Maldita fome de ouro

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Virgílio, o poeta romano, consagrou a expressão “auri sacra fames”, que significa “maldita fome de ouro” e é empregada para condenar a fome insaciável de riqueza (Virgilio, Eneida, III, 56-57). Bom lembrar-se, em uma época em que governantes insaciáveis na fome de poder confundem fome com magreza.

 

Eu vivo sempre no mundo da lua…’

Profético, em 1982, o músico Guilherme Arantes criou o sucesso Lindo balão azul (“Eu vivo sempre no mundo da lua…”). Ante a divulgação de números do desmatamento da Amazônia, o presidente do país preferiu ofender gravemente, a refutar, o diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), cientista Ricardo Magnus Osório Galvão, levantando suspeita de que este poderia estar a “serviço de uma (artigo indefinido – parênteses meus) ONG”.

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Dados do Inpe indicam que o desmatamento na Amazônia aumentou 88% em comparação com o mesmo período do ano anterior, alcançando a marca de 920,4 km². As áreas protegidas da Amazônia, que deveriam ter zero desmatamento, perderam o equivalente a seis vezes a cidade de São Paulo (SP), nas últimas três décadas. Fora das áreas protegidas, a Amazônia perdeu 39,8 milhões de hectares no mesmo período, representando 19% de toda a área de floresta natural não demarcada que havia em 1985, equivalente à perda equivalente de 262 vezes a cidade de São Paulo (SP).

No total de áreas protegidas, a perda acumulada foi de 0,5%, em 30 anos. O sorridente astronauta brasileiro Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, diante da balbúrdia provocada pelo presidente, chamou o presidente do Inpe, cientista Ricardo Galvão, para um puxão de orelhas. Consta que o ministro estava em trajes civis e não de astronauta.

 

Solidariedade ao pessoal do Inpe e seu diretor

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em defesa do Inpe e do seu diretor-presidente, Dr. Ricardo Galvão, emitiu a seguinte nota:

O Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, em reunião realizada no dia 20/07/2019, deliberou por unanimidade manifestar seu apoio integral ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe, dirigido pelo Dr. Ricardo Galvão, face às críticas do trabalho do Inpe de monitoramento do desmatamento da Amazônia brasileira, apresentadas em entrevista à imprensa internacional pelo presidente da República, Sr. Jair Messias Bolsonaro.

Conforme carta das principais entidades nacionais representativas da ciência brasileira, enviada ao presidente Bolsonaro no dia 10/7/2019 (OF. ABC-97/2019), a ciência produzida pelo Inpe está entre as melhores do mundo em suas áreas de atuação, graças a uma equipe de cientistas e técnicos de excelente qualificação, e presta inestimáveis serviços ao país. O diretor do Inpe, Dr. Ricardo Galvão, é um cientista reconhecido internacionalmente, que há décadas contribui para a ciência, tecnologia e inovação do Brasil. Críticas sem fundamento a uma instituição científica, que atua há cerca de 60 anos e com amplo reconhecimento no país e no exterior, são ofensivas, inaceitáveis e lesivas ao conhecimento científico.

Em ciência, os dados podem ser questionados, porém sempre com argumentos científicos sólidos, e não por motivações de caráter ideológico, político ou de qualquer outra natureza. Desmerecer instituições científicas da qualificação do Inpe gera uma imagem negativa do país e da ciência que é aqui realizada. Reafirmamos nossa confiança na qualidade do monitoramento do desmatamento da Amazônia realizado pelo Inpe, conforme a carta anteriormente enviada ao Presidente da República, e manifestamos nossa preocupação co m as ações recentes que colocam em risco um patrimônio científico estratégico para o desenvolvimento do Brasil e para a soberania nacional.”

 

Cachorro comparece a julgamento

Na Costa Rica, em 2017, quando ainda era filhote, o beagle Campeão (na época, Tyson) foi mantido amarrado por uma corda, que penetrou na carne de seu pescoço, além de sofrer com desnutrição, infestação de pulgas e falta de carinho. Após resgate, ele passou por tratamento e foi adotado. A antiga dona pode receber pena de três anos de prisão. O cão foi levado ao julgamento dela. Comportou-se muito bem, só latindo fora de hora no Tribunal uma vez.

 

Paulo Márcio de Mello é professor aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

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