Lentes róseas

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O florescimento de análises róseas sobre o fim iminente da crise e da superestimação de sinais que apontariam para uma suposta desaceleração da recessão mundial confirmam a dificuldade de os homens mudarem os modos de pensar mesmo em tempos de efervescência. Além de tímida, insuficiente e inconsistente, a melhora dos indicadores a que se agarra o polianismo contemporâneo tem mais a haver com vontades desejosas que com análises sólidas sobre o estágio da crise. Também revelam uma visão compartimentada sobre esses processos, como se fossem movimentos lineares e homogêneos. Ora, o que caracteriza a crise é justamente o imprevisto, o que inclui solavancos, fases de calmaria e retomada mais forte das turbulências. Mas a riqueza e a complexidade desses momentos parece pouco escapar aos defensores dos velhos paradigmas.

Dinossauro
Uma das principais causas da persistência da crise é que detentores dos processos decisórios mundiais não têm a mais vaga idéia sobre que destino dar aos trilhionários ativos tóxicos dos bancos. Sem tirar esse gigantesco dinossauro da mesa –  o que, provavelmente,  resultará num grau maior ou menor de calote – qualquer previsão sobre o fim da recessão fica no campo da ficção.

Querem reescrever a História
Depois da natimorta ditabranda, a neohistoriografia da ditadura militar produz a figura do “talvez tenha sido dedo duro, mas o homenageamos mesmo assim”. Se colar, talvez sintam-se incentivados a produzir o personagem do “torturador patriota”.
O mais curioso é que essa tentativa de releitura da história une os que abertamente militaram, simpatizaram ou usufruíram das benesses do golpe e alguns que, no presente, sentem-se incomodados com o próprio passado de combate ao regime ou, ao menos, tentam restringi-lo a um momento muito específico e esgotado em si mesmo, sem vínculos com os antagonismos contemporâneos.
A releitura do passado nunca é uma operação neutra, nos ensinam os historiadores. Por isso, a apropriação da memória do golpe, não raro, também tem objetivos contemporâneos. Ao buscar esvaziar de sentidos os dois pólos que se constituíram a partir do golpe, as novas narrativas acalentam o sonho de desidratar o conteúdo das demandas dos que se mantiveram no bom combate com a redemocratização e, essencial, a partir da instauração da ditadura neoliberal, nos anos 90.
No entanto, tanto durante a ditadura, quanto na luta contemporânea contra o neoliberalismo nas suas variadas matizes, sempre existirá o contraditório. Não importa que, antes, sufocado pela tortura e pela censura, e, agora, pelas tentativas de desqualificação. Assim, como os instrumentos do autoritarismo foram insuficientes para evitar que os brasileiros se insurgissem contra o regime, também, a mistificação sobre “consenso” a respeito da política econômica não impediu que o Brasil fosse jogado à recessão, abrindo espaço cada vez mais largo para colocar em xeque os incensados “bons fundamentos” que mantiveram o país crescendo a pouco mais de 2% ao ano, em média, e um pouco mais, quando a bolha do novo desenvolvimento mundial encontrava-se prestes a estourar.
Em outras palavras, a História não apenas não acabou, como tende, com o tempo, a cada vez mais decantar as posições dos antagonistas.

Para entender a economia
A diversidade de indicadores e análises macroeconômicas que se vê diariamente nos jornais oferece uma série de interpretações. Para viabilizar um entendimento crítico dos fatos econômicos, o Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ) organiza o curso “Para entender a conjuntura econômica”. Programado para começar dia 29, o curso se destina a estudantes e profissionais de economia, jornalistas, administradores, contabilistas, entre outros. Serão 30 horas-aula, divididas em dez aulas de três horas cada. Mais informações em www.corecon-rj.org.br http://www.corecon-rj.org.br/ ou pelo telefone (21) 2103-0119.

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Radar
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apresenta, nesta terça-feira, às 10h, na sua sede em Brasília, seu quinto Sensor Econômico, referente a maio. Lançado em fevereiro, ele visa a captar, mensalmente, as expectativas econômicas e sociais do setor produtivo, funcionando como um termômetro. O Sensor reflete as perspectivas de 115 entidades de indústria, agropecuária, serviços e comércio e trabalhadores – representando   80% do PIB. A apresentação do indicador será seguida de mesa-redonda sobre as “Perspectivas da Economia Brasileira para 2009 e 2010”, com a presença do presidente do Ipea, Marcio Pochmann, e representantes do setor produtivo.

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