Lavrov apóia declarações de Lula e Brasil chama de volta embaixador em Israel

Na Etiópia, presidente classificou as mortes de civis em Gaza como genocídio; no Brasil, Alckmin diz que posição é pela paz na Palestina

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Sergei Lavrov (foto de Alexander Zemlianichenko Jr, Xinhua)

Nesta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem direito à sua própria avaliação do que está acontecendo, na Faixa de Gaza, como qualquer chefe de Estado.

“Não responderei por outros países. Respeitamos a opinião expressa pelo líder de qualquer país e partimos do fato de que cada um tem direito à sua reação. Não reagimos a esse discurso do presidente Lula, mas vemos como, independentemente de alguém não comparar esta situação com outra, ou não compará-la, vemos como milhares de pessoas inocentes estão sofrendo”, explicou Lavrov. 

O Brasil chamou de volta o embaixador em Israel, Frederico Meyer, para consultas. A informação foi veiculada pela TV Globo e confirmada pelo Ministério da Relações Exteriores. Nesta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, voltou a criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por suas declarações sobre operações israelenses na Faixa de Gaza e o corte de ajuda humanitária a habitantes da região. Nas redes sociais, Katz declarou Lula persona non grata.

“Nós não perdoaremos e não esqueceremos – em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, informei ao presidente Lula que ele é persona non grata em Israel até que se desculpe e se retrate por suas palavras” postou o embaixador israelense.

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Absurdo

O ex-ministro das Relações Exteriores e atual assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, comentou ao blog da Andréia Sadi, no G1, que a decisão israelense de declarar Lula persona non grata “é coisa absurda. Só aumenta o isolamento de Israel. Lula é procurado no mundo inteiro e no momento quem é [persona] non grata é Israel”.

O embaixador brasileiro em Israel foi convocado para perto de Vashem, “o lugar que testemunha mais do que qualquer outra coisa o que os nazistas e Hitler fizeram aos judeus, incluindo membros da minha família”, declarou Israel Katz.

“A comparação do presidente brasileiro Lula entre a guerra justa de Israel contra o Hamas e as ações de Hitler e dos nazistas, que destruíram 6 milhões de judeus, é um grave ataque antissemita que profana a memória daqueles que morreram no Holocausto.”

Ontem, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que a fala de Lula equivale a “cruzar uma linha vermelha”.

“As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”.

Lula na ONU (Foto: Li Rui/Agência Xinhua)
Lula na ONU (Foto: Li Rui/Agência Xinhua)

Em entrevista coletiva durante viagem oficial à Etiópia, o presidente brasileiro havia classificado as mortes de civis em Gaza como genocídio, criticou países desenvolvidos por reduzirem ou cortarem a ajuda humanitária na região e disse que “o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.

“Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças”, disse Lula.

A Palestina foi uma das pautas de sábado de Lula em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou da 37ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana e teve reuniões bilaterais, uma delas com o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh.

No seu discurso na abertura da cúpula, o líder brasileiro falou do conflito na Faixa de Gaza, dos rumos da geopolítica mundial e dos laços com a África. Lula condenou os ataques do Hamas e a resposta desproporcional de Israel. “A solução para essa crise só será duradoura se avançarmos rapidamente na criação de um Estado palestino. Um Estado palestino que seja reconhecido como membro pleno das Nações Unidas” disse o presidente.

Com Shtayyeh, Lula conversou sobre a situação na Faixa de Gaza e o primeiro-ministro agradeceu o apoio de Lula ao Estado palestino.

No Brasil, o vice-presidente Geraldo Alckmin, disse que a posição de Lula é pela paz na Palestina. “O que ele defende é a paz. O que ele quer é a paz, que haja aí um cessar-fogo no sentido da busca pela paz”, enfatizou após participar de encontro na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O vice-presidente enfatizou ainda que, por diversas vezes, Lula condenou os ataques do Hamas contra a população civil de Israel em outubro do ano passado.

“Em relação à colocação do presidente Lula, eu acho que é clara a sua posição. De um lado, deixou claro que a ação do Hamas foi uma ação terrorista, isso eu ouvi dele em vários pronunciamentos.”

Autodeterminação palestina

O ministro dos Negócios Estrangeiros e Expatriados palestino, Riyad Al-Maliki, exigiu, nesta segunda-feira, respeito pelo direito do povo palestino à autodeterminação no âmbito das audiências públicas do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) sobre a ocupação israelita.

O ministro explicou que é tempo de pôr fim à política de dois pesos e duas medidas em relação à causa palestiniana, sublinhando que o direito do povo palestino à autodeterminação foi rejeitado durante mais de 100 anos.

“O direito à autodeterminação não está prescrito e é inegociável, e a ocupação israelense deve terminar incondicionalmente”, disse.

Por sua vez, Al-Maliki enfatizou que o atual genocídio sionista contra o povo palestino é consequência de décadas de impunidade para Tel Aviv, enquanto isso, ele pediu o fim das práticas de ocupação.

prédios destruídos em gaza após ataque aéreo israelense; causa palestina
Prédios destruídos em Gaza após ataque aéreo israelense (foto de Rizek Abdeljawad, Xinhua)

Ele também enfatizou a necessidade de aplicar as normas do direito internacional, assegurando ao mesmo tempo que a paz é a única maneira sustentável de alcançar justiça para o povo palestino.

O mais alto tribunal das Nações Unidas iniciou hoje audiências públicas para emitir um parecer jurídico não vinculativo sobre as ações israelitas no território palestiniano ocupado desde 1967.

Cerca de 50 países apresentarão relatórios nas audiências que durarão até 26 de fevereiro e estão sendo realizadas a pedido da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Matéria atualizada às 14h15, para acréscimo da posição de Geraldo Alckmin; às 15h10 para inclusão da informação de que Lula chamará de volta o embaixador brasileiro; às 17h01, para confirmação de que o Brasil chamou o embaixador em Israel; e às 20h12 para inserir informações sobre o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrove Lavrov, e do ministro dos Negócios Estrangeiros e Expatriados palestino, Riyad Al-Maliki.

Com informações da Agência Brasil, da Agência de Notícias Brasil-Árabe, Sputnik Brasil, Opera Mundi e TelesurTV

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