Trabalho: 72,4% das mulheres não creem em oportunidades iguais

Falta de flexibilidade, de oportunidades e discriminação em seleção são barreiras para mães; 60% das mulheres dizem ter mais dificuldades na carreira após maternidade

109
Pictograma de banheiro masculino maior que o feminino (Foto: J.C.Cardoso)
Pictograma de banheiro masculino maior que o feminino (Foto: J.C.Cardoso)

Pesquisa realizada pelo Infojobs trouxe à tona dados que reforçam um desafio ainda significativo no mercado de trabalho: a desigualdade de gênero: 72,4% dos entrevistados acreditam que mulheres e homens não possuem as mesmas oportunidades dentro das empresas.

Ana Paula Prado, CEO do Infojobs, acredita que “mesmo com uma maior presença feminina no mercado de trabalho, a equidade plena ainda está distante da realidade de muitas profissionais. Estruturas desiguais continuam refletindo diretamente nas carreiras das mulheres. A pesquisa revela como o mercado evoluiu em alguns aspectos, mas ainda não colocou em prática tantos outros pontos necessários para que as mulheres possam alcançar seu pleno potencial.”

Com a participação de mais de mil pessoas, o estudo revela outro dado alarmante: 66,7% das mulheres acreditam que a maternidade e fatores pessoais externos ainda influenciam negativamente suas chances de contratação ou promoção. Este é um reflexo claro de um cenário que muitas vezes não reconhece o valor do papel multifacetado das mulheres no ambiente de trabalho, em especial quando se trata da conciliação entre carreira e família. Para a executiva, é fundamental que as empresas implementem políticas que realmente compreendam e apoiem as realidades das mulheres, especialmente em relação à maternidade.

Entre os desafios específicos apontados pelas mulheres, destacam-se a falta de reconhecimento e oportunidades de crescimento (49,4%), a diferença salarial entre colegas do gênero masculino (38,1%), e a necessidade de provar mais suas competências do que os colegas homens (34,8%). Esses dados demonstram que, embora as mulheres ocupem posições significativas no mercado de trabalho, elas ainda são constantemente desafiadas a superar barreiras para atingir o mesmo nível de reconhecimento que os homens.

Espaço Publicitáriocnseg

A pesquisa também revela uma desconexão entre o que as empresas afirmam fazer e o que as mulheres realmente vivenciam. Embora 42,5% das companhias aleguem trabalhar ativamente em temas como combate ao assédio, equidade salarial e de oportunidades, mais da metade dos entrevistados (57,5%) acredita que essas questões ainda não são tratadas de forma eficaz. Para Ana, isso é um sinal claro de que as políticas corporativas precisam ser mais do que apenas discursos: precisam ser aplicadas de forma concreta e eficaz no dia a dia das organizações.

O estudo também evidencia que 66,3% das mulheres acreditam não ter oportunidades em cargos de liderança e investimento em seus desenvolvimentos. Este dado é seguido pela demanda por igualdade salarial e de oportunidades transparentes (55,5%) como uma das mais urgentes. Além desta, políticas de combate ao assédio e apoio à maternidade também são vistas como fundamentais para criar um ambiente mais igualitário e justo.

O Brasil ainda enfrenta uma grande desigualdade de gênero no mercado de trabalho. De acordo com dados do IBGE, embora as mulheres representem 44% da força de trabalho formal, elas ocupam apenas 30% das posições de liderança, um reflexo claro das barreiras institucionais e culturais que precisam ser superadas. Isso não é apenas uma questão de justiça social, mas também um imperativo econômico. Estudo da McKinsey aponta que, se as mulheres ocupassem a mesma quantidade de posições de liderança que os homens, o Brasil poderia adicionar até 12% ao seu PIB até 2025.

“As barreiras que ainda existem são muitos desafiadoras, mas também oportunidades de transformação. O mercado de trabalho brasileiro precisa disso, e esse processo começa com uma mudança cultural dentro das empresas, que devem ser cada vez mais comprometidas com a equidade de gênero. É essencial que companhias e governos invistam em políticas de inclusão práticas, ou seja, para além do discurso, e que assegurem a igualdade de oportunidades e a valorização das mulheres, não só em cargos de liderança, mas também em todos os níveis organizacionais. Só assim, as mulheres poderão realmente assumir o protagonismo em suas carreiras, contribuindo para um mercado de trabalho mais justo e para o crescimento econômico”, conclui.

Já pesquisa realizada pela Pluxee, que ouviu mais de 2.100 mulheres, apurou que 60% das entrevistadas já enfrentaram dificuldades no ambiente de trabalho por serem mães. Cerca de 27% relataram não ter tido suporte das empresas nesse momento.

Entre os principais obstáculos apontados estão a dificuldade em negociar jornadas mais flexíveis (42%), a perda de oportunidades de crescimento (33%) e a discriminação em processos seletivos ou no retorno ao trabalho (33%). Esses fatores não impactam apenas o desempenho profissional, mas também a saúde emocional dessas mulheres: 61% disseram já ter cogitado mudar de área ou deixar o mercado em função dos desafios enfrentados. Diante desse cenário, muitas encontram no empreendedorismo uma rota de reinvenção – e não à toa, a presença feminina cresce ano após ano no setor.

Além da experiência pessoal, a percepção coletiva confirma a recorrência do problema: 69% das entrevistadas conhecem ao menos uma mulher que passou por dificuldades profissionais após se tornar mãe. Outro levantamento da Pluxee, realizado por ocasião do Dia Internacional da Mulher, reforça esse panorama: 47% das participantes afirmam conhecer alguém que foi demitida ou perdeu o cargo ao voltar da licença-maternidade, e 42% acreditam que esse afastamento pode, sim, prejudicar a trajetória profissional – um dado que evidencia a distância ainda existente entre os direitos assegurados por lei e as condições reais enfrentadas pelas mães no retorno ao mercado de trabalho.

“A licença-maternidade costuma ser vista como uma pausa, mas para muitas mulheres ela representa uma travessia – um ponto de virada na vida e na carreira”, afirma Fabiana Galetol, diretora-executiva de Pessoas e Responsabilidade Social Corporativa da Pluxee.

Segundo ela, “o retorno ao trabalho, na prática, é muitas vezes um recomeço: exige readaptação, acolhimento e, acima de tudo, reconhecimento do valor e da potência que essas profissionais carregam.”

As entrevistadas também apontaram soluções claras para transformar essa realidade e o alcance de mulheres em cargos de liderança. Para elas, políticas de igualdade salarial (60%), transparência nos critérios de promoção e combate ao assédio (47%), flexibilidade de horários (45%) e programas de mentoria para mulheres (39%) são medidas fundamentais. Outras sugestões incluem treinamentos para reduzir o preconceito de gênero (38%) e licenças-maternidade mais inclusivas (33%), em um esforço coletivo por ambientes de trabalho mais acolhedores, diversos e equitativos.

Leia também:

Siga o canal \"Monitor Mercantil\" no WhatsApp:cnseg

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui