A inflação persistentemente alta pode suspender quaisquer planos de cortes nas taxas de juros de curto prazo na Europa, disse Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), em entrevista à Bloomberg News nesta quarta-feira.
Falando em Davos, na Suíça, onde se realiza o Fórum Econômico Mundial, ela alertou contra cortes precipitados nas taxas por medo de fazer com que a inflação subisse novamente, argumentando que o risco de cortar os juros muito rapidamente era maior do que o risco de deixá-los altos.
“Estamos indo na direção certa na nossa luta contra a inflação”, escreveu Lagarde na rede social Twitter/X. “Mas não vamos cantar vitória antes de estarmos confiantes de que a inflação está em 2% de forma sustentável.”
De acordo com novos dados do Eurostat, a agência de estatísticas da União Europeia (UE), a inflação anual na Zona do Euro foi de 2,9% em dezembro, acima dos 2,4% do mês anterior. Isto está muito abaixo dos picos históricos registados no final de 2022, mas também representou uma recuperação significativa em um mês, após um declínio constante nos últimos meses.
As taxas de inflação anual mais elevadas em dezembro foram registadas na Eslováquia (6,6%), Áustria (5,7%) e Croácia (5,4%).
No Reino Unido, que não integra mais a UE e não faz parte da Zona do Euro, a inflação situou-se em 4% no mês passado, pouco acima dos 3,9% em novembro, segundo dados divulgados nesta quarta-feira. Esse foi o primeiro aumento da inflação no Reino Unido desde fevereiro de 2023, disse o Gabinete de Estatísticas Nacionais do país.
Com a alegação de que estava combatendo a inflação, que foi alimentada por uma crise energética decorrente das sanções impostas pelos Estados Unidos à Rússia devia à guerra na Ucrânia, o BCE aumentou as taxas de juro em dez reuniões consecutivas, até 4% – o nível mais elevado desde a criação do euro em 1999.
O Banco de Inglaterra iniciou subidas das taxas mais cedo do que o BCE e manteve-as durante mais tempo, elevando as taxas em 14 reuniões consecutivas para o máximo dos últimos 15 anos, em 5,25%, mantendo assim desde agosto.
O efeito da alta e da queda das taxas de juros do BCE
Taxas de juro mais elevadas reduzem a oferta monetária e tornam mais atrativo para os investidores manterem as suas poupanças em vez de as gastarem. Mas é um jogo de equilíbrio que pode minar o crescimento econômico. Da mesma forma, a redução das taxas de juro aumenta a oferta monetária e pode impulsionar a economia.
À medida que a inflação começou a abrandar na Zona do Euro e em outras partes da Europa no final de 2023, os investidores começaram a especular que o BCE poderia estar preparado para começar a reduzir em breve as taxas de juro. No entanto, a observação de Lagarde descartou tais esperanças.
“As taxas de inflação estão se estabilizando lenta e progressivamente, e o prognóstico é de uma nova descida nos juros em 2024”, disse Domenico Lombardi, diretor do Observatório de Políticas da Universidade Luiss, em Roma, à agência de notícias Xinhua. “Mas os decisores políticos estão cautelosos porque o estado das economias europeias é frágil devido a múltiplos choques econômicos nos últimos anos”.
Lombardi culpou a pandemia do coronavírus, a crise energética e a retração no comércio global pela situação econômica.
Os mercados financeiros responderam negativamente às últimas tendências das políticas financeiras, com a maioria das principais bolsas de valores da Europa caindo ao menos 1%, enquanto o euro perdia terreno para o dólar e outras moedas importantes.