Lâmpadas fluorescentes compactas: consumo e qualidade

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Tem sido muito divulgada a substituição das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes compactas, principalmente no ambiente doméstico. Como vantagem aponta-se a redução do consumo (Watts) para uma intensidade luminosa equivalente (lumens).
Tais lâmpadas necessitam de um dispositivo adicional denominado “reator”. Existem diversas alternativas para se fazer um reator, desde os antigos reatores eletromagnéticos, pesados, volumosos e, muitas vezes, ruidosos; até os modernos reatores eletrônicos. Pode-se também classificar os reatores dentre os de alto ou de baixo Fator de Potência.
Além do consumo (Watts) o Fator de Potência é também uma grandeza importante para qualificar um equipamento eletroeletrônico. O Fator de Potência (ao qual se associam valores entre 0 e 1) dá uma medida do quanto de energia que flui por uma instalação elétrica é efetivamente convertido na carga alimentada, ou seja, o quanto se transforma de energia elétrica em outra forma de energia.
Exemplificando, uma lâmpada incandescente transforma toda energia retirada da rede elétrica em calor (a maior parte) e luz, por isso seu fator de potência vale 1.
Já um motor de uma geladeira tem um fator de potência de aproximadamente 0,8; o que significa que uma parte da energia que circula pela rede elétrica não é convertida no “frio” interno da geladeira, nem no “calor” que aquece o motor. Embora esta energia não convertida pela carga (denominada “reativa”) esteja associada ao correto funcionamento deste motor (ou seja, o motor precisa dela para funcionar), o consumidor residencial não paga por ela, pois só lhe é cobrada a energia “ativa”, medida em quilowatt-hora (kWh).
Voltando às lâmpadas fluorescentes compactas, tipicamente o fator de potência destes dispositivos é em torno de apenas 0,5! Este baixo valor está associado à característica “não-linear” do reator eletrônico. Esta não-linearidade gera uma profunda alteração na forma da corrente elétrica do reator. Vale ressaltar, que a forma ideal de corrente é aquela produzida pela lâmpada incandescente.
Esta característica é extremamente danosa ao sistema elétrico, tanto que existem diversas normas internacionais que limitam a distorção da forma da corrente que um equipamento ou uma instalação industrial podem produzir.
Fazendo uma analogia para procurar entender este fato, imaginemos que um automóvel a gasolina use 1 litro de combustível para percorrer 15 km, poluindo o ar com uma certa quantidade de gases poluentes. Um novo motor poderia ser inventado que, com o mesmo combustível, permitisse percorrer 50 km! Sem dúvida, do ponto de vista do aproveitamento da energia seria uma conquista. Mas se este novo motor, em seu funcionamento produzisse 10 vezes mais gases nocivos, seria necessário ponderar melhor as vantagens sociais de sua aplicação. A solução talvez fosse introduzir um catalisador especial que fizesse a poluição cair para valores aceitáveis. E é claro que haveria um custo adicional para este catalisador especial.
As lâmpadas fluorescentes compactas são assim: consomem menos, mas “poluem” infinitamente mais a rede elétrica. Esta “poluição” certamente se reflete numa maior distorção da tensão presente na rede elétrica, podendo ainda levar ao surgimento de fenômenos ainda mais graves, afetando o funcionamento de outros aparelhos ligados à rede, além de introduzir perdas.
E o “catalisador”? Ele existe, mas não é usado, por causa do maior custo em relação aos demais reatores. São os chamados reatores eletrônicos com alto fator de potência.
Recentemente (1999) a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT definiu normas para reatores de lâmpadas fluorescentes, na qual as lâmpadas tubulares de potência acima de 60W necessitarão, a partir de 2002, do circuito de correção de fator de potência. Estas lâmpadas são aquelas normalmente usadas em escritórios.
Mas para as lâmpadas fluorescentes compactas e reatores de menores potências não existe nada! Nas condições atuais, a instalação de dezenas de milhões destas lâmpadas em substituição às lâmpadas incandescentes, como se vem anunciando, certamente aumentará a distorção presente na tensão fornecida aos consumidores e, além disso, pode conduzir ao surgimento de fenômenos extremamente danosos ao sistema elétrico.
Caso a substituição das lâmpadas se dê em um local em que a rede seja trifásica, um efeito imediato será o da significativa elevação da corrente do “fio” neutro, criando perigosos problemas de sobrecarga.
O alerta que a Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência – Sobraep – faz é que talvez não seja sensato estimular a massificação do uso das atuais lâmpadas compactas, uma vez que estas são enormes poluidoras (em termos elétricos).
É importante que os órgãos reguladores e as empresas fabricantes se esforcem para, à semelhança do que foi feito com as lâmpadas tubulares, especificar padrões de qualidade para as lâmpadas compactas, incluindo necessariamente a elevação do fator de potência com a conseqüente minimização da poluição da rede elétrica.

Sociedade Brasileira de Eletrônica de Potência -Sobraep Feec – Unicamp C. P. 6101 13081-970 Campinas – SP www.sobraep.org.br José Antenor Pomilio – presidente. Telefone: (19) 37883710

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