A cada R$ 100 consumidos no Brasil, R$ 72 vêm de grupos minorizados: negros, mulheres e pessoas LGBTQIAP+, segundo dados do Instituto de Pesquisa Locomotiva. Outra pesquisa da mesma entidade mostra que a população negra, que representa 54% dos brasileiros, movimenta R$ 1,9 trilhão em renda por ano.
É esse volume de dinheiro que o mercado financeiro e de investimentos está deixando na mesa quando não cria soluções e produtos para a baixa renda, concluíram especialistas que palestraram no segundo e último dia do Anbima Summit (encontro dos mercados financeiro e de capitais do Brasil) nesta quinta-feira, na Oca do Ibirapuera, em São Paulo.
“O racismo é uma burrice econômica. Se negros tivessem equiparação de renda com brancos, injetaríamos R$ 1 trilhão na economia”, diz Alan Soares, fundador do Movimento Black Money, hub de inovação da comunidade negra.
Renato Meirelles, presidente do Instituto de Pesquisa Locomotiva e fundador do Data Favela, dimensionou o tamanho da economia movimentada pela população de baixa renda. Há 72 milhões de brasileiros com renda bruta familiar de até três salários mínimos. As favelas do país contam com 18 milhões de moradores, o que seria equivalente ao terceiro estado mais populoso do Brasil, atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais. “Não aceito quando chamam a gente de carente. Favela é espaço de potência, seríamos o sexto estado mais rico”, diz Celso Athayde (abaixo), Fundador da Cufa (Central Única das Favelas) e da Favela Holding.
Para o presidente do Instituto Locomotiva, falta conhecimento para se desenvolver produtos para as classes mais baixas. “É mais fácil ensinar inglês para um empreendedor da favela do que ensinar como funciona a favela para um CEO que estudou em Harvard”, diz Meirelles. Segundo ele, isso mostra como o Brasil é “mais racista do que capitalista”.
Mapeamento
Pesquisadores do Instituto Locomotiva percorreram mais de 8 mil quilômetros Brasil afora para entender como a população investe. Algumas das pessoas ouvidas durante a pesquisa estiveram no palco do Anbima Summit contando suas histórias. Dona Ivete foi uma das convidadas a relatar sua história. Ela contou que precisou buscar alternativas para poupar uma vez que não encontrou instrumentos financeiros que funcionassem para a sua realidade. Mãe solo e única provedora de uma família com quatro filhos, o sonho dela era ter uma casa melhor. Foi aí que pensou então em um consórcio imobiliário, mas não viu sentido em pagar juros para uma instituição.
A outra opção disponível eram as “caixinhas na rua”, um sistema de financiamento comum em periferias do Brasil, em que um grupo de pessoas reúne recursos para oferecer empréstimos. Foi assim, de maneira informal, que ela começou a ver o dinheiro que guardava dar os primeiros rendimentos.
“Tem gente que pensa que não consegue guardar porque não ganha muito. Eu comecei com R$ 20 e, de pouquinho em pouquinho, vou dar algo melhor para minha família”, disse Dona Ivete, que anota todos os gastos da família em uma caderneta para controlá-los e, assim, fazer sobrar dinheiro no fim do mês. Quando há algum imprevisto e é preciso retirar recursos da “caixinha”, ela paga juros a si mesma no mês seguinte, entre 10% e 20% do valor retirado no período anterior
Matéria atualizada às 07h45 para inclusão de dados
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