economia no mesmo período.”