O plano de redução de gastos anunciado pelo ministro Fernando Haddad foi recebido de forma negativa pelo mercado, e isso reflete problemas tanto na forma quanto no conteúdo da proposta. A afirmação é de Fernando Bento, CEO e sócio da FMB investimentos. Segundo o analista, o governo tentou combinar o anúncio de uma medida de controle de gastos com uma notícia de apelo popular: a ampliação da isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês.
“Essa abordagem, embora possa ter um apelo político, gerou incertezas. Quando o governo anuncia uma redução de receitas junto com um aumento de despesas potenciais, a mensagem transmitida ao mercado é confusa”, afirma
Bento explica que a compensação proposta, por meio da criação de uma alíquota maior para quem recebe acima de R$ 50 mil por mês, é questionável em termos de viabilidade política no Congresso. “Isso só aumentou a percepção de incerteza”, destaca. Do ponto de vista do conteúdo, ressalta o analista, as medidas também foram consideradas tímidas.
“Houve algum avanço no controle do crescimento do salário mínimo, mas ainda de forma muito limitada”. Segundo ele, o mercado esperava ações mais robustas, especialmente relacionadas a flexibilizações nas obrigações constitucionais com saúde e educação, áreas que consomem uma fatia significativa do orçamento e dificultam o ajuste fiscal. Sem essas mudanças estruturais, o governo permanece engessado em sua capacidade de controlar gastos.
Sobre o montante prometido pelo ministro – R$ 70 bilhões em dois anos – foi recebido com ceticismo. “Não ficou claro como essas medidas garantirão a economia estimada, e o histórico recente do governo em lidar com controle de gastos não inspira confiança”.
Para o analista, a decepção geral reflete a dificuldade do governo em demonstrar compromisso real com a disciplina fiscal, algo que o mercado considera essencial para a estabilidade econômica. “Essa combinação de erros na forma e na substância só reforça a percepção de que o governo enfrenta desafios significativos para executar um controle efetivo de despesas”, afirma.