Lula: sobretaxas vão prejudicar os próprios EUA

Para especialista, 'Brasil vai ter que redirecionar suas exportações, ou então tentar aumentar o consumo doméstico de aço'

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Donald Trump (Foto: Mark Garten/ONU)
Donald Trump (Foto: Mark Garten/ONU)

Ao encerrar uma visita de Estado ao Japão, na noite de ontem, o presidente Lula concedeu uma entrevista a jornalistas e foi questionado sobre o anúncio, mais cedo, pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de uma nova sobretaxa de 25%, desta vez sobre os carros importados que chegam ao país norte-americano. A medida é a mais nova tarifa imposta pelo novo governo dos EUA no comércio internacional.

“O que o presidente Trump precisa é medir as consequências dessas decisões. Se ele está pensando que tomando essa decisão de taxar tudo aquilo que os EUA importam [vai ajudar], eu acho que vai ser prejudicial aos EUA. Isso vai elevar o preço das coisas, e pode levar a uma inflação que ele ainda não está percebendo”, disse Lula.

“Os EUA importam muito carro japonês e tem muitas empresas japonesas produzindo carro lá. Eu, sinceramente, não vejo o benefício de aumentar em 25% os carros comprados do Japão. A única coisa que eu sei é que vai ficar mais caro para o povo americano comprar. E esse mais caro pode resultar no aumento da inflação, e esse aumento da inflação pode significar aumento de juros, e aumento de juros pode significar contenção da economia”, acrescentou.

O presidente brasileiro confirmou que seu governo vai recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para tentar reverter uma outra tarifa imposta pelos EUA, a mais prejudicial ao Brasil até agora, que é a de 25% sobre a importação de aço e alumínio.

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“Da parte do Brasil, ele taxou o aço brasileiro do Brasil em 25%. Temos duas decisões a fazer. Uma é recorrer na Organização Mundial do Comércio, e nós vamos recorrer. A outra é a gente sobretaxar os produtos americanos que nós importamos, colocar em prática a lei da reciprocidade”, disse o presidente.

Segundo Lula, essa medida só será colocada em prática caso a queixa na OMC não seja eficaz para provocar uma negociação entre os dois países. O presidente voltou a lembrar que o fluxo comercial entre Brasil e EUA é ligeiramente favorável aos norte-americanos, e defendeu que as condições para o livre comércio mundial prevaleçam.

“Estou muito preocupado com o comportamento do governo americano com essa taxação de todos os produtos, de todos os países. No fundo, o livre comércio é o que está sendo prejudicado. Estou preocupado porque o multilateralismo está sendo derrotado e estou preocupado porque o presidente americano não é xerife do mundo, ele é apenas presidente dos EUA”, criticou.

A imposição de Trump de adicionar tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio entrou em vigor recentemente, reforçando a política protecionista e criando barreiras comerciais. O chamado “tarifaço” já começou a impactar o mercado financeiro brasileiro, derrubando as ações das siderúrgicas listadas na B3 e preocupando os especialistas de uma possível recessão global este ano. Logo após a oficialização, no dia 12 de março, os papéis de grandes companhias do setor registraram queda na abertura do pregão.

Por volta das 10h, as ações da Gerdau (GGBR4) recuavam 0,42%, sendo negociadas a R$ 16,92; os papéis da Usiminas (USIM5) caíam 0,68%, a R$ 5,84; e a CSN (CSNA3) tinha a maior perda do setor, com baixa de 1,42%, cotada a R$ 8,32. Nos últimos 5 dias, a Gerdau ficou em 1,36%, já a assim a Usiminas sofreu queda de -1,17%, e a CSN cresceu 16,99%.

Entretanto, os impactos das siderúrgicas listadas na B3 vão variar de acordo com o nível de exposição de cada empresa ao mercado. A Gerdau (GGBR4) deve ser a principal beneficiada pela nova tarifa, já que aproximadamente 50% do seu Ebitda vem das operações nos EUA. No entanto, todo o volume vendido no país é produzido localmente, o que pode mitigar parte do impacto positivo da medida. Isso significa que a empresa pode se beneficiar da redução da concorrência com produtos importados, impulsionando os preços na região.

“Esse cenário pode favorecer a companhia, pois reduz a concorrência externa e fortalece as siderúrgicas que produzem dentro dos EUA”, afirma Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos. No entanto, ele pondera que os produtos de aço longo que são uma das especialidades da Gerdau representam menos de 20% das importações totais de aço nos EUA, o que pode limitar os ganhos.

Outra ação que pode vir a sofrer alguns impactos é a Usiminas (USIM5), já que apenas 2,5% do seu Ebitda vem da América do Norte. No entanto, há um fator que pode beneficiar a empresa: como o Brasil fornece mais de 60% das placas de aço necessárias para os EUA, uma tarifa pode aumentar a disponibilidade desse insumo no mercado interno, reduzindo os custos da Usiminas. A CSN (CSNA3) , por outro lado, tem concentrado suas vendas no mercado doméstico, evitando recorrer a exportações nos últimos trimestres devido à vantagem dos preços internos. Assim, os impactos diretos da tarifa devem ser mínimos para a empresa. A Companhia Brasileira de Alumínio (CBAV3) também não deve sentir um impacto significativo, pois apenas 3% do seu Ebitda vem dos EUA.

O analista também alertou que, embora seja cedo para mensurar todos os efeitos da tarifa, a iminente guerra comercial não é favorável para o Brasil e para o mundo.

“As próximas semanas serão de cautela e entendimento por parte dos investidores. As empresas precisarão encontrar estratégias para se adaptarem a esse novo cenário”. A decisão de Trump também pode gerar desdobramentos políticos. O presidente Lula indicou que o Brasil pode adotar a lei da reciprocidade, elevando tarifas sobre produtos norte-americanos. No entanto, ainda não houve um posicionamento oficial do governo brasileiro sobre eventuais retaliações. “O Brasil vai ter que redirecionar essas exportações, ou então tentar aumentar o consumo doméstico de aço. O Brasil tem alternativas. É diferente do México e do Canadá, que são muito mais dependentes do mercado americano”, complementa Sidney Lima.

Com informações da Agência Brasil

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