Conversamos sobre o resultado do 4T24 da Log-In com Pascoal Gomes, vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da companhia.
Como a Log-In avalia o seu resultado no 4T24 e em 2024?
A Log-In fez um 4T24 muito forte, sendo que ao longo dos últimos 3 anos e meio, a companhia vem quebrando recordes dos seus indicadores operacionais e financeiros, como receita, resultado, transporte e movimentação de carga, tanto no seu principal negócio, que é a navegação costeira, quanto nos seus negócios de terminais e de transporte rodoviário. O consolidado da Log-In foi fantástico, com a sua receita e o seu Ebitda crescendo 30%.
Com relação ao resultado do ano, ele já mostra o desafio que vivemos nos trimestres anteriores. Nós tivemos um crescimento de 20% da receita com um lucro operacional mais em linha com o resultado de 2023. O negócio de navegação costeira sofreu muito com atrasos e perdas de escala nos terminais portuários, já que existe um caos instalado no setor com terminais colapsados. Vale ressaltar que o negócio de cabotagem é um carrossel. Se você perde uma escala ou uma escala atrasa, você atrasa o carrossel inteiro, o que gera implicações muito grandes para o resultado, em termos de custos extras, e para o nível de serviço. Além disso, nós tivemos o segundo ano de seca na Região Norte do país. Como os rios secaram e a operação ficou interrompida por um tempo, nós desenvolvemos um pier flutuante e conseguimos operar melhor do que em 2023, que foi o primeiro ano dessa seca histórica. Dentro desse desafio, ter crescido no 4T24 e ter feito um resultado no ano equivalente a 2023, foi muito positivo.
Com relação ao Terminal de Vila Velha, ele passou 6 meses do ano “retrofitando” um dos seus principais equipamentos de berço, o que fez com que o terminal perdesse capacidade durante esse período, mas ainda sim ele fez um resultado fantástico. No 4T24, a receita líquida cresceu 60%, e no ano, 25%. O lucro não respondeu a essa variação porque, no 4T24, nós perdemos carga de containers e ganhamos carga geral, sendo que as melhores margens estão na carga de containers. Além disso, para que não deixássemos cair muito o nível de serviço do terminal, nós implementamos um turno extra, o que nos fez baixar um pouco a rentabilidade do negócio. Ainda assim, se você considerar que esse terminal operou com uma capacidade na casa de 90% ao longo de 2024, o que trouxe uma pressão de custo nesse contexto, o resultado foi muito positivo.
O rodoviário, que é a nossa última grande linha, deu prejuízo. Quando olhamos o ano, o resultado fica no 0x0 contra 2023, mas no 4T24 nós tivemos uma perda de resultado. Essa linha é composta por quatro sub-linhas, que são armazenamento, lotação, container e fracionado, sendo que as três primeiras deram resultado positivo, mas o fracionado está passando por um plano de sobrevivência para que possamos melhorar o fundamento do negócio e fazermos melhor a frente, já que essa torre de negócio tem uma grande sinergia com a navegação costeira. Isso porque a maioria dos operadores de cabotagem transportam containers fechados, ou seja, um para um, enquanto um caminhão com carga fracionada tem muitas cargas que vão para diversos clientes na ponta. Nós passamos a transportar esse tipo de carga com escala quando adquirimos a Tecmar há 3 anos e estamos subindo esses volumes ao longo do tempo. Esse foi o racional, mas essa é uma carga difícil de se trabalhar.
De um modo geral, foi um resultado consolidado muito positivo, ainda que tenha sido um ano super desafiador para a logística, mas nós tivemos duas cerejas no bolo que tornaram o ambiente ainda mais difícil, e que afetaram muito a nossa operação: o caos dos terminais portuários e a seca na Região Norte.
Quando você recebe um resultado da Log-in, quais são os primeiros números que você bate o olho para analisar?
Primeiro de tudo, a margem de contribuição por unidade de negócio e, eventualmente, por ativo. A margem de contribuição é quando você tira da receita os custos operacionais diretos para fazer aquilo. Esse é um indicador super relevante, porque ele vai mostrar a capacidade de alavancagem operacional dos ativos e de diluição de custo fixo. Traduzindo: na hora em que você tem uma margem de contribuição positiva e crescente no negócio, isso significa que você está conseguindo usar melhor a capacidade dos seus ativos.
Por exemplo, quando um navio vai operar uma rota, você vai para o mercado para enchê-lo de carga. Se olharmos o mix de preço, a carga que entra na largada é uma carga que paga um pouco menos. Como um navio tem um custo fixo alto para operar, até você chegar no ponto de equilíbrio, ou seja, quando a receita encontra os custos fixos, você perde dinheiro, já que a receita não está pagando nem os custos diretos, sobretudo os fixos. Essa é uma análise super importante que sempre fazemos, já que nós temos ativos que são muito caros e custosos para serem operados.
Analisando esse indicador, eu consigo entender se há alguma pressão no custo, sobretudo no custo fixo, que não conseguimos repassar no preço ou na tarifa, ou se, eventualmente, o mix de receita, a carga que está sendo transportada ou movimentada nos diferentes negócios da companhia, está piorando por algum motivo.
Outro aspecto que eu olho no resultado operacional é a sua composição, ou seja, quanto vem da cabotagem, do feeder e do Mercosul. Por exemplo, pensando no negócio de navegação costeira, a Log-In tem um hedge muito bacana, pois ela faz tanto operações de cabotagem, que é serviço de transporte de carga entre portos brasileiros, quanto o feeder. Explicando o que é o feeder. Quando um navio muito grande pára em um grande porto brasileiro, um hub port, ele baixa a carga no terminal portuário, sendo que essa carga sobe no nosso navio para que possamos levá-la para os outros terminais. Como isso ocorre tanto na ida quanto na volta dos nossos navios, nós chamados isso de feeder, sendo que essa carga está muito mais relacionada à dinâmica de importação e exportação do Brasil com o mercado exterior. Por exemplo, enquanto a cabotagem cresceu, em 2024, cerca de 10%, a Log-In cresceu pouco mais de 11%, sendo que o nosso negócio de feeder cresceu muito mais, o que fez com que ganhássemos muito market share.
Depois disso, é muito importante olharmos as despesas gerais para que elas sejam eficientes e ajudem a alavancar o resultado da empresa. Todo esse custo discricionário, como viagens, consultoria e áreas corporativas de prestação de serviço de back office, precisa estar muito bem controlado para garantir eficiência na última linha de resultado da companhia.
Por último, eu olho o resultado financeiro. Isso porque esse resultado pega um pedaço do resultado operacional, o que também se reflete na última linha da companhia, o lucro líquido.
Para uma companhia com a Log-In, o aumento da Selic favorece, atrapalha ou é indiferente?
Eu acredito que o aumento da Selic atrapalha todo e qualquer segmento produtivo do país. Eu sempre falo isso para todo mundo. Com uma Selic a 13,25%, isso significa que se você botar o dinheiro no banco ou investir em um título do governo, vai voltar algo próximo a 13,25%. Nessas condições, qual o estímulo que uma empresa tem para investir e tomar risco em um negócio da economia real? Para se fazer isso, você tem que ganhar bem mais que os 13,25%. Dessa forma, não há setor produtivo no Brasil que se sustente com uma Selic de 13,25%.
A Selic alta atrapalha o investimento, porque quando eu vou aprovar a aquisição de um novo ativo, como uma embarcação ou um caminhão, ou um projeto de expansão, como anunciamos recentemente no TVV, a taxa de desconto que vai ser usada para calcular o seu retorno está impactada pelo custo Brasil, que, no final das contas, está totalmente atrelado ao custo da Selic. No atual nível da Selic, isso inviabiliza muitos projetos, pois nem todo projeto tem um retorno muito mais alto que o atual patamar da Selic de 13,25% ao ano.
O segundo aspecto é que boa parte das empresas têm dívidas atreladas ao CDI, que anda pari passu com a Selic. Se uma empresa emite uma dívida no mercado de capitais, ela vai tomar recursos a CDI mais alguma coisa ou um percentual do CDI. Toda vez que a Selic subir, isso vai significar que a dívida que a empresa tomou lá atrás, em outro patamar da Selic, vai custar mais caro. É por isso que um aumento da Selic é sempre prejudicial.
É difícil entender o contexto de economia que temos hoje, com a Selic alta, inflação alta e dólar apreciado contra a moeda local. Quando tentamos explicar isso para alguém de fora, a pessoa não entende, já que deveria haver um binômio, ou seja, quando um sobe, o outro deveria descer, mas aqui é diferente. Às vezes, eles sobem juntos, o que cria um gargalo enorme do ponto de vista econômico para que a economia real avance.
Como a companhia avalia o desempenho das suas ações?
Nos últimos anos, as ações da Log-In tiveram uma recuperação muito grande depois que a companhia passou por uma situação financeira crítica em 2015/2016. Apenas relembrando, a Log-In fez IPO em 2007 como um spin-off de negócio da Vale do Rio Doce. A companhia foi uma das primeiras empresas de logística a ir para a Bolsa, ainda mais no Novo Mercado. Nos primeiros anos, o preço da ação, a valores históricos, foi muito positivo, mas a companhia foi perdendo rentabilidade até chegar a um ponto muito crítico em 2015 e precisar fazer todo um turnaround para sair do outro lado.
A ação acompanhou essa queda e atingiu patamares muito baixos em 2015/2016, mas dali em diante, ela se recuperou enormemente. Nos últimos anos, o ápice da ação foi atingido quando ela bateu R$ 51, mas agora ela está em torno de R$ 20.
Na nossa visão como companhia, o valor da ação está descontado, mas essa não é uma questão da Log-In, e sim do mercado, já que o movimento que aconteceu com a Log-In aconteceu com todas as empresas da economia real. Todas elas caíram de algum tempo para cá e amarguraram uma perda relevante no valor das suas ações, sendo que a explicação para isso não está nos fundamentos. Por exemplo, a Log-In tem melhorado seus fundamentos, seus ratings de crédito e sua liquidez. De uma forma geral, a companhia cresceu, melhorou a sustentabilidade dos seus negócios e diversificou e melhorou o seu resultado, mas se você olhar o valor da ação da Log-In com os seus fundamentos, a correlação não está fechando. Isso significa que o atual valor da ação da Log-In, que está depreciado, não é uma condição da companhia, mas sim do mercado.
Em 2027, a Log-In vai completar 20 anos de existência. Como é trabalhar com logística no Brasil?
Trabalhar com logística no Brasil é um desafio diário. A infraestrutura precisa ser modernizada, há muita burocracia, a regulação é complicada e muda sem tanta segurança jurídica, e os custos operacionais são altos. Por exemplo, há anos se discute a necessidade de se expandir a capacidade do Porto de Santos, mas só agora o governo decidiu fazer uma chamada pública para escutar o setor e botar o projeto na rua.
O caos dos terminais portuários é uma realidade, já que o Brasil não investiu no tempo certo. Na hora em que precisamos fazer o investimento para colher resultados na frente, nós não fazemos, mas quando dá o gargalo, nós corremos atrás.
Vamos pensar em termos de custos operacionais. Nós dependemos de marítimos para operar os nossos navios, mas quando projetamos o crescimento do país e dos diferentes setores que precisam de marítimos, nós vemos que vai faltar marítimos no futuro. Como vai haver menos gente disponível no mercado, isso vai fazer com que o custo suba.
Fora isso, existe, de uma forma geral, uma pressão crescente da sociedade por eficiência e sustentabilidade. Essa práticas estão no DNA da Log-In, que nasceu como uma empresa com uma governança muito forte, mas tudo isso é muito custoso, já que você precisa investir para ter mais transparência e compliance, para ser mais responsável socialmente e para ter ativos mais eficientes, que atendam a demanda para tornar os negócios mais sustentáveis. Essa pressão impõe um grande desafio para o setor logístico.
Nós fazemos essa agenda andar e trabalhamos na captação de oportunidades. Por exemplo, a própria sustentabilidade gera oportunidades para a cabotagem. Isso porque quando se compara a cabotagem com o seu principal concorrente, o rodoviário, ela emite 80 vezes menos gás carbônico por tonelada transportada. Assim, existe uma oportunidade para que possamos mostrar como o nosso modal é eficiente em termos de emissão de gases.
Eu falei um pouco dos desafios, mas a Log-In está investindo para melhorar, cada vez mais, a sua sustentação ao longo do tempo.
Como a companhia avalia as suas perspectivas para 2025?
O ano de 2025 é muito importante para que a Log-In possa solidificar a sua posição no mercado como operador de navegação costeira, seja no serviço de cabotagem, seja no feeder, de forma a que possamos seguir na nossa tendência dos últimos anos.
Com relação ao Terminal de Vila Velha, nós acabamos de anunciar uma expansão relevante. Esse é um projeto super importante, já que ele vai dar condições para que o terminal movimente cargas com mais qualidade e com melhor nível de serviço. Esse é um ano em que vamos colocar esse projeto de pé, mas já se apropriando do espaço a mais que conseguimos para o terminal.
Para o mercado de rodoviário, nós temos todo um plano de virada para trazermos o negócio de fracionado para o nível dos demais negócios da Log-In, fechando esse gap e melhorando a sua rentabilidade.
Por último, a Log-In vai se posicionar, cada vez mais, como um operador de logística integrada, indo para o mercado e oferecendo os serviços de navegação, transporte rodoviário, armazenagem e gestão de estoque como uma solução única para os nossos clientes.
Nós estamos animados com a possibilidade da Log-In avançar nessas frentes, mas em termos de macroeconomia em geral, 2025 ainda não será um ano muito animador. São muitos desafios macros, como crescimento, inflação, Selic, emprego, regulação e reforma tributária, mas nós vamos lidar com eles ao longo do ano.
Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?
A Log-In nasceu como uma empresa 100% brasileira, mas teve o seu controle comprado pela MSC, o maior operador de navegação de longo curso no mundo em termos de capacidade. A perspectiva de aprendermos e de gerarmos sinergia de negócios com o nosso controlador é muito positiva, vem nos ajudando nos últimos anos e vai continuar nos ajudando para a frente.