Marketing verde: seqüestro de carbono ou de consciências?

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– No final de 2006, uma viagem de férias do então primeiro-ministro inglês aos EUA desencadeou uma onda de críticas, em decorrência da contabilidade de carbono emitido com o passeio da família. No início do ano seguinte, o governo inglês editou o Código de Boas Práticas de Compensação Voluntária de Emissões de Carbono, com o propósito de atribuir transparência às compensações.

– De acordo com o código, turistas britânicos poderiam pagar pelas emissões de seus vôos, comprando o equivalente em florestas tropicais (US$ 129 equivalem a 300m² de mata), ou substituir lâmpadas incandescentes (500 quilos de emissão de carbono, durante a vida útil).

– Do outro lado, estão organizações que defendem a limitação na origem das emissões de carbono. O que precisa ser mudado, portanto, é o estilo de vida. Mecanismos de compensação acabariam por estimular a promoção de mercadorias, contribuindo para incrementar as emissões e não para reduzi-las, substituindo o seqüestro de carbono pelo seqüestro de consciências.

– Pode-se dizer que a viagem da família do primeiro-ministro e a resposta política, representada pelo código, foram marcos do marketing verde que, neste novo ano de 2008, representa uma das maiores promessas de estrelar o cenário da responsabilidade sócio-ambiental empresarial.

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– De positivo, a polêmica descortina a necessidade de um posicionamento mais amplo da sociedade, em especial das empresas, quanto à adoção de medidas de contribuição para mitigar o impacto ambiental das atividades cotidianas. De negativo, o risco de apropriação irresponsável de uma bandeira da luta pela preservação da vida.

– O sistema econômico praticado pela maior parte dos países é o mais eficiente e, ao mesmo tempo, o mais ineficaz jamais realizado pelo Homem. É eficiente por que está cada vez mais baseado na produtividade dos fatores de produção. A quantidade de produto extraído por unidade dos fatores é cada vez maior.

– Por outro lado, podemos dizer que é ineficaz por que está rigidamente alicerçado em dois pressupostos equivocados. O primeiro é o de que o suprimento de insumos, a custos reduzidos, é ilimitado. O segundo equívoco é o de que os ecossistemas podem absorver indefinidamente todos os subprodutos e refugos dos processos produtivos.

– Esta é a equação que o marketing verde deveria contribuir para equilibrar: como obter resultados econômicos, sociais e ambientais simultaneamente, através de mudanças em produtos, processos, embalagens e propaganda. E não construir mecanismos que podem produzir os efeitos de um passaporte para incrementar resultados econômicos, sem a culpa de estar apostando em mecanismos de impacto insuficiente, como o pretendido seqüestro de carbono, através do anúncio do plantio de árvores.

Diversidade florestal irrecuperável
Estudo realizado por pesquisadores da Universidade de East Anglia (Reino Unido) e do museu Emílio Goeldi, de Belém, Pará (www.ambientebrasil.com.br), analisou informações sobre animais e plantas em cinco florestas primárias (mata virgem), cinco secundárias (crescem sobre áreas antes desmatadas) e cinco florestas de reflorestamento com árvores de eucalipto, no nordeste da Amazônia brasileira.
Os resultados revelam que pelo menos 25% das espécies analisadas não foram encontradas fora da mata virgem, apesar de as áreas de floresta secundária e reflorestamento analisadas ficarem relativamente próximas de florestas primárias, que servem de moradia natural para mais da metade das espécies terrestres do mundo. A pesquisa evidencia que é melhor preservar as florestas primárias do que realizar o reflorestamento das regiões devastadas.

Seminário nacional de Direitos Humanos
No final do ano passado, a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) realizou um seminário com vistas à criação do Sistema Nacional de Indicadores em Direitos Humanos. O banco de dados existente não é trabalhado de forma que permita uma interpretação sob a ótica dos tratados internacionais, como os acordos assinados em 1966, o Pacto dos Direitos Civis e Políticos, que trata da liberdade partidária, de imprensa e de voto, e o de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que envolve emprego, salário, distribuição de renda, habitação, saúde e educação.

Paulo Márcio de Mello
Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
[email protected]

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