Cerca de 17% deixaram o emprego ou consideraram fazer isso devido aos sintomas
Um artigo publicado no portal Fast Company chamou muito a minha atenção. Escrito por Terry Weber, CEO de uma empresa de biotecnologia, o texto trata da evasão de milhões de mulheres do mercado de trabalho nos Estados Unidos, no pós-pandemia.
Entre os motivos para isso: custos altíssimos com cuidados infantis, responsabilidades com o cuidado da família, pressão ou esgotamento por conta dos malabarismos para dar conta de várias obrigações. O que mais surpreendeu foi tomar conhecimento que a menopausa e seus sintomas também são responsáveis por afastar as mulheres do mercado de trabalho.
Dados da pesquisa Mulheres e Mercado de Trabalho (Women in Workplace) realizada pela Biote, a empresa que Terry dirige, revelou que 4 em cada 10 mulheres apresentavam sintomas da menopausa que interferiam semanalmente em seu desempenho ou produtividade.
Cerca de 17% deixaram o emprego ou consideraram fazer isso devido aos sintomas da menopausa.
Segundo ela, o assunto ainda é cercado de tabu entre os próprios profissionais de saúde e também nas empresas. Mais de 87% das mulheres não falaram com o gerente sobre seus sintomas, seja por vergonha ou medo de discriminação. Apenas 34% sentiram que mulheres receberiam apoio caso abordassem o assunto no ambiente de trabalho. Mais de 50% disse que se estivessem pensando em trabalhar para uma empresa, buscariam aquelas com compromisso expresso de apoio a funcionárias com sintomas da menopausa.
Nunca sequer ouvimos falar desta questão no Brasil, mas imaginamos que a realidade não é muito diferente. E imaginar que em pleno século 21 a menopausa ainda é assunto de constrangimento, é de doer.
E mais. Pensadores atuais do mundo do trabalho e dos novos modelos de gestão falam na possibilidade de “se levar inteiro para o trabalho”.
Frederic Laloux, em seu livro Reinventando as Organizações, fala em 3 pilares das empresas TEAL, ou seja, aquelas que estão no nível mais alto de consciência e, portanto, respondem aos anseios por locais de trabalho com significado, autenticidade, colaboração e que tenha um sentido maior. Os pilares são autogestão, integralidade e propósito.
E o que vem a ser integralidade? Trata-se de levar nossa individualidade quando nos deslocamos para o trabalho, trata-se de abrir mão daquela persona, racional, sem falhas e sem emoções a que muitos fomos acostumados a vestir para ir ao trabalho.
E quer coisa mais humana do que viver os ciclos da vida? A menopausa – uma etapa natural da vida das mulheres – provoca muitas alterações hormonais e, portanto, mudanças corporais e emocionais. Claro que estas têm impacto também no trabalho e, para isso, precisamos criar espaços para falar disso também. E de tudo mais que nos toca viver.
Porque, na verdade, essa é só mais uma das discriminações de nossa sociedade que se reproduz no mercado de trabalho.
Enquanto não construirmos ambientes que acolham nossas inquietações e necessidades, não avançaremos.
Fica aqui um alerta e uma convocação para que todos com poder de influência nos ambientes profissionais façam sua parte na construção de um mundo do trabalho criativo e produtivo.
Jacqueline Resch é consultora e sócia-diretora da RESCH RH.