Juros baixos, falsos profetas e promessas vazias

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A onda de juros baixos permanece por um ano e meio, e a perspectiva é de que a Selic recue mais 0,5 ponto percentual até o fim do ano. Conclusão 1: não dá mais para ficar só na renda fixa tradicional. Conclusão 2: a renda variável, que seria uma das saídas apresenta alta volatilidade, e é preciso conhecer o funcionamento do mercado de ações para investir. Conclusão 3: não existe mais ganho falso. Conclusão 4: a nova realidade dos investidores abre precedente para que muitos ganhem dinheiro fácil se aproveitando da ignorância financeira alheia.

Acabou a história de comprar títulos públicos que entregavam 12%, 13% ou 14% ao ano que era uma maravilha. A perspectiva é de nova baixa dos atuais 5,5%, ou seja, o conforto e a segurança do investidor vão resultar em uma rentabilidade baixa. Estamos nos aproximando de Estados civilizados, o que dificulta a vida dos investidores que acabam buscando novas modalidades de investimento”, diz Alexandre Costa Rangel, da Costa Rangel Advogados. A questão é: há maturidade para isso?

Quase todos os dias, em sala de aula, algum aluno aparece com uma novidade de investimento. Recentemente era um aplicativo da A2Trader que prometia ganhos financeiros de até 4% a cada dia. Nada mal, para quem olha o mercado e vê que os ganhos reais anuais estão abaixo disso. Mas, quando a esmola é demais, o santo não deve só desconfiar, mas também saltar fora. A plataforma “garante” uma rentabilidade de 160% em apenas 40 dias e diz que seus lucros são fixos e garantidos.

O aluno convidado recebeu a seguinte proposta: investir R$ 500, o que corresponderia a 10 ações. Seu ganho total, segundo o vendedor seria de R$ 300 em pouco tempo. Após o ingresso na plataforma, ela poderia usufruir também o ganho pelo bônus de indicação: 10% no nível primeiro, 3% nível no segundo e 2% no terceiro. Além disso, o “investidor” pode fazer seu plano de carreira, ganhando prêmios em sua rede de indicados até o décimo nível. Uma suspeita de pirâmide em forma de aplicativo e que está sendo investigada pelos órgãos reguladores.

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Propostas como estas saem aos borbotões no mercado. Não é à toa que a página de reclamações da CVM tem sido cada vez mais acessada. A autarquia prevê para este ano mais de 300 denúncias contra não-participantes do mercado. Até 31 de julho, já foram abertos 152 processos, enquanto em todo o ano passado, o número somou 124 processos. Ao mesmo tempo, diversas ofertas de ativos foram interrompidas pelo órgão regulador, que se associa a outras entidades para controlar as operações que enganam os mais incautos. “O que vemos é que o discurso ao investidor muitas vezes privilegia mais o aspecto comercial, estimulando às vantagens daquele investimento, do que fazer com que ele coloque os pés no chão ao destacar dos riscos de perda. Estes viram uma nota de rodapé”, alerta o advogado.

Tão tóxicos quanto as ofertas irregulares e, algumas vezes até criminosas, são os falsos profetas de investimentos. Os influenciadores digitais do mercado criam uma capa de conhecimento único e conquistam milhares de seguidores com suas recomendações, mesmo que não tenham conhecimento suficiente para isso. A cada dia no mercado, surgem blogs e yotubers que vão fazer você ficar rico ponto com ponto br. Os seguidores, que pouco têm conhecimento para distinguir os riscos e mal conhecem de produtos financeiros, seguem cegamente e pagam a assinatura mensal até para participarem de grupos de WhatsApp.

A gana de conseguir rentabilidade sempre existiu e sempre existirá. O momento atual requer maior cautela e criticidade. “O investidor brasileiro precisa se informar melhor sobre tudo o que está batendo na porta dele. A preocupação dos reguladores deve ser do regime formacional”, complementa Rangel. E ele tem razão, sem educação financeira e diante da tecnologia, a CVM não consegue ser mãe de todo mundo e proteger todos os investidores de esquemas falsos ou promessas vazias.

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