Letra morta

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A pouco mais de dois meses para o fim do ano, o governo liberou menos de 20% do Orçamento aprovado pelo Congresso Nacional. O objetivo, a exemplo de anos anteriores, é atingir, a qualquer custo, o superávit primário (exclui gastos com juros) este ano de 3,5% do PIB exigido pelo acordo com o FMI. As conseqüências desse comportamento, noves fora o desprezo revelado pelo parlamento, pode ser sentido por qualquer brasileiro, economista ou não, nas ruas do país diante do aumento da violência, da degradação da saúde, da educação e muitos outros etc.
Reduzido desde o início do interminável reinado tucano a apêndice do Executivo, o Legislativo ameaça esboçar uma reação. Integrante da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, o senador Amir Lando (PMDB-RO) promete convocar os ministros da área econômica para se explicarem pelo contingenciamento arbitrário de recursos.
A conferir
Lando salienta, porém, que a tesoura da equipe econômica não é aplicada igualmente a todas rubricas. Segundo o senador, ao mesmo tempo em que reduz gastos sociais, a proposta de Orçamento do governo para 2002 prioriza o pagamento dos serviços das dívidas interna e externa: “Isso já ocorreu com os Orçamentos de 2000 e 2001”, relembra Lando, denunciando a interferência do FMI nos orçamentos do país desde o acordo firmado com o país em 1999. O presidente da Comissão de Orçamento, senador Carlos Bezerra (PMDB-MT), também se diz insatisfeito com o corte de recursos para a área social e propõe ampliar o perfil da dívida, além de sugerir novas fontes de receita para 2001. Resta saber se, desta vez, com a eleição batendo às portas, o Congresso vai levar à prática sua ameaça de retomar sua autonomia.

Lucro máximo
Responsável pela organização do concurso para a Petrobras, realizado no fim de julho, a Cespe resolveu repassar seus custos para os candidatos. Além de não garantir a entrega de manual para todos inscritos, a empresa não enviou confirmação do dia da prova, obrigando os candidatos a consultar o Diário Oficial da União, a Internet ou buscar informação no campus da Universidade de Brasília (UnB), embora o concurso fosse nacional. Se era para economizar tanto, bem que a taxa de inscrição poderia ser menos salgada que os R$ 50 desembolsados pelos candidatos.

Jader
O deputado Babá (PT-PA) promete entrar nos próximos dias com ação civil pública junto ao Ministério Público pedindo investigação sobre a desapropriação de terras no Polígono dos Castanhais, no sul do Pará. A negociação, concretizada mediante títulos da dívida agrária (TDAs), data da época em que o Jader Barbalho era ministro da Reforma Agrária e, conforme o deputado, envolve o ex-senador com supostos proprietários das área. “Jader chegou ao Pará, depois de renunciar ao mandato para fugir de processo de cassação, se apresentando como vítima”, afirmou o deputado. Segundo Babá, o peemedebista teria mandado pintar de branco os postes das principais vias de Belém e afixado seu nome.

Caça aérea
A Sata (Serviços Auxiliares de Transportes Aéreos) é caçadora e não caça. Empresa do Grupo Varig responsável pelo atendimento a aeronaves em terra (como, por exemplo, carregamento de babagem), a Sata nega boatos de que estaria sendo negociada para a Swissport (do grupo da quase falida Swissair), que por sua vez estaria na mira da inglesa Candover. Em comunicado aos funcionários, Floriano Zinaro, presidente da Sata, ressalta que a empresa é líder com 65% do mercado da América do Sul e finaliza: “Somos compradores. A Sata não está à venda” (com direito a maiúsculas e exclamação). Para completar, a empresa da Varig conquistou o atendimento à TAP no Brasil, que era feito pela companhia suíça.
Contra-ataque naval
Para mostrar que tudo continua como dantes, a Sata anuncia a entrada num novo segmento. A partir de novembro passa a fazer atendimento a navios de turismo, como o Splendour Of The Seas e os da Linha C. O contrato foi fechado com a Píer Mauá, empresa concessionária do Porto do Rio. A operação, que se estenderá até março de 2002, consiste em embarque e desembarque de passageiros (ônibus especial) e bagagens (além dos tratores convencionais, deverão ser utilizados dois carrinhos elétricos ecológicos, que não poluem).

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O “x” da questão
Não bastasse o terrorismo fundamentalista e o terrorismo de Estado, o leitor brasileiro também está sendo obrigado a conviver com o terrorismo ortográfico. Primeiro foi a dúvida sobre como escrever talibã (ou taliban, ou ainda taleban, como parecem preferir os órgãos de imprensa paulistas, em contraposição aos fluminenses, que optaram pela grafia com til); depois, a denominação de quem nasceu ou habita o Afeganistão (afegão? afegane? e o plural – afegãos, afegães ou afeganes?). Agora, surge a bactéria antraz, que alguns órgãos preferem chamar de antrax ou (como prefere uma revista paulista, mais pernóstica) anthrax. Quanto a este, a dúvida é quase nenhuma. Doença antiga que afeta o gado e é transmissível ao homem, é registrada por todos os dicionários com a grafia “antraz”. Recorrer ao grego “anthrax” é coisa de quem não conhece – ou não gosta de – português.

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