Meio ambiente e ‘enchentes’

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As águas não só são essenciais à vida, como sempre prestaram grandes serviços ao homem. Facilitam o transporte de cargas e produtos, umedecem o solo e beneficiam as plantações, produzem energia, riqueza e ainda permitem aos homens momentos de lazer. Já nas primeiras décadas do século XX, Gilberto Freyre, sob uma perspectiva ecológica da sociedade açucareira, demonstrou preocupação com o tratamento dado aos rios pelo homem. Freyre chamou a atenção contra o lançamento das caldas de destilaria nos cursos d’água na região da mata no Nordeste brasileiro e ainda na primeira metade do século XX previa os problemas a serem causados pelo avanço do desmatamento pelos usineiros do açúcar, “despreocupados com as consequências sociais da ação que desenvolviam”.

A devastação das matas, a degradação dos solos e a transformação de rios em depósitos de dejetos, tão condenadas por Freyre em 1930 e, modernamente, por ambientalistas e pessoas ligadas à preservação ambiental, provocou, naturalmente, uma maior exposição do solo, inclusive das grandes cidades, à ação dos agentes meteorológicos. Atualmente percebe-se que a relação predatória do homem sobre a natureza tem avançado e interferido até mesmo em efeitos climáticos segundo Relatório da Organização Meteorológica Mundial.

Por esse prisma, eventos extremos, a exemplo de fortes tempestades, não podem mais ser atribuídos a fenômenos exclusivamente naturais, havendo previsão de tornarem-se mais frequentes. Em vista disso, é necessário que o meio urbano e rural estejam adequadamente preparados para lidar com seus efeitos e evitar que “enchentes” sejam sinônimos de tragédias como a que ocorreu no dia 8 de abril no Rio de Janeiro.

Por exemplo, nas grandes cidades, a impossibilidade de vazão regular das águas das chuvas pode ter inúmeras causas naturais, mas também causas determinadas pela ação humana. A impermeabilização dos solos urbanos pelo concreto que dificulta a drenagem e absorção das águas, o descarte inadequado do lixo que obsta a canalização e impede o fluxo normal das águas, a falta de limpeza e de monitoramento adequados de resíduos, o desmatamento das margens dos rios e encostas, o assoreamento dos rios, as construções irregulares em encostas, todos são fatores que contribuem para as enchentes.

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Há menos de um século das posições de Gilberto Freyre, o resultado não poderia ser mais desastroso. É necessário cobrar politicas públicas e ações estatais. Mas também é preciso considerar que atitudes simples podem ser adotadas por cada um de nós. O meio ambiente como direito e dever de todos previsto no art. 225 da CF, exige a participação consciente da sociedade civil para a sua preservação. Não se trata apenas de editarem-se leis evitando a venda de material plástico de embalagens ou de produtos descartáveis. Trata-se de preservar, prevenir e precaver para as presentes e futuras gerações. Enquanto se opta entre climatismo ou climatologia, é provável que mais uma grande “enchente” esteja por vir caso não haja a opção e o engajamento da sociedade, com certa urgência, pelo meio ambiente sustentável.

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