Mais de um terço do total de áreas urbanizadas do país se concentra no Sudeste

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Desigualdade social (Foto: Vladimir Platonow/ABr)
Desigualdade social (Foto: Vladimir Platonow/ABr)

Em 2019, o Brasil possuía 45.945 km² de áreas urbanizadas, o equivalente a 0,54% da área total do país. Mais de um terço (36,5%) do total de áreas urbanizadas do país se concentra na região Sudeste. É o que revela o estudo Áreas Urbanizadas do Brasil 2019, feito a partir da interpretação visual de imagens de satélite, tendo como referência o ano de 2019, e publicado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O mapeamento torna possível retratar e mensurar a distribuição e a extensão das manchas urbanas do país, bem como avaliar sua expansão.

“Se por um lado, todas as áreas urbanizadas do país caberiam no estado do Espírito Santo, por outro, o somatório de áreas urbanizadas do Brasil é maior do que países inteiros, como Dinamarca e Países Baixos”, compara Manuela Alvarenga, gerente de Observação da Cobertura e Uso da Terra do IBGE.

Das 27 unidades da Federação, 14 tinham menos de mil km² de áreas urbanizadas em 2019. Para este estudo, área urbanizada é toda mancha construída contígua que apresente aglomeração de residências, ruas e outras edificações em proximidade suficiente que permita relações de vizinhança e trocas cotidianas.

O estado de São Paulo detém 18,39% do total de áreas urbanizadas e loteamentos vazios (áreas com implantação de arruamentos, sem domicílios ou com poucos domicílios isolados) do território nacional, totalizando 8.614,62 km². Por sua vez, o Amapá é o estado com a menor área absoluta, somando 151,22 km² de áreas urbanizadas e loteamentos, o que representa 0,33% do total nacional.

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“As manchas urbanizadas no Brasil são bastante concentradas e se agregam em torno de si mesmas ou margeando a infraestrutura já existente, como uma estrada, por exemplo”, explica Manuela. “Seguindo o modelo histórico, a distribuição geral das áreas urbanizadas do país demonstra concentração no litoral”, completa a geógrafa.

Nos 443 municípios costeiros, que ocupam 5% da área oficial do território nacional, há uma extensão de 9.166,79 km² de áreas urbanizadas, cerca de 19% do total de áreas urbanizadas do país. Em contraste, ao longo dos municípios da faixa de fronteira, que somam uma extensão de 2.265.046,64 km² (cerca de 27% do território), há 3.803,20 km² de áreas urbanizadas (cerca de 8% do total nacional). Nestes, as maiores concentrações ficam nas zonas fronteiriças da região Sul do país e do estado de Roraima.

Ainda assim, a interiorização das áreas urbanizadas acontece, seguindo em grande medida um alinhamento com vias de circulação, como estradas e cursos de rios, o que é refletido na forma de muitas manchas urbanas. Exemplos desse fenômeno são a concentração urbana de São José dos Campos (SP), alinhada à Rodovia BR-116 (Presidente Dutra), e a concentração urbana de Imperatriz (MA), alinhada à Rodovia BR-010 (Belém-Brasília) e ao Rio Tocantins.

O estudo também considerou as proporções de densidade, dividindo as áreas urbanizadas estudadas em densas ou pouco densas – além de registrar os loteamentos vazios. Esta última categoria começou a ser observada na atual edição do mapeamento, e não constitui propriamente uma área urbanizada consolidada, mas sim um indicativo de tendência da urbanização. São áreas alteradas pela ação antrópica, presumivelmente destinadas a serem áreas urbanizadas, com arruamentos bem definidos e delimitados, mas sem edificações ou em quantidade insuficiente para classificação como área urbanizada pouco densa.

Da área total mapeada (48.052 km²) no país, 76,5% foram consideradas urbanizadas densas (manchas de ocupação urbana contínuas que apresentam maior proximidade entre as edificações, com poucos espaços vazios e grande capilaridade de vias); 19,1% pouco densas (edificações espaçadas entre si, típicas das áreas em processo de ocupação de periferias de cidades ou localidades afastadas dos centros urbanos); e 4,4% foram classificadas como loteamentos vazios.

“Onde há mais áreas densas, tende-se também a ter mais áreas pouco densas, pois são fenômenos associados do processo de expansão urbana”, comenta Manuela. A maioria dos estados segue um padrão de distribuição média entre 70% e 80% de áreas densas e 20% e 30% de áreas pouco densas, excetuando-se, por um lado, Piauí, Amazonas, Pará, Acre e Roraima, os quais possuem mais de 30% de suas áreas urbanizadas classificadas como pouco densas, e, por outro lado, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Distrito Federal com mais de 85% de suas áreas urbanizadas classificadas como densas. No caso do DF, essa proporção alcança 94,59%.

Os loteamentos vazios possuem distribuições mais variáveis. Contudo, na análise por Grandes Regiões, é possível notar o destaque da região Nordeste, com 826,19 km² de áreas de loteamentos vazios, ultrapassando em mais de 100 km² a segunda colocada, a região Sudeste, com 646,18 km² de áreas assim classificadas. Os destaques são os estados do Ceará (11,70%), Pernambuco (8,74%) e Piauí (8,49%), apresentando as maiores proporções de loteamentos vazios no total de áreas mapeadas. “Isso pode apontar uma tendência de expansão urbana recente nessas unidades da Federação, é preciso observar nas próximas edições do mapeamento”, argumenta Manuela.

Capitais

Segundo o estudo, entre as grandes concentrações urbanas, aquelas com população acima de 300 mil habitantes, que comportam as maiores áreas urbanizadas do Brasil, os destaques estão nas regiões das capitais estaduais, mas com algumas exceções, sobretudo no estado de São Paulo, como a concentração urbana de Campinas (SP) que, com 492,49 km² de áreas urbanizadas, está entre as dez maiores do Brasil. Concentrações urbanas são arranjos populacionais ou municípios isolados com população acima de 100 mil habitantes que apresentam alto grau de integração interna e processos de conurbação marcantes, entre outras características.

Apenas as concentrações urbanas de São Paulo (SP), composta por 37 municípios, e Rio de Janeiro (RJ), formada por 21 municípios, possuem extensões maiores do que mil km² de áreas urbanizadas, a primeira com 2.133,81 km² e a segunda com 1.693,80 km². Composta atualmente por 18 municípios, a concentração urbana de Curitiba (PR) foi a que demonstrou, no período analisado, entre as edições do mapeamento com os anos de referência 2015 e 2019, o maior crescimento total identificado no Brasil em termos absolutos (185,58 km²), uma adição de cerca de 32% em sua mancha urbana.

Entre as médias concentrações urbanas, aquelas com população entre 100 mil e 300 mil habitantes, Jundiaí (SP), com 241,84 km², e Ribeirão Preto (SP), com 188,97 km², figuram com as maiores áreas. Outro destaque paulista é São José do Rio Preto (SP), com 178,49 km², aparecendo entre as maiores no Brasil. Uberlândia, em Minas Gerais, é uma média concentração urbana em município isolado que se destaca com 172,85 km² de áreas urbanizadas.

De acordo com o IBGE, entre as 185 médias e grandes concentrações urbanas do Brasil, em comparação com a edição anterior do estudo, com ano de referência de 2015, a maior parte (95,38% do total de áreas de 2015) das áreas urbanizadas não sofreu alteração (19.095,90 km²). Quanto às alterações, observa-se que a adição de áreas urbanizadas foi o processo mais frequente (3.929,56 km²), representando um crescimento de aproximadamente 19% delas no período, seguido de densificação (531,40 km²) em 2,65% da área mapeada em 2015.

“Isso indica uma expansão continuada do fenômeno da urbanização no Brasil. Os processos de desdensificação e subtração não ocorreram em áreas significativas”, observa Manuela, acrescentando que o mapeamento de áreas urbanizadas é uma das variáveis-chave para a apreensão do fenômeno urbano. “Associada a informações de população, meio ambiente, economia, circulação e redes, dentre outras, apresenta grande potencial para o planejamento urbano do Brasil”, finaliza a geógrafa.

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