Lula: “Vamos derrotar o impeachment e encerrar de vez esta crise”

103

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou hoje, em Brasília, uma mensagem ao país e aos deputados sobre a votação do pedido de abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pela Câmara dos Deputados, no domingo. Em sua mensagem, ele reafirma a confiança na vitória: “Vamos derrotar o impeachment e encerrar de vez esta crise”.
Lula diz que, a partir de segunda-feira, independentemente de cargos, estará empenhado, ao lado da presidente Dilma, para que o Brasil tenha um novo modo de governar.
– Nessa próxima etapa, vou usar minha experiência de ex-presidente para ajudar na reconstrução do diálogo e unir o país.
O ex-presidente passou a semana conversando com lideranças políticas para barrar o impeachment e alertou os deputados que o esforço para o país ser reconhecido como uma nação com instituições sólidas pode ser jogado fora no próximo domingo. Ele pede que os parlamentares não “embarquem em aventuras, acreditando no canto da sereia dos que sentam na cadeira antes da hora”.
– Quem trai um compromisso selado nas urnas não vai sustentar acordos feitos nas sombras. Eu estou convencido de que o golpe do impeachment não passará. Derrubar um governo eleito democraticamente sem que haja um crime de responsabilidade não vai consertar nada. Só vai agravar a crise.
Leia a íntegra:

“Meus amigos e minhas amigas,
Quero falar com vocês, e especialmente com os nossos deputados, sobre o momento histórico que o país está vivendo. Em 1988, aprovamos uma Constituição democrática, que restabeleceu a liberdade e o Estado de Direito, depois de 21 anos de ditadura.
E, a partir de 2003, como todos sabem, o Brasil mudou muito e mudou para melhor. Juntos, superamos grandes desafios econômicos, políticos e sociais. Juntos, vencemos a fome e começamos a reduzir a desigualdade. Derrubamos o muro que dividia o Brasil entre os que tudo podiam e os que sempre ficaram à margem da história.
Vocês sabem que foi preciso muito esforço, muito sacrifício, para o Brasil conquistar respeito e credibilidade diante do mundo. Para ser reconhecido como um país sério, com instituições sólidas e confiáveis.
Todo esse esforço pode ser jogado fora por um passo errado, um passo impensado, no próximo domingo. Os deputados têm de pensar com muita serenidade sobre isso. Uma coisa é divergir do governo, criticar os erros e cobrar mais diálogo e participação.
Este é o papel do Legislativo, que deve ser e será respeitado. Outra coisa é embarcar em aventuras, acreditando no canto de sereia dos que se sentam na cadeira antes da hora. Quem trai um compromisso selado nas urnas não vai sustentar acordos feitos nas sombras.
Eu estou convencido de que o golpe do impeachment não passará. Derrubar um governo eleito democraticamente sem que haja um crime de responsabilidade não vai consertar nada. Só vai agravar a crise.
Ninguém conseguirá governar um país de 200 milhões de habitantes, uma das maiores economias do mundo, se não tiver a legitimidade do voto popular. Ninguém será respeitado como governante se não respeitar, primeiro, a Constituição e as regras do jogo democrático. Ninguém será respeitado se não prosseguir no combate implacável à corrupção. É isso que a sociedade exige.
Meus amigos, minhas amigas. não se pode brincar com a democracia. A comunidade internacional já percebeu que o processo de impeachment não passa de um golpe.
São extraordinárias as manifestações em defesa da legalidade em todos os cantos do país. Elas alertam que, fora da democracia, o que vai existir é o caos e a incerteza permanente.
O Brasil precisa de paz e de estabilidade para retomar o caminho do desenvolvimento. Derrotado o impeachment, já na segunda-feira, independente de cargos, estarei empenhado, junto com a presidente Dilma, para que o Brasil tenha um novo modo de governar. Nessa próxima etapa, vou usar minha experiência de ex-presidente para ajudar na reconstrução do diálogo e unir o país.
O Brasil tem plenas condições de voltar a crescer, gerando empregos e distribuindo renda. Vocês se lembram: Foi graças ao diálogo que fiz um governo em que todos os setores ganharam.
É verdade que o Brasil e o mundo enfrentam hoje uma situação difícil na economia. É verdade que o governo tem falhas, que precisam ser corrigidas. Mas nós já fomos capazes de superar grandes desafios e saberemos fazer isso mais uma vez.
Todos nós sabemos qual é o caminho. É com responsabilidade, com maturidade, respeitando todas as forças políticas, os agentes econômicos e os movimentos sociais. Vamos reafirmar a credibilidade do país lá fora e resgatar, aqui dentro, a confiança que sempre tivemos no futuro do Brasil. Por isso, peço a todos que confiem na minha palavra e mantenham a defesa da democracia.
Vamos derrotar o impeachment e encerrar de vez esta crise. E juntos, novamente, vamos fazer do Brasil um país cada vez maior e mais justo, com oportunidades para todos.
Muito obrigado.”

PT reafirma que impedimento é golpe e diz que oposição não tem os 342 votos
Segunda maior bancada na Câmara, o PT é o segundo partido a defender sua posição na tribuna da Câmara nesta sexta-feira. O líder do partido na Casa, deputado Afonso Florence (BA), afirmou que, ao contrário do que se propaga no Congresso, a oposição não tem votos suficientes para que a Câmara autorize o processo.
– Não haverá uma eleição. Dilma não será derrotada e não será eleita a chapa Temer-Cunha, porque eles não têm, não tiveram e nunca terão os 342 votos “sim” – disse ao acusar o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), ambos do PMDB, de conspirar e tentar criar uma onda pró-impeachment.
Florence citou uma pesquisa do Instituto Vox Populi na qual, segundo ele, 58% da população se manifestam contra o impeachment.
– Por isso, esta velocidade toda do deputado Cunha para colocar esta votação. O que sustenta esta realidade não é o PT ou governo Dilma é uma consciência democrática de massa. Hoje, de um lado da foto estão os que sempre defenderam o regime militar e os contra são os que defendem a democracia.
O líder do PT exaltou os parlamentares dissidentes que não comparecerão à votação de domingo e os que deverão se abster para se proteger do que chamou de “sanha de ameaça” por se manifestar contrariamente à posição de seus partidos, favoráveis ao impedimento da presidente.
Vice-líder do governo, Paulo Teixeira (SP), afirmou que não há crime de responsabilidade e não haverá impeachment.
– Nossa constituição não prevê retirar um governo por baixa popularidade. Não existe voto de confiança que é próprio do parlamentarismo. Não há renúncia, não há novas eleições e não há impeachment. Isto não é impeachment, isto é golpe parlamentar contra a sociedade brasileira. Estão querendo tirar do povo brasileiro o poder de escolher o presidente da República.
Teixeira destacou que a Constituição define que para o impeachment de presidente da República é necessário que haja crime de responsabilidade e disse que esses crimes são classificados como os que atentam contra a Carta Magna.
– Quem atenta contra a Constituição, contra a democracia brasileira e contra o povo brasileiro são os que propõem o impeachement. Estes atentam contra a soberania popular – afirmou.
O deputado voltou a afirmar que o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) não tem fundamento jurídico ou comprova qualquer das acusações contra a presidente.
– Não vão conseguir. É podridão e da podridão não nasce o novo, não nasce esperança. Sem legitimidade não se pode querer governar o país – completou.

Espaço Publicitáriocnseg

Programas sociais – Benedita da Silva (PT-RJ) lembrou de sua história e ascensão social, destacando a importância de programas sociais para a população de mais baixa renda, implementados desde o primeiro governo petista, sob o comando de Luiz Inácio Lula da Silva. A parlamentar afirmou que crime de responsabilidade é deixar a população passando fome. Segundo ela, o partido, na sessão desta sexta-feira, está com a missão de defender homens e mulheres que marcharam até Brasília em busca de uma Constituição cidadã.
– É esta Constituição que estamos neste momento para cuidar, para que não seja rasgada – afirmou.
Numa fala direcionada para o povo brasileiro, destacou que para o país continuar crescendo não é preciso tirar uma pessoa “limpa e honesta que não tem dinheiro guardado em outro lugar”, fazendo uma referência a outros políticos, como o próprio presidente da Câmara, investigado por suspeitas de manter contas secretas no exterior.
– Não vai ter golpe, vai ter luta – disse o deputado João Daniel (SE), ao iniciar seu discurso. O parlamentar alertou que o país está correndo um “sério” risco de “caminhar para frente ou pelo retrocesso”.

Jovair diz que maioria da comissão o elegeu para relatar processo
O relator do processo, deputado Joavair Arantes (PTB-GO), rebateu hoje as acusações do líder do PT, Afonso Florence (BA), e do vice-líder do partido, Paulo Teixeira, de que ele foi indicado pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para relatar o processo.
– Quero dizer que tive 62 dos 65 votos na comissão especial. Os outros três deputados não votaram contra mim, mas se abstiveram – lembrou.
Quanto ao rito adotado, Arantes esclareceu que está seguindo à risca o que determinou o Supremo Tribunal Federal (STF).
O relator comemorou a decisão da Corte, que, em sessão que terminou na madrugada de hoje, confirmou as regras divulgadas por ele e pelo presidente da comissão especial do impeachment ,Rogério Rosso (PSD-DF).
– Ontem, o STF confirmou na integralidade todo o trabalho que eu e o deputado Rosso fizemos na comissão do impeachment – acrescentou.
Sobre a votação do relatório no domingo, Jovair Arantes fez uma provocação.
– Vamos ver quem está com a razão – afirmou o relator antes da abertura da segunda sessão do dia no plenário, que registrou a presença de 459 dos 513 deputados.

Cunha nega pedido de Cardozo para que defesa se manifeste domingo
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), negou hoje pedido do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, feito nesta sexta-feira para que a defesa de Dilma volte a se manifestar no domingo, após a leitura do parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO).
Defesa e acusação tiveram 25 minutos para se pronunciar na manhã de hoje. Cardozo usou todo o tempo e Reale Júnior, um dos autores do pedido de impeachment, discursou por 14 minutos. Cunha destacou que o tempo usado pela a defesa foi superior ao da acusação. O presidente da Câmara disse que a recusa do pedido do advogado-geral da União já foi respondida oficialmente. Cardozo apresentou este mesmo requerimento anteriormente, e Cunha negou considerando que a acusação era feita pelos subscritores da denúncia original. O argumento do ministro, agora, é que o Supremo decidiu que é o parecer da Comissão do impeachment que materializa a denúncia, então a defesa teria que falar depois do relator, na sessão de domingo, marcada para as 14h.
Segundo Cunha, a Câmara está seguindo o mesmo rito determinado pelo Supremo Tribunal Federal, em 1992, que resultou no impeachment do ex-presidente Fernando Collor. À época, segundo Cunha, o relator do processo foi o último a falar.
– Na comissão, foi permitido que isso ocorresse, mas foi uma liberalidade. Aliás, a liberalidade da comissão especial, embora contestada em ação judicial, foi além da conta – disse sobre as manifestações de Cardozo na comissão.
Eduardo Cunha também anunciou que vai negar um outro pedido de Cardozo. O ministro afirmou, no discurso desta manhã, que o presidente da Casa tem que pedir aos parlamentares que evitem, nos discursos, orientações de bancada e outras manifestações sejam incluídas acusações que não fazem parte do objeto da denúncia. O pedido de impeachment em análise na Casa está limitado a seis decretos de crédito suplementar que foram expedidos sem consulta ao Congresso Nacional e o atraso em pagamentos para bancos públicos, chamado “pedaladas fiscais”.
– Não posso cercear a palavra de quem quer que seja, ninguém vai cercear ninguém, não há essa possibilidade. No momento preciso, vamos votar o parecer, não há dúvida nenhuma quanto a isso – completou Cunha, que deixou o plenário.

Com informações da Agência Brasil

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui