Diante de uma queda expressiva de 10% da renda per capita, que faz regredir o padrão de vida do brasileiro comum para níveis percebidos em 2008, devemos esperar uma década perdida – repetindo os fatídicos anos 1980. Some-se a isso a intensificação da Operação Lava Jato, com seus efeitos deletérios sobre o investimento e a geração de empregos na construção civil e nas indústrias naval e do petróleo.
Vivemos tempos de abertura de novas fronteiras de acumulação capitalista, e o Brasil oferece excelentes alternativas no agronegócio, energia renovável, óleo e gás. Diante disso, as elites políticas e empresariais brasileiras repetem o script das “saídas por cima” e buscam um “pacto” para estancar a crise que dá sinais claros de incremento do desconforto em todas as camadas sociais e sintomas de crescente contingente de manifestações de rua. Lucros em queda, empregos escassos, preços salgados, crédito contido e falência do modelo político estão na ordem do dia.
Brasil vive um processo político
de radicalização e polarização
Nesse contexto, o Brasil vive um processo político de radicalização e polarização, sem dúvida. É uma radicalização porque há um partido que ganhou e não consegue governar, e uma oposição que tem sua agenda de propostas para a superação da crise, mas não detém condições de alçar o controle das políticas públicas. Um lado não tolera o outro, não há espaço de negociação ou diálogo. É uma clara disputa de poder. No meio disso, também existe uma polarização de caráter ideológico.
A agenda conservadora aposta na redução dos direitos trabalhistas e previdenciários, na livre negociação entre capital e trabalho, na desindexação do salário mínimo, na simplificação tributária reduzindo impostos sobre atividades produtivas, no encolhimento dos programas sociais, no corte dos gastos públicos, no Banco Central independente e na abertura completa, tanto do comércio externo, quanto nas finanças.
A agenda social democrata defende o fortalecimento do investimento público em infraestrutura ambiental, econômica, energética e social, o fortalecimento do “welfare state” universalista, o controle estatal do petróleo, além de redistribuição da carga tributária (hoje muito concentrada nas famílias mais pobres) e prática de juros reais e nominais menores mediante a introdução de um regime de câmbio mais favorável à retomada do processo de industrialização.
A crise geral só vai recuar com o fim da intolerância e dos ressentimentos e com a introdução do diálogo na busca de saídas críveis e compatíveis com a correlação de forças políticas vigentes na nossa sociedade.
Ranulfo Vidigal
Economista.