O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quarta-feira, que, em uma eventual taxação do governo dos EUA a produtos brasileiros, vai aplicar o princípio da reciprocidade.
“É lógico. O mínimo de decência que merece um governo é utilizar a lei da reciprocidade”.
O presidente norte-americano, Donald Trump, vem prometendo aplicar tarifas abrangentes a diversos países com superávit comercial com os EUA, como a China e até a parceiros mais próximos como México e Canadá. O Brasil vive situação oposta, tem déficit comercial, comprou mais do que vendeu aos americanos, e ainda não foi taxado diretamente, mas deve receber reflexos da guerra de tarifas.
Lula lembrou que a Organização Mundial do Comércio (OMC) permite a taxação de até 35% para qualquer produto importado. “Para nós, o que seria importante seria o EUA baixarem a taxa, e nós baixarmos a taxação. Mas se ele, ou qualquer país, aumentar a taxa de imposto para o Brasil, nós iremos utilizar a reciprocidade, nós iremos taxar eles também”, disse.
“Isso é simples, é muito democrático. Não há por que ficar tentando colocar uma questão ideológica nisso. O que eu acho é que o mundo está precisando de paz, de serenidade”, acrescentou o presidente, defendendo que “a diplomacia volte a funcionar” e que a harmonia entre os países seja restabelecida.
Para Lula, os EUA estão se isolando do mundo, mas também precisam de boas relações com outros países. “Nenhum país, por mais importante que seja, pode brigar com todo mundo o todo tempo”, disse, lembrando que o atual governo abriu 303 novos mercados para produtos brasileiros.
Lula também alertou que não se deve ter preocupação com as “bravatas” do presidente Donald Trump, já que “ninguém pode viver de bravata a vida inteira”. “É importante que a gente comece a selecionar as coisas sérias para que a gente possa discutir”, afirmou.
“Tem um tipo de político que vive de bravata. Então, o presidente Trump, ele fez a campanha dele assim, ele agora tomou posse, e já anunciou que pretende ocupar a Groenlândia, anexar o Canadá, mudar o nome de Golfo do México para Golfo da América. E já anunciou reocupar o Canal do Panamá”, acrescentou Lula.
Já segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) na atual conjuntura, marcada pelo protecionismo nos EUA, com tarifas sendo impostas a países da América do Norte e à China, além de previsões de medidas parecidas contra a União Europeia, reduzir tarifas de importação e promover iniciativas que facilitem o comércio – como rever as barreiras sanitárias e técnicas – contribuiriam para reduzir as pressões inflacionárias do País e aumentar a inserção do Brasil na economia internacional. O presidente Donald Trump, dos EUA, chegou a citar o Brasil em seus discursos, destacando as elevadas tarifas de importação impostas aos produtos norte-americanos.
“O momento atual é muito conveniente para adotar ações dessa magnitude, considerando a desvalorização cambial, o resultado do superávit da balança comercial no ano passado (o segundo maior da história) e a maior facilidade para a indústria – que apresenta níveis elevados de utilização da capacidade instalada – importar peças, componentes e insumos para aumentar a produção”, diz a federação.
Segundo a entidade, o país se manteve inerte frente às transformações ocorridas no comércio internacional desde a década de 1990, período marcado pela inexistência de uma política externa e comercial que contemplasse os principais interesses da economia nacional. Assim, enquanto grande parte das nações reduziu tarifas de importação sobre bens intermediários e de capital, permitindo o surgimento das cadeias globais de valor e de produtos made in world, o Brasil seguiu apostando no modelo de escalada tarifária, sob uma visão mercantilista de que exportar é bom e importar é ruim, o que culminou no chamado “adensamento das cadeias domésticas”.
“O resultado disso é um mercado fechado, com baixa produtividade e totalmente fora das cadeias globais de valor. Isso se vê nos números: a participação nacional na corrente do comércio (soma de importações e exportações) internacional variou em torno de 1,5% ao longo dos últimos 50 anos, revelando distorções, como o fato de estar entre as dez maiores economias do mundo, mas ter uma posição insatisfatória (25ª) no ranking de maiores exportadores e importadores do planeta. Além disso, o coeficiente de abertura comercial (corrente comercial/PIB) é inferior ao de países da América Latina, como Chile, Equador e Paraguai.”
Com informações da Agência Brasil