Menos que o necessário

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A prévia do PIB divulgada nesta sexta-feira demonstrou o óbvio que ninguém quer acreditar: a economia brasileira não tem fundamentos para crescer mais do que 1% ao ano. As projeções de incremento da economia de 2% e até 3% são mais torcida do que realidade, tecla que tem sido batida nesta coluna há muito tempo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, há poucos meses, falava que o crescimento seria lento, porém persistente! Mas a palavra lento parece até um eufemismo para lerdo, visto que o país parece não conseguir atravessar a fronteira da crise. Fica ali, engatinhando.

Segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central, indicador que dá uma espécie de prévia do desempenho do PIB brasileiro, o crescimento do ano passado foi de 0,89%. Se confirmado pelo IBGE, o desempenho do ano passado representará uma desaceleração na tímida retomada da economia pós-crise de 2015-2016. Nos dois anos anteriores (2017 e 2018), o incremento tinha ficado em 1,3%.

Não adianta mais dizer que a culpa é do PT. O impeachment é notícia velha. O fato é que não foram tomadas medidas necessárias para que a economia brasileira tenha fundamentos que levem ao crescimento. Na verdade, pouco foi feito, além de discursos mirabolantes e a Reforma da Previdência, que, por si só, não leva ao milagre da multiplicação do PIB.

Além disso, fatores atípicos impactaram diretamente na economia brasileira, como a crise da Argentina e a guerra comercial entre China e EUA. Houve ainda a tragédia do rompimento da barragem em Brumadinho. De acordo com a estimativa do presidente do Bacen, Roberto Campos Neto, tais fatores consumiram 0,67% do aumento do PIB do ano passado.

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Tais questões podem ter prejudicado o desempenho da economia, mas o maior problema não é esse. Derrapadas que consomem PIB acontecem todo ano, vide o Governo Temer com a greve dos caminhoneiros. Em essência, o debate não é se cresce 0,9%, 1% ou 1,5% e sim por que não crescemos mais de 2% de forma a recuperar o PIB destruído? A resposta é simples: não há política pública para a geração de renda. Pelo contrário, as medidas adotadas vão no sentido de reduzir a renda da população, vide a Reforma da Previdência.

Ao mesmo tempo em que a renda do brasileiro se contrai, há o aumento da desigualdade, o que também limita o crescimento econômico. Dados do IBGE, ainda referentes a 2018 demonstram que o rendimento médio mensal de trabalho da população 1% mais rica foi quase 34 vezes maior que da metade mais pobre em 2018. Isso significa que a parcela de maior renda arrecadou R$ 27.744 por mês, em média, enquanto os 50% menos favorecidos ganharam R$ 820. Já o Índice de Gini que mede a desigualdade de renda no rendimento domiciliar per capita obtido do trabalho subiu de 0,6279 em 2018 para 0,629 em 2019, segundo levantamento da FGV. Quanto mais perto de 1 o resultado, maior é a concentração de renda no país.

A falta de renda e a desigualdade limitam o consumo, e o PIB brasileiro é, pela ótica da demanda, bem dependente deste item. Na verdade, o consumo representa mais de 50% do produto. A propensão a poupar dos ricos é bem maior que a dos pobres. O indivíduo de mais baixa renda faz girar o dinheiro através do consumo e, desta forma, gira a economia. Sem medidas que vão nesta direção, a economia continuará crescendo menos que o necessário.

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