Ladeira abaixo

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Antes de reivindicar privilégios inaceitáveis para os capitais alemães no país, como a interdição a qualquer tipo de controle, o chanceler Gerhard Schröder deveria explicar aos consumidores brasileiros a tecnologia usada na confecção de peças para os carros vendidos aqui. Afinal, a controladora da Continental do Brasil – fornecedora de Fiat, Ford, GM e Wolkswagen – é a alemã Continental AG.

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Mesmo se analisado pela mesma unidade de medida que o constitui, o jornalismo de tese chegou a um ponto em que os exageros já ultrapassam a desqualificação para cair no ridículo mesmo. Depois de camuflar durante longos meses a recessão norte-americana, apelidando-a de desaceleração e vôo suave, entre outras maquiagens, aquele tipo jornalismo se dedica agora a “retirar” os Estados Unidos da recessão, pelo menos nas páginas dos jornais.
Nem a dedicação apaixonada à causa, porém, deveria evitar maior cuidado antes de adotar ilações bizarras e pouco consistentes. Primeiro, os fatos. Em novembro, o estoque da indústria dos EUA caiu, pelo 11º mês consecutivo. No mesmo período, no entanto, as vendas permaneceram estagnadas.
Agora a propaganda. O jornalismo de tese conclui do exposto que os EUA começam a sair da recessão. Tem-se, assim, depois da euforia da economia virtual das pontocom, a retomada virtual do crescimento, numa fórmula que transforma a soma de vendas estagnadas com a não reposição de estoques em fato positivo.
Se é para fazer ficção, é melhor chamar o Spilberg.

Volta ao passado
A participação dos negócios agrícolas foi decisiva para, pela primeira vez desde o início do longo reinado do presidente FH, em 1995, a balança comercial brasileira fechar um ano com superávit – US$ 2,64 bilhões. O desempenho do setor enseja, no entanto, dois sentimentos contraditórios. Ao mesmo em que mostra o vigor e a competitividade do país na área, revela, cerca de 70 anos depois do início da Era Vargas, que o Brasil voltou a ostentar a precária condição de nação exportadora de produtos primários, ou com baixo valor agregado.

Herança
O inferno astral vivido pelo governador Geraldo Alckmin, cuja face mais visível é o caos na segurança, não surpreende os que acompanham, sem lentes cor de rosa, os sete anos de governo tucano em São Paulo. Ele é fruto da opção preferencial de seu antecessor, Mário Covas, pelo ajuste fiscal. Poucos governos estaduais cortaram tantos investimentos e demitiram tanto, para priorizar o pagamento de juros, como Covas, que, embora beatificado depois de morto, em vida, não saía às ruas sem seguranças.

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Matemágica
O belga Eric Toussaint, do Comitê pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM), afirmou, no II Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre na virada de janeiro para fevereiro, que os 187 países que formam conjunto de nações em desenvolvimento transferiram aos países credores mais de US$ 400 bilhões em 1999. “Se nós fizermos a diferença entre o valor da dívida e o valor reembolsado pelos países pobres, iremos verificar uma diferença, no valor de US$ 150 bilhões pagos a mais.”
“Matemática estranha esta das finanças internacionais: tomo como empréstimo um, pago dois e continuo devendo três”, ironizou o representante do Peru, Luis Miguel Ramos.

Fora dos trilhos
A privatização da Ferrovias Bandeirantes S.A. (Ferroban) e da Ferrovias Norte Brasil S.A. (Ferronorte) teve, para os seus trabalhadores, o efeito de um trem de carga descendo uma ladeira desgovernado. O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias denuncia que as concessionárias, privatizadas em 1999, promovem cisões, fusões e criam unidades de negócio sem a anuência do Ministério dos Transportes. Além disso, a Ferroban pôs cerca de um terço de seu pessoal – de um total de 3.100 trabalhadores – em licença remunerada forçada. A entidade pediu ao Ministério Público que investigue a sucessão de demissões imotivadas, transferências irregulares e desvios de função, promovidas pelas concessionárias, privatizadas em 1999.

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