Conversamos sobre créditos de carbono com Ricardo Stoppe, presidente do Grupo Ituxi.
O que faz a Ituxi?
A Ituxi é a maior produtora de créditos de carbono do mundo. Nós compramos áreas que seriam desmatadas e fazemos projetos de crédito de carbono que são auditados e certificados. Com isso, nós vamos ao mercado internacional para negociá-los.
Atualmente, nós temos oito projetos com um milhão de hectares em área protegida no estado do Amazonas, mas estamos vendo a possibilidade de desenvolvermos projetos no Pará, Amapá e Roraima, pois estamos sendo chamados pelos governos desses estados.
Quando a Ituxi compra uma área, ela desenvolve sempre o mesmo tipo de projeto ou desenvolve projetos diferentes de acordo com as áreas adquiridas?
Existem cinquenta tipos de créditos de carbono, como do mar, Blue Carbon, do Serrado, da Caatinga e do pasto. O crédito que a Ituxi mais desenvolve é o REDD (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation).
Como os créditos são oferecidos no mercado? Existe uma plataforma onde os interessados se concentram ou você tem que bater na porta das empresas?
No mercado brasileiro, você tem que bater na porta das empresas. No caso dos créditos da Ituxi, que são certificados há vários anos e que possuem uma validação triple A pelo Sylvera, as empresas vêm atrás para comprá-los, mesmo com o preço sendo mais alto.
Quais são as perspectivas de valor desse mercado?
Quando eu comecei no início da década de 2010, eu cansei de ir a bancos e empresas para mostrar o que eram os créditos de carbono, mas só agora eles começaram a ver que o mundo está deficitário na produção desses créditos. Por exemplo, na Europa, que possui um mercado estimado em 40 bilhões de créditos regulados, eles proibiram a saída de créditos do continente, pois não vai haver créditos suficientes para atender o mercado. Lá, os créditos de € 80 euros foram para € 100. Se eles não tivessem proibido a saída de créditos, o valor chegaria a € 200.
Há alguns anos, os créditos de carbono no mercado brasileiro estavam sendo negociados a US$ 2,50, sendo que hoje eles já estão saindo próximos a US$ 15. Até 2030, é possível que o valor dos créditos de carbono produzidos no Brasil cheguem a valores próximos dos créditos europeus, pois não há créditos no mundo.
Como uma empresa quantifica o volume de créditos que ela precisa comprar e com qual periodicidade ela precisa adquiri-los?
A empresa precisa contratar pessoas da área ambiental para fazer essa avaliação, que, geralmente, é feita por engenheiros florestais. Com relação à periodicidade, as empresas montam projeções, pois elas precisam comprar créditos o tempo todo. Por exemplo, foi estimado que a Petrobras vai precisar de 18 milhões de crédito por ano. No caso da Vale, essa estimativa é de 13 milhões. Esses números foram calculados com base nas suas emissões.
Como se verifica se um determinado projeto está gerando o volume de créditos que haviam sido prometidos?
Os projetos têm que ser auditados todos os anos para que se verifique se, realmente, eles estão gerando créditos ou se houve derrubada de árvores ou queimadas. Existem muitos projetos que caem, pois as empresas responsáveis pelo desenvolvimento não veem que as áreas foram derrubadas ou queimadas.
Eu me lembro de uma vez ter visto uma reportagem onde o ex-primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, aparecia plantando árvores para compensar os gases emitidos durante suas viagens de avião. Só que na mesma reportagem, uma pessoa dizia que se todos que viajam de avião fossem plantar árvores para compensar os gases emitidos nas suas viagens, não haveria espaço no planeta para plantá-las. Os produtores de créditos de carbono conseguem suprir as necessidades desse mercado?
Você fez uma comparação interessante que eu costumo falar no meu lema: mata em pé vale mais que a mata deitada. Como um projeto de plantio de árvores demora demais e o seu custo é muito alto, é melhor evitar a derrubada. Um projeto de reflorestamento custa US$ 50 mil anuais por hectare, sem contar que a árvore só vai absorver carbono depois de quatro anos. É por isso que a melhor opção é evitar a derrubada.
Os créditos ainda estão dando conta do mercado, mas até 2030 isso não vai mais acontecer. Hoje, o mercado voluntário, ou seja, não regulado, é estimado em 1 bilhão de créditos, enquanto o mercado regulado é estimado em 40 bilhões. Estima-se que o mercado voluntário terá que igualar o mercado regulado para que a demanda até 2030 seja atendida. Imagine quanto o valor dos créditos vai subir.