Jane Fonda, charme e elegância, aos 87 anos

Jane Fonda, aos 87 anos, encanta com elegância e discurso inspirador ao receber prêmio da SAG: sua trajetória e legado no cinema.

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Jane Fonda
Jane Fonda (foto reprodução Grace and Frankie, Netflix)

A atriz Jane Fonda apareceu exuberante, elegante e sempre charmosa, em Los Angeles, na semana passada, para receber o prêmio da Screen Actors Guild (SAG), pelo conjunto da sua obra cinematográfica. Com voz firme, fez um discurso engajado, levando a plateia, em determinados momentos, a se colocar de pé para aplaudir a diva, que, aos 87 anos, continua sendo capaz de arrebatar multidões por onde passa.

Fonda destacou que o SAG é diferente de outros sindicatos, já que os atores não criam algo tangível, mas sim “criam empatia”. Fonda falou sobre atores ajudarem o público a criar empatia pelo próximo. “Nós, atores, criamos empatia. Nosso trabalho é entender o ser humano de uma forma tão profunda que possamos tocar suas almas.”

O momento fez com que o público do SAG ovacionasse a atriz, quando frisou a importância da comunidade e da união entre as pessoas. “Eu acredito nos sindicatos. Eles nos apoiam, faz com que nos unimos e nos dão poder. Comunidade significa poder, e isso é muito importante, principalmente quando o poder dos trabalhadores está sendo atacado e a comunidade segue sendo oprimida.”

Ela compartilhou algumas de suas visões sobre atuação, incluindo que “embora você possa odiar o comportamento do seu personagem, você precisa entender e ter empatia com a pessoa traumatizada que está interpretando”, usando como exemplo, dentre outros, o indicado ao Oscar Sebastian Stan, vivendo Donald Trump, no filme The Apprentice.

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A atriz, crítica declarada do presidente dos Estados Unidos, também fez referência a eventos atuais. “Muitas pessoas vão ser realmente prejudicadas pelo que está acontecendo, pelo que está vindo em nossa direção.” E acrescentou, “mesmo que sejam de uma persuasão política diferente, precisamos apelar para nossa empatia e não julgar, mas ouvir com nossos corações e recebê-los em nossa tenda, porque vamos precisar de uma tenda grande para resistir com sucesso ao que está vindo em nossa direção.”

Vencedora de dois Oscar, oito Globo de Ouro, dois Bafta e um Critics Choice Televiison Awards, Fonda fez referências a eventos marcantes da história, como o movimento pelos Direitos Civis, e disse: “estamos em nosso momento documental.”  Ela terminou sua fala oferecendo palavras de encorajamento: “Ainda haverá beleza, e haverá um oceano de verdade para nadarmos do outro lado”.

Empolgada e esbanjando simpatia e alegria, Fonda lembrou à plateia: “Não tem problema ser um late bloomer, desde que você não perca o show de flores”. “Late bloomer” é uma expressão em inglês para flores que desabrocham mais tarde, uma metáfora para quem atinge o sucesso ou mostra seus talentos mais velhos. “Sou uma late bloomer. Este é o show de flores”, disse, gesticulando para sua estatueta. “Sim. Eu amo atuar. Podemos abrir a mente das pessoas para novas ideias, levá-las além do que entendem do mundo e ajudá-las a rir quando as coisas estão difíceis, como agora.”

Nascida em Nova York, Fonda é filha do ator Henry Fonda com Frances Seymour Ford. Antes de dar início à carreira de atriz, foi modelo, nos anos 1950, tendo estampado a capa de diversas revistas de moda, dentre elas a Vogue. Fonda se interessou pela atuação em 1954, após ter atuado com o pai numa produção beneficente na peça The Country Girl. Estudou no Emma Willard School, em Troy, e na Faculdade Vassar, em Poughkeepsie, onde foi uma aluna notável.

Seus trabalhos no teatro no final da década de 1950 estabeleceram os alicerces para sua carreira no cinema na década seguinte. Gravou quase dois filmes por ano até o fim da década, a partir de Tall Story (1960), no qual recriava uma de suas personagens mais famosas da Broadway: uma líder de torcida que perseguia um astro do basquete, interpretado por Anthony Perkins. Logo em seguida estrelou em Period of Adjustment e Walk on the Wild Side, ambos lançados em 1962. Em A Walk on the Wild Side, pelo papel de uma prostituta, ganhou o Globo de Ouro de atriz novata mais promissora.

Em 1963, estrelou Sunday in New York. O jornal Newsday afirmou que Fonda se tratava da “mais adorável e talentosa de todas da nossa nova geração de atrizes”.  O maior avanço da carreira veio com Cat Ballou (1965). O filme, uma comédia western, recebeu cinco indicações ao Oscar (venceu o de melhor ator para Lee Marvin) e foi um dos dez filmes de maior bilheteria do ano nos Estados Unidos. Esse filme é considerado para muitos o ponto de ruptura na carreira de Fonda, trazendo-a para o estrelato aos 28 anos. Após, protagonizou as comédias Any Wednesday (1966) e Barefoot in the Park (1967), a última ao lado de Robert Redford, e Barbarella (1968). Este último dirigido por seu primeiro marido, o cineasta Roger Vadim.

Sete vezes indicada ao Oscar, recebeu sua primeira nomeação por A noite dos desesperados, (1969), e ganhou o prêmio de melhor atriz duas vezes na década de 1970, por Klute – O Passado Condena (1971) e Amargo Regresso (1978). Em 1972, estrelou como uma repórter ao lado de Yves Montand em Tout va bien, clássico marxista de Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin. No mesmo ano, os diretores fizeram um documentário intitulado Letter to Jane, no qual ficam quase duas horas comentando sobre uma foto da atriz quando de sua visita ao Vietnã do Norte.

Entre Klute (1971), e Fun with Dick and Jane, (1977), passou parte da primeira metade da década sem um grande sucesso, apesar de ter estrelado em filmes alternativos aclamados como A Doll’s House (1973), Steelyard Blues e The Blue Bird (1976), o último, filmado na União Soviética, ao lado de Elizabeth Taylor, Ava Gardner e Cicely Tyson.

Amargo Regresso (1978) foi um grande sucesso de público e de bilheteria. Suas outras indicações ao Oscar foram por Julia (1977), Síndrome da China (1979), Num Lago Dourado (1981) e A Manhã Seguinte (1986). Os sucessos consecutivos em Adivinhe Quem Vem Para Roubar (1977), California Suite (1978), O Cavaleiro Elétrico (1979) e Como Eliminar seu Chefe (1980) a manteve na liderança nas bilheterias.

Ainda em1980, estrelou em Nine to Five, ao lado de Lily Tomlin e Dolly Parton. Fonda estava querendo fazer um filme com seu pai há algum tempo, esperando que a relação entre os dois melhorasse. Atingiu à meta quando comprou os direitos de filmagem de On Golden Pond (1981). Katharine Hepburn se juntou aos dois no elenco principal. O filme rendeu a Fonda sua única indicação ao Oscar na categoria de melhor atriz coadjuvante/secundária e a Henry Fonda seu único Oscar de melhor ator, que a filha aceitou em seu nome, uma vez que o veterano ator já estava muito doente. Henry Fonda morreria cinco meses depois.

Em 1982, a atriz lançou um VHS chamado Jane Fonda’s Workout, um programa de exercícios baseado em seu livro que se tornou o VHS mais vendido de todos os tempos. Seria o primeiro de 22 vídeos desse tipo que lançaria nos 13 anos seguintes, do qual mais de 17 milhões de cópias entre livros, vídeos e áudios foram vendidas no mundo todo.

Em 1984, recebeu Prêmio Emmy, por sua atuação no telefilme Esculpindo Minha Vida.

Divorciada de seu segundo marido, Tom Hayden, se casou com o bilionário magnata da mídia Ted Turner, em 1991, e demonstrou desejo de se aposentar, após uma série de filmes concluídos por Stanley & Iris. Fonda se divorciou de Turner, em 2001, e voltou ao cinema com o sucesso A Sogra (2005). Embora ela seja a poderosa (2007) tenha sido o seu único outro filme durante os anos 2000.

Em 2009, retornou aos palcos da Broadway, em sua primeira performance, desde 1963, em 33 Variations, de Moises Kaufman. Pelo papel, recebeu uma indicação ao Tony de melhor atriz. Em 2015, estreou no seriado da Netflix Grace and Frankie, que protagonizou com Lily Tomlin. Os trabalhos subsequentes incluíram O Mordomo da Casa Branca (2013), Sete Dias sem Fim (2014), La Giovinezza (2015), Nossas Noites (2017) e Do Jeito que Elas Querem (2018).

Jane Fonda é uma estrela e ativista política. Defensora de uma vida saudável, sempre cuidou do corpo e da mente, está chegando aos 90 anos cheia de vitalidade, impressionante lucidez, bela oratória, postura corporal irreparável, elegante e com disposição de ainda encarnar outros personagens, para a alegria de todos os seus incontáveis fãs mundo afora.

Parabéns, Jane Fonda, pela premiação e pelo exemplo que transmite, por sua trajetória, gestos e ações.

Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.

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